Há
um desconhecimento profundo sobre as forças políticas e econômicas
que a candidata do PSB, Marina Silva, representa e o que define como será
o seu governo. Marina surfa no populismo da antipolítica, escondendo os projetos de poder que há por
trás de sua candidatura.
Em
2010, ela foi poupada pelos outros oponentes de ter que explicar seus ônus ao
eleitor – pois todos queriam o voto de seus eleitores no segundo turno. Muita
gente votou nela no escuro, sem cobrar posições claras, por ela não representar
expectativa de vitória. Para muitos, o voto em Marina foi apenas um
desabafo de protesto, foi o voto “do contra” aos outros candidatos, e não a
escolha de quem iria governar de fato. Fenômeno semelhante aconteceu com Enéas
Carneiro em 1994, mas aquele eleitorado que votou em Enéas cresceu muito em
2010 e parece que estará presente em 2014, pelo menos no primeiro turno.
Marina
é hoje uma nuvem. O eleitor não a conhece. Cada um que a olha vê o
que quiser imaginar. Quem quiser ver uma madre Teresa de Calcutá da política
pode fantasiar à vontade, por enquanto. Suas declarações simplistas procuram
agradar todo mundo, tal como ser a favor do que é bom e contra o que é ruim,
governar “com os bons”, ser a favor da ética na política etc. São coisas que
ninguém discorda, agradando polos opostos, do banqueiro ao cidadão que está
sendo explorado no cheque especial.
Mas
ela perde esse bônus do desconhecimento à medida em que desponta com chances de
vitória. Falar platitudes para agradar a todos pode soar como música numa
primeira conversa para o eleitor antipolítica, mas é impossível passar a
campanha inteira repetindo sem que a candidatura se desmorone. Se ela de fato
se mantiver na frente de Aécio Neves (PSDB) e polarizar com Dilma, terá de
falar como pretende. Irá respeitar as regras de mercado, sem interferir na
administração das estatais, como Petrobras, Eletrobras, Caixa Econômica Federal
e Banco do Brasil? Se Marina é a favor do livre mercado, qual será a nossa
política externa?
Marina
será realista com a necessidade de o Brasil investir em infraestrutura sem que
seja aliada de ambientalistas radicais? Ou a candidata continuará se
comportando como ativista dessa área, em que até tentou barrar quando ministra
a construção das hidrelétricas de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte? Como vai
lidar com os problemas da vida real das pessoas, como comida, casa, escola,
emprego, salário e saúde? Será que vai continuar com o discurso que ninguém
entende, do tipo: “eixos programáticos”, “democracia de alta intensidade”,
“empoderamento humano” e “brasileiros socialistas e sustentabilistas”?
O
discurso apresentado até agora dá sinais de que pretende terceirizar a economia
para que seja conduzida por banqueiros privados, o que é temeroso para o
cidadão trabalhador, pois a receita é a das “medidas amargas”, como desemprego,
arrocho nos salários e aposentadorias e juros altos para as famílias e
empresários do setor produtivo, sobretudo os pequenos.
Mesmo
em assuntos em que ela consegue se sair melhor, como no populismo da
antipolítica, ele terá de explicar suas próprias contradições. Ela sempre
ocupou cargos políticos, teve gabinete no Senado como qualquer outro senador,
participa do sistema partidário, sempre conviveu e continua convivendo com um
leque de políticos com perfil da velha política com os quais tem dificuldade de
dialogar. Marina como parlamentar conseguiu a aprovação de apenas três
projetos: A PEC regulamentando a aposentadoria do “extrativista vegetal”, o
projeto de lei que obriga o SUS a garantir transporte e alimentação a pacientes,
e a proposição criando o “Dia Nacional dos Povos da Floresta”. Muito pouco.
Seu
próprio vice tem posições, em muitos pontos, divergentes das dela. Além disso,
é financiada por empresas que tem interesses e negócios com a área
governamental, a começar por bancos privados. Não trabalhou a contento pela
reforma política popular, pelo contrário, defendeu práticas condenáveis, como a
proliferação indiscriminada de novos partidos, infidelidade partidária, criação
de partidos com acesso a fundo partidário antes de ter voto e outras mazelas
que agravam os vícios políticos. Agora faz acenos para atrair ícones da velha
política, como José Serra, para um hipotético governo seu.
Mas
seu maior ônus inicial é explicar o avião fantasma da campanha, que vitimou tragicamente
Eduardo Campos, e que ela também usava para viajar em campanha. Alguém pagava
os pilotos, o combustível, a manutenção, as taxas aeroportuárias, e esses
pagamentos deveriam estar na prestação de contas da candidatura de Marina Silva
e de Eduardo Campos. Para fugir de indenizações às outras vítimas, ninguém
assumiu ser o responsável pelo avião até agora. Está registrado em nome de uma
empresa falida, mas seus donos dizem ter repassado o aparelho para empresários
de Pernambuco, alguns envolvidos em escândalo de contrabando de pneus, outro
apontado como intermediário da compra, sócio de Eduardo Campos em fazenda e
presidente da estatal de gás pernambucana, nomeado por Campos.
A
falta de notas fiscais por serviços de frete aéreo ou doação de campanha no
valor equivalente traz fortes indícios de prática de caixa dois na campanha de
Campos e Marina. Perguntada sobre o assunto ela até agora nada respondeu, em um
comportamento semelhante ao de Aécio Neves (PSDB), que demorou a admitir ter
usado o aeroporto do pequeno município de Cláudio (MG) irregularmente.
Enquanto o deputado federal Beto Albuquerque (PSB), vice na chapa
presidencial da ex-senadora Marina Silva, responde: “Isso não é problema
nosso”.
Ela
não precisaria pré-condenar ninguém, mas pelo menos deveria ter uma posição
proativa dentro de seu partido e de sua campanha para esclarecer o assunto em
vez de abafar pelo silêncio.
A
questão do avião “fantasma” não é nenhum factoide, pois precisa ser esclarecida
para indenizar as casas e estabelecimentos comerciais atingidos em Santos, e
pode envolver caixa dois de campanha, negócios escusos entre empresas, partido
e governo pernambucano. Tudo o que Marina Silva diz condenar em uma suposta
nova política. É um mau começo esse silêncio, pois equivale a tentar varrer
para debaixo do tapete os escândalos de corrupção que atinge amigos e aliados.
Enfim, desconversar e engavetar, como nas piores das velhas políticas.
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