O sobe e desce de
instâncias dos processos sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou
novo capítulo na noite desta terça-feira, e a tensão dramática adquire
intensidade com a nova decisão do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal
Federal (STF). Relator dos processos da Operação Lava Jato no STF, o ministro
determinou que o juiz Sérgio Moro envie ao Supremo as investigações que
tramitam na 13ª Vara Federal de Curitiba que envolvem o ex-presidente. É o STF
que decidirá se cabe desmembramento da investigação, "bem como sobre a
legitimidade ou não dos atos até agora praticados". E na decisão de
Zavaski ainda sobra uma ressalva à decisão de Moro de divulgar as gravações em
que Lula fala com autoridades como a presidenta
"O que se
infirma é a divulgação pública das conversas interceptadas da forma como
ocorreu, imediata, sem levar em consideração que a prova sequer fora apropriada
à sua única finalidade constitucional legítima (“para fins de investigação
criminal ou instrução processual penal”), muito menos submetida a um
contraditório mínimo", critica Zavascki. "Não há como conceber,
portanto, a divulgação pública das conversações do modo como se operou, especialmente
daquelas que sequer têm relação com o objeto da investigação criminal",
diz o ministro em sua decisão, que desfaz uma instrução do ministro Gilmar
Mendes.
Quatro dias atrás, Mendes
suspendeu a nomeação de Lula para a Casa Civil e devolveu os processos sobre o
ex-presidente para Moro. Com a decisão desta terça-feira, que pede o sigilo dos
áudios divulgados, Lula não volta a ser ministro, mas seus processos sobem para
o tribunal mais alto, pelo menos até que o STF identifique quem não tem foro
privilegiado e, portanto, deve ser encaminhado de volta à primeira instância.
Uma consequência possível da decisão é que as gravações divulgadas por Moro
sejam desconsideradas como prova na sequência dos processos. O juiz terá 10
dias prestar esclarecimentos ao STF sobre sua decisão de retirar o sigilo das
gravações, que revelaram até conversas entre a ex-primeira-dama Marisa Letícia
e seu filho Fábio da Silva.
A decisão de
Zavascki responde a ação da Advocacia-Geral da União (AGU) que questionava o
fato de Moro ter divulgado as gravações. Zavascki não discutiu de quem era a
competência de julgar, se de Gilmar Mendes ou de Moro, mas destacou que o fato
de a presidenta Dilma ter sido gravada nas interceptações influenciou sua
decisão — essas gravações com autoridades, aliás, devem ser avaliadas pela
Procuradoria-Geral da República para que se determine se há indício de crime.
Esse pode ser
considerado, até agora, o maior revés para o juiz Sérgio Moro no âmbito da Lava
Jato. É a primeira vez que ele é cobrado a se explicar ao STF por uma decisão
na maior operação policial da história do país.
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