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João Doria é um aberração criada pelo próprio PT

1/21/2016


Antes do governo Lula, João Doria Júnior era um jornalista pouco conhecido, que fazia programas de jabás com empresários na madrugada; depois de 2003, ele criou o Lide, um grupo de encontros de executivos, que passou a promover seminários e encontros empresariais prestigiados por praticamente todos os ministros do PT, apesar da sua ostensiva militância tucana – ele foi, por exemplo, um dos organizadores do movimento Cansei, lançado após o acidente com o avião da TAM em Congonhas. Com o passar do tempo, Doria passou até a vender mais caro, aos seus clientes, assentos ao lado de ministros, em seus encontros, o que o tornou multimilionário, capaz até de emprestar jatinhos para políticos do PSDB; agora, lançado candidato a prefeito de São Paulo (para perder) por Geraldo Alckmin, Doria tripudia e diz que pedirá ao juiz Sergio Moro para adiar a prisão do ex-presidente Lula; só o PT não viu a aberração que ajudou a criar

 


Responda rápido: o que transformou João Doria Júnior num dos homens mais ricos do Brasil? Duas letras: PT. Sim, graças ao Partido dos Trabalhadores, o jornalista João Doria Júnior, que até o fim de 2002 era um desconhecido apresentador de um programa de jabás e entrevistas com empresários nas madrugadas, conseguiu decolar.

Na vida de Doria, tudo começou a mudar a partir de 2003, quando ele criou o LIDE, grupo de empresários empresariais. Ali, ele reuniu alguns de seus clientes, em geral executivos de empresas (e não empresários), que pagavam mensalidades para que se encontrassem regularmente e se relacionassem entre si. Era o chamado 'networking', que poderia alavancar as carreiras de uns e de outros.

Com a chegada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao poder, Doria enxergou um novo filão: a promoção de eventos e encontros empresariais. Estes fóruns, no entanto, só ganharam peso porque praticamente todos os ministros e governadores do PT por ali passaram. Como as autoridades estavam presentes, Doria conseguia aumentar o preço das suas mensalidades e atrair novos clientes, num período em que os empresários se encantavam com Lula – afinal, nunca ganharam tanto dinheiro como nos dois governos do ex-presidente operário.

Doria ficou multimilionário com o PT, comprou casa com campo de futebol nos jardins, jatinho, helicóptero, imóveis de luxo em Miami... mas jamais escondeu sua militância tucana. Em 2007, quando o PSDB tentou culpar o governo Lula por um acidente com um avião da TAM em Congonhas, Doria criou o movimento Cansei. Outro evento que contribuiu para sua notoriedade foi a promoção de encontros com donos de poodles, em Campos do Jordão (SP).

Apesar de todos os sinais, Doria continuou sendo prestigiado por ministros do PT. Só recentemente, José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, deixou de comparecer a um de seus encontros quando soube que Doria vendia mais caro, aos clientes, um lugar ao lado do ministro. A partir de então, a presença de autoridades petistas começou a se tornar mais rarefeita nos encontros de Doria.

Ainda assim, ele promoveu encontros de peso em torno do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no que foi quase uma exaltação ao impeachment, e do juiz Sergio Moro, que foi aclamado pelos empresários presentes.

Recentemente, soube-se que Doria recebeu R$ 1,5 milhão em publicidade do governo Geraldo Alckmin por publicidade nas suas revistas que têm circulação mais do que restrita – praticamente, são distribuídas apenas entre seus clientes. Bancado por Alckmin, ele deu carona ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em seu jatinho numa viagem recente aos Estados Unidos (leia mais aqui).

Candidato para perder

Protótipo do chamado "coxinha", Doria ganhou ainda mais notoriedade ao ser indicado por Alckmin como seu candidato à prefeitura de São Paulo. Citando uma frase de autoria não comprovada mas atribuída ao escritor francês Victor Hugo, Alckmin afirmou que "nada é mais poderoso que uma ideia cujo tempo chegou".

Doria, aparentemente, acreditou nas palavras de Alckmin e passou a se julgar um candidato competitivo em São Paulo. Já prometeu privatizar o Pacaembu e o Anhembi. No entanto, sempre vestido com seus cashmeres entrelaçados sobre o pescoço, ele ainda não foi apresentado à periferia. Numa de suas colunas, Doria foi alvo da ironia ferina de José Simão, que afirmou que sua única bandeira seria a criação de faixas exclusivas para Land Rovers em São Paulo.

O empresário, no entanto, não se deu conta de que foi escolhido por Alckmin ou para perder ou para implodir o próprio PSDB. Ligadíssimo ao atual secretário de Educação de São Paulo, Gabriel Chalita, Alckmin não ficaria nada insatisfeito com a reeleição de Haddad – desde que Chalita seja seu vice. Assim, Haddad sairia em 2018 para disputar cargos maiores e Chalita assumiria a prefeitura.

No PSDB, o candidato natural seria o vereador Andrea Matarazzo. No entanto, Alckmin lançou Doria justamente para sabotá-lo. Qual é a lógica? Se Matarazzo vier a ser eleito em 2016, o senador José Serra (PSDB-SP), potencial rival de Alckmin em 2018, terá uma poderosa máquina política nas mãos para fazer frente ao governador tucano.

Doria não se deu conta, mas é apenas um peão no xadrez de Alckmin com vistas a 2018. No entanto, ele já se enxerga como rei no tabuleiro. Em entrevista publicada nesta quinta-feira, disse que Lula "é um cara de pau", um "sem-vergonha". E disse ainda que pedirá ao juiz Sergio Moro para adiar a prisão do ex-presidente em cujo governo ele se transformou num dos empresários mais ricos do Brasil, produzindo vento.

Brasil 24/7


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