O Ministério
Público Federal em São Paulo (MPF) denunciou dois agentes da repressão pela
tortura do Frei Tito de Alencar Lima durante a ditadura militar. Homero César
Machado, na época capitão de artilharia do Exército, e Maurício Lopes Lima,
capitão de infantaria, chefiavam equipes de interrogatório na Operação
Bandeirante (Oban), que depois foi transformada no Destacamento de Operações de
Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi).
Homero e Maurício
eram responsáveis pelas ordens aos demais agentes da unidade e participaram
diretamente das sessões de tortura a Frei Tito.
Frei Tito foi preso
em novembro de 1969, em uma operação realizada pela polícia de São Paulo contra
religiosos dominicanos acusados de apoio a Carlos Marighella, da Ação
Libertadora Nacional (ALN). Ele ficou no Departamento Estadual de Ordem
Política e Social de São Paulo (Deops-SP) e no Presídio Tiradentes e depois foi
levado para a Oban, onde ficou de 17 a 27 de fevereiro de 1970.
De acordo com o
MPF, durante esse período ele foi vítima de agressões físicas e psicológicas
para que desse informações sobre membros do clero católico que se solidarizavam
com os que se opunham ao regime militar.
Os documentos e
depoimentos que embasaram a denúncia do MPF mostram que Frei Tito foi colocado
no "pau de arara" – instrumento de tortura que, além de provocar
dores no corpo, pode causar deformações na espinha e nos membros superiores e
inferiores.
Conforme a
denúncia, ele também recebeu choques elétricos e pancadas na cabeça. "A
vítima sofreu queimaduras com pontas de cigarros e foi golpeado com uma
palmatória até que suas mãos ficassem roxas e inchadas, a ponto de não ser
possível fechá-las."
Após as sessões de
tortura, Frei Tito tentou suicídio e foi levado de volta ao Presídio
Tiradentes. Em janeiro de 1971, ele foi banido do Brasil após ser incluído
entre os presos políticos que deveriam ser soltos em troca do embaixador suíço
Giovanni Enrico Bucker, sequestrado por opositores da ditadura militar. Passou
pelo Chile e Itália e se estabeleceu na França, onde, em setembro de 1974, aos
31 anos, enforcou-se em uma árvore.
Os dois agentes da
repressão foram denunciados por crime de lesão corporal grave, resultante em
perigo de vida. Os procuradores da República Ana Leticia Absy e Anderson Vagner
Gois dos Santos, autores da denúncia, requerem ainda o reconhecimento das
circunstâncias agravantes, como emprego de tortura e outros meios cruéis, abuso
de poder e o fato de a vítima estar sob a imediata proteção das autoridades.
O Ministério Público pede que os
envolvidos tenham aposentadorias canceladas e, caso condenados, percam medalhas
e condecorações. Segundo o MPF, "por terem sido cometidos em contexto de
ataque sistemático e generalizado à população, em razão da ditadura militar, o
delito denunciado se qualifica como crime contra a humanidade, sendo, portanto,
imprescritível e impassível de anistia".
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