Antes do governo Lula, João Doria Júnior era um
jornalista pouco conhecido, que fazia programas de jabás com empresários na
madrugada; depois de 2003, ele criou o Lide, um grupo de encontros de
executivos, que passou a promover seminários e encontros empresariais
prestigiados por praticamente todos os ministros do PT, apesar da sua ostensiva
militância tucana – ele foi, por exemplo, um dos organizadores do movimento
Cansei, lançado após o acidente com o avião da TAM em Congonhas. Com o passar
do tempo, Doria passou até a vender mais caro, aos seus clientes, assentos ao
lado de ministros, em seus encontros, o que o tornou multimilionário, capaz até
de emprestar jatinhos para políticos do PSDB; agora, lançado candidato a
prefeito de São Paulo (para perder) por Geraldo Alckmin, Doria tripudia e diz
que pedirá ao juiz Sergio Moro para adiar a prisão do ex-presidente Lula; só o
PT não viu a aberração que ajudou a criar
Responda rápido: o que transformou João Doria
Júnior num dos homens mais ricos do Brasil? Duas letras: PT. Sim, graças ao
Partido dos Trabalhadores, o jornalista João Doria Júnior, que até o fim de
2002 era um desconhecido apresentador de um programa de jabás e entrevistas com
empresários nas madrugadas, conseguiu decolar.
Na vida de Doria, tudo começou a mudar a partir de
2003, quando ele criou o LIDE, grupo de empresários empresariais. Ali, ele
reuniu alguns de seus clientes, em geral executivos de empresas (e não
empresários), que pagavam mensalidades para que se encontrassem regularmente e
se relacionassem entre si. Era o chamado 'networking', que poderia alavancar as
carreiras de uns e de outros.
Com a chegada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva ao poder, Doria enxergou um novo filão: a promoção de eventos e encontros
empresariais. Estes fóruns, no entanto, só ganharam peso porque praticamente
todos os ministros e governadores do PT por ali passaram. Como as autoridades
estavam presentes, Doria conseguia aumentar o preço das suas mensalidades e
atrair novos clientes, num período em que os empresários se encantavam com Lula
– afinal, nunca ganharam tanto dinheiro como nos dois governos do ex-presidente
operário.
Doria ficou multimilionário com o PT, comprou casa
com campo de futebol nos jardins, jatinho, helicóptero, imóveis de luxo em
Miami... mas jamais escondeu sua militância tucana. Em 2007, quando o PSDB
tentou culpar o governo Lula por um acidente com um avião da TAM em Congonhas,
Doria criou o movimento Cansei. Outro evento que contribuiu para sua
notoriedade foi a promoção de encontros com donos de poodles, em Campos do
Jordão (SP).
Apesar de todos os sinais, Doria continuou sendo
prestigiado por ministros do PT. Só recentemente, José Eduardo Cardozo,
ministro da Justiça, deixou de comparecer a um de seus encontros quando soube
que Doria vendia mais caro, aos clientes, um lugar ao lado do ministro. A
partir de então, a presença de autoridades petistas começou a se tornar mais
rarefeita nos encontros de Doria.
Ainda assim, ele promoveu encontros de peso em
torno do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no que foi quase uma
exaltação ao impeachment, e do juiz Sergio Moro, que foi aclamado pelos
empresários presentes.
Recentemente, soube-se que Doria
recebeu R$ 1,5 milhão em publicidade do governo Geraldo Alckmin por publicidade
nas suas revistas que têm circulação mais do que restrita – praticamente, são
distribuídas apenas entre seus clientes. Bancado por Alckmin, ele deu carona ao
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em seu jatinho numa viagem recente aos
Estados Unidos (leia mais aqui).
Candidato para
perder
Protótipo do chamado "coxinha", Doria
ganhou ainda mais notoriedade ao ser indicado por Alckmin como seu candidato à
prefeitura de São Paulo. Citando uma frase de autoria não comprovada mas
atribuída ao escritor francês Victor Hugo, Alckmin afirmou que "nada é
mais poderoso que uma ideia cujo tempo chegou".
Doria, aparentemente, acreditou nas palavras de
Alckmin e passou a se julgar um candidato competitivo em São Paulo. Já prometeu
privatizar o Pacaembu e o Anhembi. No entanto, sempre vestido com seus cashmeres
entrelaçados sobre o pescoço, ele ainda não foi apresentado à periferia. Numa
de suas colunas, Doria foi alvo da ironia ferina de José Simão, que afirmou que
sua única bandeira seria a criação de faixas exclusivas para Land Rovers em São
Paulo.
O empresário, no entanto, não se deu conta de que
foi escolhido por Alckmin ou para perder ou para implodir o próprio PSDB.
Ligadíssimo ao atual secretário de Educação de São Paulo, Gabriel Chalita,
Alckmin não ficaria nada insatisfeito com a reeleição de Haddad – desde que
Chalita seja seu vice. Assim, Haddad sairia em 2018 para disputar cargos
maiores e Chalita assumiria a prefeitura.
No PSDB, o candidato natural seria o vereador
Andrea Matarazzo. No entanto, Alckmin lançou Doria justamente para sabotá-lo.
Qual é a lógica? Se Matarazzo vier a ser eleito em 2016, o senador José Serra
(PSDB-SP), potencial rival de Alckmin em 2018, terá uma poderosa máquina
política nas mãos para fazer frente ao governador tucano.
Doria não se deu conta, mas é apenas um peão no xadrez de Alckmin com
vistas a 2018. No entanto, ele já se enxerga como rei no tabuleiro. Em
entrevista publicada nesta quinta-feira, disse que Lula "é um cara de
pau", um "sem-vergonha". E disse ainda que pedirá ao juiz Sergio
Moro para adiar a prisão do ex-presidente em cujo governo ele se transformou
num dos empresários mais ricos do Brasil, produzindo vento.
Brasil 24/7
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