Nau portuguesa |
Verdade seja dita: nosso ilustre e oficial descobridor, o português Pedro Álvares Cabral, era uma figura, assim, meio sem graça. Até 1500, nunca havia pilotado um navio, nau ou caravela (os pormenores técnicos da viagem ficaram por conta de seus subordinados). Também há indícios de que não fosse um sujeito dos mais brilhantes. E hoje, quase ninguém acredita que ele tenha sido o primeiro navegador a chegar ao Brasil – e muito menos que ele tenha chegado a Terra de Vera Cruz “por acaso”.
O maior concorrente de Cabral ao título de descobridor foi um personagem digno de filmes de aventura: o também português Duarte Pacheco Pereira. Ele ficou famoso exercendo uma das profissões mais requisitadas pelo mercado de trabalho da época: a de cosmógrafo, mistura de geógrafo, matemático e marujo – desenvolveu cálculos que lhe permitiam localizar melhor do que ninguém a posição de longitude da embarcação. Era também um guerreador famoso pela valentia no campo de batalha, como na ocasião em que combateu e derrotou exércitos na Índia comandando um punhado de soldados e marinheiros. Celebridade lusitana, foi transformado em personagem de Os Lusíadas, o celebérrimo poema épico de Luiz Vaz de Camões. .Em 1498, o rei dom Manuel I encarregou esse marinheiro multifuncional para uma missão ultraconfidencial: descobrir se as terras encontradas por Cristóvão Colombo do outro lado do Atlântico faziam mesmo parte da Ásia. Pacheco deveria navegar até a linha de Tordesilhas, fronteira diplomática traçada por portugueses e espanhóis para dividir as terras recém-descobertas – ou ainda por descobrir.
Durante séculos, ninguém mais teve conhecimento sobre Pacheco, até que em 1882 foi publicado em Portugal um livro intitulado "Esmeraldo de Situ Orbis" ou, se desejarem, Tratado dos Novos Lugares da Terra, obra assinada pelo próprio Pacheco mas desconhecida do público, até então. Eis um trecho: “No ano de Nosso Senhor de 1498, Vossa Alteza nos mandou descobrir a parte ocidental, passando a grandeza do Mar Oceano, onde é achada e navegada uma vasta terra firme, grandemente povoada”, relata o navegante, que diz ter avistado nas praias desconhecidas uma multidão de “gente parda, mas quase branca”. “Mar Oceano” era outro nome para o Atlântico e a descrição dos nativos bate com a tribo dos aruaques, que tinham pele parda, mas bem mais clara que a de povos considerados “escuros” pelos europeus na época,
como africanos, indianos – mesmo entre os indígenas brasileiros, os aruaques são considerados os que têm a pele mais próxima do branco.Pesquisas arqueológicas feitas nos anos 90 revelaram que a tribo era muito numerosa no século 15, o que explicaria também a menção a “terras grandemente povoadas”. Outro pormenor é que os aruaques povoavam o litoral do Maranhão, por onde passava o traço invisível do Tratado de Tordesilhas.
Desembarque |
A tese de que Duarte Pacheco Pereira esteve no Brasil em 1498 foi defendida pelo não menos português Jorge Couto, em A Construção do Brasil, de 1995 – na época, muitos historiadores reclamaram que a teoria estava baseada em um punhado de frases ambíguas. Ainda hoje, não há 100% de certeza quanto às andanças. “É plausível que Pacheco tenha estado no Brasil antes de Pedro Álvares Cabral e que a Coroa portuguesa tenha preferido manter o achado em segredo”, diz Leandro Karnal, especialista em história da América Latina da USP. “Os reis de Portugal mantinham em grande sigilo as navegações. Divulgar rotas marítimas era crime punido com pena de morte.”
Outro aventureiro famoso que pode ter lançado âncoras em nossas praias antes de Cabral foi o geógrafo e marujo italiano Américo Vespúcio, que entrou para a história ao desmentir as teorias de seu conterrâneo Cristóvão Colombo. Em 1504, Vespúcio publicou um texto chamado Novus Mundus, garantindo que as terras no oeste do Atlântico não eram parte da Ásia, mas um continente completamente desconhecido – “um novo mundo”, como diz o título em latim. Você já deve ter notado que a região foi batizada de América – e não, digamos, Colômbia – em homenagem a Vespúcio, o verdadeiro descobridor do Novo Mundo para seus contemporâneos. Já o cabeça-dura Colombo jurou até o fim da vida que havia chegado à China ou à Índia – a teimosia arruinou sua carreira e ele morreu pobre, esquecido e amargurado.
