Como se dá a volta num golpe branco, que pretende introduzir um improvável governo de 1% de apoio e 81% de rejeição? Como fazer com que a condenação da opinião pública se transforme em força política, possa preservar a democracia no Brasil e criar as condições para o resgate da economia, a proteção do patrimônio público e a preservação dos direitos sociais?
Foi uma derrota, não dá pra esconder, por mais que os que ganharam tenham inúmeras dificuldades, desgastes e ônus. Havia uma situação de relativo empate, até que, tendo a iniciativa institucional, os golpistas colocaram o desempate no terreno que mais os interessava - a Câmara de Deputados -, e se impuseram.
A vitória significou, para eles, o encaminhamento provável de poder formar governo na metade de maio e começar a colocar em prática seu devastador programa de vingança contra a democracia, o povo e o Brasil. Mas carregam consigo a pecha de golpistas, a falta de apoio popular, um duro ajuste fiscal contra as políticas de educação e saúde pública e contra os direitos dos trabalhadores, assim como contra a Petrobras e o pré-sal.
Conseguirão governar? Como fazer para não apenas resistir às medidas antipopulares e antinacionais nas ruas, mas também encontrar o caminho de resgate da democracia e de recolocar nas mãos da cidadania o direito de decidir quem preside e como preside o Brasil?
A defesa do mandato da presidente Dilma é o primeiro dever de todos os que valorizam a democracia, quem sabe que somente no marco do respeito ao voto democrático da cidadania é possível a convivência entre todos, na diferença e na diversidade. Ninguém tem o direito de tirar o mandato de uma presidenta reeleita pelo voto e que não cometeu nenhum crime de responsabilidade. Essa via pode se dar pelo Senado, pelo STF ou por qualquer outra que decida preservar a soberania popular contra o assalto golpista de parlamentares que não representam o país, que se elegeram com o dinheiro dos empresários para interromper, da forma que seja, os governos eleitos e reeleitos pelo povo.
As mobilizações cotidianas contra o golpe são a melhor arma para não dar descanso aos golpistas e à gangue de Michel Temer, o assédio direto a ele, ao seu assecla Eduardo Cunha, aos parlamentares que votaram pelo golpe. Tudo para desembocar no maior primeiro de maio da nossa história, pelos direitos dos trabalhadores, pela preservação dos direitos sociais, mas também para apontar o caminho político da luta democrática hoje no Brasil.
Já vimos que não basta apenas a denúncia, não basta apenas as maiores mobilizações que o Brasil já viveu, se elas não se traduzem em alternativas políticas que desarticulem o poder das gangues que tentam se apropriar do governo no nosso país. Se eles querem impor um presidente pela via indireta, como fez a ditadura, se eles pretendem impor um governo dos empresários contra o povo, como fizeram Collor e FHC, se eles pretendem desconhecer a vontade popular, como na derrota da campanha das diretas, temos que apontar os caminhos da reviravolta democrática.
Esses caminhos são o da reconquista do poder soberano do povo de decidir seus destinos. Se o Senado desconhece a vontade democrática do povo, se o STF permanece passivo e cúmplice do assalto à democracia, só resta à cidadania, ao povo, ao Brasil nas ruas, lutar pela restauração do seu direito soberano de escolher seus governantes. Não apenas o presidente, mas os parlamentares, sem o financiamento empresarial que elegeu um Congresso corrupto e subserviente, laranja dos interesses antipopulares, antidemocráticos e antinacionais.
Se consolidarem o caminho do golpe contra Dilma, só a luta por novas eleições pode dotar o extraordinário movimento popular de instrumentos de denúncia do caráter ilegítimo do governo que querem impor ao país, assim como indicar a única saída democrática da crise: a eleição pelos brasileiros do governo que querem para o Brasil.
Uma reviravolta apoiada no “Não vai ter golpe”, nas ruas lotadas da alegria popular, no repúdio cotidiano dos golpistas, na liderança de quem representa o projeto nacional, democrático e social que o Brasil consagrou e que o consagrou em todo o mundo.
Emir Sader
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