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Xiquexique, minha terra, meu lugar!

4/25/2010

Valorizar e reconhecer as raízes étnico-culturais constitui a mais perfeita representação da aguçada consciência política e social que pode o ser humano consigo carregar. Comumente nos auto-deparamos a exclamar, de forma inconsciente, críticas direcionadas ao nosso povo e aos profissionais da política, mas esquecemos de vangloriar os ilustres representantes xiquexiquenses espalhados pelo mundo, que inevitavelmente posicionam a bandeira municipal como emblema. A história de Xiquexique revela-se dotada de brilhantismos - isso é bem mais perceptível através da oralidade - que os escritores hesitaram em registrar; embora não raro possam ser observadas, em algumas das maiores obras da literatura nacional, referências que classificam nossa cidade como “a pátria dos homens mais bravos e inúteis da nossa terra”.


Perorar batendo forte no peito para se intitular cidadão xiquexiquense negro, branco ou amarelo não serve de fundamento para a sustentação de uma pretensa identidade cultural constituída. Assim como um mandamento moral que nos é internalizado no subconsciente, a identidade não é algo que adquirimos em meio à absorção do conhecimento formal. Até porque há inúmeras coisas que não podem ser aprendidas, pelo simples fato de não poderem ser ensinadas. O estudo científico, se somado à sabedoria popular, é determinante para a formação da consciência social e política, que servirá de espelho para o reconhecimento e valorização das nossas raízes étnico-culturais afro-indo-européias. Essa sim é condição sine qua non para a constituição da identidade cultural.


Os xiquexiquenses somos muito pessimistas. E isso, sem sombra de dúvidas, reside justamente nesta falta de identificação. Antes mesmo de refletirmos acerca do nosso perfil de membros de um corpo social - e que, portanto, temos o dever de nos compromissar também com o próximo - apenas nos preocupamos em desfechar críticas inconscientes contra a apatia política do nosso povo, principalmente à juventude, e a falta de compromisso de alguns representantes. Esquecemos facilmente de vangloriar os queridos professores, importantíssimos para a nossa formação pessoal. Cito aqui apenas os que primeiro e sempre me afloram à memória: Lígia Santos, Josenilda (história), Doraci Novolina, Ligian, Eunice Rejane, Sérgio Nogueira, Nádia Dourado, Dílson, Tásio Bessa e Candinho (língua portuguesa). Por que não homenagearmos o “imortal” Mestre Gil? Que deixou seu legado artístico em diversas cidades do Brasil, simultaneamente vivendo pouco, e com bastante intensidade. É imprescindível citar aqui também, nosso mais novo astro, Sidney, o Sidny, hoje jogador do futebol italiano, destaque do campeonato nacional e um dos maiores orgulhos do futebol pernambucano na atualidade. Ao ler a revista Caros Amigos, edição de agosto de 2007, deparei-me com uma sessão fotográfica de João Machado, ganhador de prêmios em concurso nacional de fotografia, em Guarulhos (SP); na minha ótica, um ilustre desconhecido xiquexiquense, mas que estampa em si a naturalidade sertaneja. Infelizmente, temos de ficar por aqui com as referências, pois o espaço é pequeno para o grande número de ilustres profissionais das mais diversas áreas - entre juízes, advogados, médicos, jornalistas, professores etc - espalhados pelo mundo, e que cumprem sua função social de maneira digna e caprichosa.


Quanto ao brilhantismo histórico, Xiquexique – além de ter sido sua história muito bem profundamente estudada pelo ilustre professor Cassimiro Machado - consegue emplacar em capítulos de alguns dos maiores clássicos da literatura nacional. Em Os Sertões (pág. 238), Euclides da Cunha toma nossa Ribeirinha sertaneja como tendo sido “lendária nas campanhas eleitorais do Império”. Diz que “não há traçá-la em meia dúzia de páginas. O mais obscuro daqueles arraiais tem a sua tradição especial e sinistra”. Mais adiante (pág. 239) continua, registrando dessa vez uma decadência política e econômica daquela região: “Pilão Arcado..., Xiquexique, onde durante decênios se digladiaram liberais e conservadores... Delatam esse velho regime de desmandos. São lugares onde se normalizou a desordem esteada no banditismo disciplinado”. Ao que conclui com o entendimento de que a campanha histórica de Canudos despontou da convergência espontânea de todas estas forças desvairadas, perdidas nos sertões. João Ubaldo, em Viva o Povo Brasileiro (pág. 536), refere-se à nossa cidade como tendo sido foco de insurreição contra o regime militar, e posteriormente de contestação ao sistema capitalista. Afora o que se tem registrado de forma espaçada, a oralidade - como sempre, essencial para a construção da história - ensina muito mais. Basta passar uma tarde em conversa informal com alguém no afã da terceira idade, que ele ou ela contará de maneira detalhada acerca dessa tradição política, que parece permanecer, ao longo das décadas, porém com os representantes do que seria o partido liberal, a esquerda, se dispersando na disputa contra o partido Conservador. A classe estudantil, como é visível, não participamos desse processo. Talvez os “anos de chumbo” da ditadura militar tenham abafado, em parte, o sentimento de contestação dos estudantes xiquexiquenses. Mais determinante ainda é a geografia estadual, aliada à ausência de alternativas institucionais de educação superior vocacionadas e de qualidade, que nos mantém distantes dos centros de discussão política municipais.


Percebe-se, portanto, que necessário é buscarmos, desde já, uma formação pessoal humanitária, que vise nos aproximar cada dia mais das nossas raízes étnico-culturais. A história de Xiquexique precisa ser interposta nos currículos escolares, com vistas a formar no nosso povo uma consciência social, que atuará de forma definitiva no seu desenvolvimento econômico, político e cultural. O mesmo Euclides da Cunha nos intitula como sendo “a pátria dos homens mais bravos e inúteis da nossa terra”. De agora em diante, resta-nos trabalhar no sentido de permanecermos: Bravos, sim! Inúteis, nem tanto! Assim como os ilustres personagens históricos do passado e do presente, alguma contribuição devemos dar para a construção da cidade dos nossos sonhos. A Pasárgada sertaneja!


Diogo Santiago da Costa,
Acadêmico de Direito da Ufba.

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