Lisboa: Torre de Belém e o rio Tejo |
Todas essas hipóteses datam a descoberta do Brasil em algum momento no fim do século 15. Para o inglês Gavin Menzies, porém, a costa do nosso país havia sido mapeada 80 anos antes. Vamos rebobinar a fita de 1500 para 1421, quando a China dominava os mares nunca dantes navegados..
O fim dessa história todos nós sabemos. O Brasil foi inventado, dezenas de anos depois do "achamento", para plantar cana-de-açúcar, criar gado, exterminar os índios selvagens, escravizar negros africanos, explorar o ouro e estabelecer a propriedade privada da terra através de capitanias hereditárias e imensas sesmarias. Poderia ter sido diferente, mas não foi. A história que se conta hoje é a história dos vencedores. A história que se conta é a de Cabral, Martim Afonso, Tomé de Sousa, Duarte da Costa, Mem de Sá, das capitanias e das sesmarias. Índios, degredados, posseiros, negros, pequenas posses de terra e os demais vencidos não tem história para a historiografia, mas ainda podem resgatar um dia a sua própria história.
O fim dessa história todos nós sabemos. O Brasil foi inventado, dezenas de anos depois do "achamento", para plantar cana-de-açúcar, criar gado, exterminar os índios selvagens, escravizar negros africanos, explorar o ouro e estabelecer a propriedade privada da terra através de capitanias hereditárias e imensas sesmarias. Poderia ter sido diferente, mas não foi. A história que se conta hoje é a história dos vencedores. A história que se conta é a de Cabral, Martim Afonso, Tomé de Sousa, Duarte da Costa, Mem de Sá, das capitanias e das sesmarias. Índios, degredados, posseiros, negros, pequenas posses de terra e os demais vencidos não tem história para a historiografia, mas ainda podem resgatar um dia a sua própria história.
9 comentários:
Pelo que entendi Portugal era a potência econômica na época dos
22/4/12 12:17Descobrimentos. Daí fez a propaganda pra Pedro álvares Cabral e a coisa pegou.É como os Estados Unidos que botou na cabeça de todo mundo que um americano pisou na Lua. Conversa fiada igual a dos portugueses. Um dia vai se provar que os americanos estavam mentindo sobre a conquista da Lua igual aos portugueses com o descobrimento do Brasil.
Tenho dito.
Gal vc tá de parabéns por essa matéria no dia de hoje que se comemora o descobrimento do Brasil. Gal vc aqui tá demonstrando que tem cultura. Morram de inveja situação dos puxa.Gal vai ser o meu vereador.
22/4/12 13:05O A Voz tem vários colaboradores, e os crérditos vão para todos que ajudam a manter este veículo.
22/4/12 17:12No caso deste matéria, foi postada por Nilson Machado.
Hoje o prefeito de Irecê, José Carlos das Virgens, foi agraciado com o prêmio, PREFEITO EMPREENDEDOR, e não foi comprado, não. Foi conquistado. CADÊ o prefeito de Xiquexique, que não recebeu, não foi lembrado. Quando a coisa é seria o prefeito de xiquexique, fica de fora.....Adeus Mariana que eu já vou embora
22/4/12 18:50Realmente não deve ser comprado!! o prefeito de irecê só compra testemunhas. kkk
22/4/12 20:24o Brasil caiu como uma luva para o excesso de bandidos lusitanos.
22/4/12 22:27Os processos judiciais eram bem eficazes em degredar essa gente. Aproximadamente 90% dos criminosos comuns e dos hereges de Portugal eram despachados para o Brasil. E no Brasil, 99% da população era formada por degredados, o que explica a imensa quantidade de bandidos no país. Não é de hoje que somos obrigados a conviver com ladrões na política,a maioria descendentes de portugueses
O pref. de XX é um dos melhores prefeito da BA. Kera o Gov. ou ñ.
22/4/12 22:36Gostei mas tem um porém. O de XiqueXique poderia até não comprar testemunhas, mas compra sim. ele compra com o dinheiro do povo além de testemunha, compra os rebanhos de puxa-sacos, compra voto, compra a liberdade do cidadão, compra o cala-bôca de muita gente daqui, compra até uns que nao precisam ue todo mundo sabe quem são.
23/4/12 00:02É eleitora de Gal, ele é cheio de cultura mesmo que nem segundo grau tem! que culto kkkkk.
25/4/12 09:29Postar um comentário
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