De volta ao rio Samburá

Cidade de 3.500 habitantes, Medeiros fica aproximadamente a 300 quilômetros de Belo Horizonte. Aqui se localiza o exuberante Parque Nacional da Serra da Canastra com as suas paradisíacas cachoeiras com destaque laureado para a esplendorosa cachoeira Casca d’Anta. Desta vez, como se observa, o nosso destino não seria o Parque, mas a nascente do rio Samburá no Planalto de Araxá, entrecortado de cânions, no mesmo município de Medeiros, local que seria a verdadeira nascente do Velho Chico.

Desde criança aprendi nas Escolas Reunidas Cézar Zama, que o rio São Francisco nasce na Serra da Canastra. No entanto, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco (CODEVASF) aposta, defende e jura de pés juntos que o rio São Francisco é um mero afluente do Rio Samburá e a sua origem não se dá na Serra da Canastra, como havia defendido, até a morte, o engenheiro alemão Henrique Halfeld que virou até nome de vapor talvez por ter sido contratado pelo Imperador D. Pedro II, para elaborar um estudo sistemático sobre o Velho Chico, usando as técnicas do século XIX.

Contemplando a serra da Canastra e a paradisíaca cachoeira Casca d’ Anta, recuso-me a admitir a façanha do rio Samburá cuja mineirice esbarra no meu sotaque baiano-xiquexiquense, relevando, ainda mais, que meus ancestrais, índios Tapuias, foram barranqueiros do antigo Opará e plantadores de mandioca nos lameiros da ilha do Miradouro onde eu louvo a Nossa Senhora Sant’Ana, rezando para que a respectiva igreja seja tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional .

Nasci nadando e atravessando a Ipueira e fui agraciado com honra ao mérito de remador de paquete do Mocambo do Vento até o riacho do Icatu, descendo o rio. Assim, literariamente, com hipotética carta de recomendação da festejada ALEXX- Academia de Letras de Xiquexique, permito-me a discordar do que se viu nas fotos clicadas pelo satélite da CODEVASF, em convênio com a EGC, ao vislumbrar que o rio Samburá é o protagonista e o Velho Chico, o coadjuvante. Quiçá seja tudo isto uma ilusão de ótica!

Nilson Machado de Azevedo

nilsonazevedo@globo.com