Miriam Leitão e Carlos Aberto Sardenberg não devem estar
chateados somente com as alterações nos seus perfis no Wikipédia. Há muito
tempo eles garantem na Rede Globo – uma propriedade cruzada que inclui jornal,
revista, telejornais e outros veículos – que a inflação no país vai explodir.
Juraram que esta hecatombe ocorreria em 2011, em 2012, em 2013 e, com certeza
absoluta, em 2014. Na sexta-feira (8), porém, o IBGE divulgou a inflação do
mês de julho, que atingiu o menor patamar dos últimos quatro anos e não
estourou o absurdo teto da meta fixado pelo Banco Central (6,5% ao ano). Depois
os dois famosos “analistas do mercado” ainda reclamam de algumas verdades
descritas no Wikipédia.
A informação oficial, que desmoraliza novamente os
“urubólogos” da mídia rentista, não virou manchete nos jornalões e nem foi
destaque nos telejornais. Segundo o IBGE, o IPCA subiu apenas 0,01% em julho,
diante de 0,4% em junho. Esta queda não ocorria desde julho de 2010. Entre as
causas da redução, estão os preços dos hotéis e das passagens aéreas que
despencaram após o término da Copa. Como já era previsto, também houve queda,
pelo segundo mês consecutivo, dos preços dos alimentos. Esta notícia positiva, porém,
não inibe os “analistas de mercado” – nome fictício dos porta-vozes dos
agiotas. Eles seguem exigindo medidas duras contra a inflação, mesmo que isto
signifique recessão e desemprego.
Na prática, a oligarquia rentista, com a ajuda da mídia,
faz terrorismo para forçar o governo a elevar os juros, cortar os gastos
sociais e ampliar a libertinagem financeira. Num primeiro momento, a presidentae Dilma Rousseff até enfrentou esta gritaria dos banqueiros, adotando medidas de
ampliação do crédito ao consumo e de restrição à especulação. Durante vários
meses, o Banco Central também reduziu a taxa básica de juros, a Selic, que
baixou para 7,25% ao ano. Diante do agravamento da crise internacional e da
pressão da ditadura financeira, porém, o governo recuou e voltou a elevar os
juros – agora em 11%. O resultado foi a redução do consumo, a queda da produção
e a diminuição na geração de emprego.
Em junho último, por exemplo, o emprego industrial caiu 3,1% na comparação com junho do ano passado – a 33ª queda consecutiva e a retração mais intensa desde novembro de 2009. Segundo o IBGE, também foram verificadas perdas no número de horas pagas e no valor real da folha de pagamento na passagem do primeiro para o segundo trimestre. “No ano, o indicador relativo ao número de horas pagas pela indústria acumula queda de 2,9%. Em 12 meses, a retração é de 2,3%. Comparando o resultado de junho com igual mês de 2013, o IBGE revelou que as taxas foram negativas em todos os 14 locais pesquisados e em 16 dos 18 ramos pesquisados”, descreve o jornal Estadão.
Estes dados preocupantes decorrem, principalmente, do recrudescimento da política monetária ortodoxa de elevação da taxa de juros. Mesmo assim, os agiotas financeiros, a mídia rentista e os neoliberais de plantão – como Aécio Neves, o cambaleante presidenciável tucano – exigem a adoção imediata de “medidas impopulares”. Os mesmos “calunistas” da velha imprensa, que juraram que a inflação iria explodir, voltam à carga para criticar a “estagflação” e para exigir a volta do famoso “tripé neoliberal” – juros altos, superávit primário e libertinagem cambial. Diante deste cenário, parece puro factoide político, com objetivos eleitoreiros, todo o escarcéu sobre as alterações em alguns perfis do Wikipédia.
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