Horas depois de jantar com Dilma Rousseff no Palácio da
Alvorada, Ciro Gomes declarou em entrevista: “Eu tenho dito a ela e ao Lula, há
anos, que é um erro grosseiro, que beira a irresponsabilidade, colocar esse
lado quadrilha do PMDB na linha de sucessão.”
Perguntou-se a Ciro se ele inclui o vice-presidente Michel
Temer no “lado quadrilha” do PMDB. E ele, categórico: “Ah, mas sem dúvida
nenhuma.” Por quê? “Porque eu conheço Michel Temer bastante bem, de longa data.
Hoje, o Michel Temer é homem do Eduardo Cunha.”
A entrevista de Ciro foi concedida à Rádio Gaúcha, nesta
sexta-feira (11). Na noite da véspera, o ex-ministro, hoje um potencial
presidenciável do PDT, jantara com Dilma. Estavam à mesa também o ministro
petista Ricardo Berzoini, coordenador político do governo e Luiz Fernando
Pezão, governador do Rio e membro do pedaço do PMDB que ainda dedica fidelidade
a Dilma.
Durante a entrevista, Ciro Gomes alvejou também o ex-ministro
Eliseu Padilha, um amigo de Michel Temer que acaba de deixar a pasta da Aviação
Civil: “O Eliseu Padilha […] era o homem que, no governo do Fernando Henrique,
era chamado pela crônica política de Eliseu Quadrilha. Então, a Dilma tem um
erro: botou esse homem dentro, indicado pelo Michel Temer. Mas esse é homem do
Michel Temer.” Sob FHC, Padilha foi ministro dos Transportes.
Perguntou-se a Ciro se ele enxerga as “digitais” de Temer no
processo de impeachment, deflagrado por Eduardo Cunha, na condição de
presidente da Câmara. “Em tudo, em tudo”, disse ele. “Também já tinha advertido
publicamente e em particular: ele está conspirando há algum tempo, de forma
absolutamente sórdida.”
Após mencionar irregularidades praticadas sob Dilma e ao
longo da era petista —14 ministros afastados sob suspeição, a compra
injustificável da refinaria de Pasadena, dois tesoureiros do PT presos, o
estelionato eleitoral reconhecido pelo próprio Lula— um dos entrevistadores
indagou a Ciro: não acha que tudo isso compromete o governo?
E ele: “Acho, em muitos aspectos o governo da presidenta
Dilma é indefensável. Entretanto, temos que ajudar nosso povo a entender que
remédio para governo ruim, remédio para governo que a gente não gosta não é
interromper a normalidade democrática, porque o vice-presidente é tão
responsável quanto… por todas essas coisas.”
Ciro se alongou nas referência a Temer: “É um homem sem
legitimidade, é sócio, íntimo, parceiro —sou um homem que tem 36 anos de vida
pública, sou decente, não ando falando coisas que eu não sustente— e o Michel
Temer é parceiro íntimo nas práticas e nas coisas erradas do Eduardo Cunha.”
“Repare bem”, prosseguiu Ciro, “temos um grave momento no
Brasil. E só há uma saída para isso, que é preservar a democracia, manter as
instituições funcionando regularmente, esperar que a agenda de delegacia de
polícia seja resolvida pela polícia, pelo Ministério Péblico, pela Justiça.”
“E vamos ter clareza: a presidenta Dilma não está sendo acusada
de ter praticado, ela própria, nenhuma irregularidade. Evidentemente que se
acusa desse problema de pedalada fiscal, mas isso não é crime de
responsabilidade. Todos o governos praticaram e o Tribunal de Contas nunca
disse nada.”
Sobre a situação de Eduardo Cunha, que recorre a manobras
para evitar que o processo de cassação do seu mandato caminhe no Conselho de
Ética da Câmara, Ciro declarou: “A Justiça está com tudo provado de que ele
roubou uma montanha de dinheiro e hospedou na Suíça. E esse é um grande
problema do Brasil hoje. Essa montanha de dinheiro ele distruiu a metade ou
dois terços ou três quintos com a escória que o cerca na Câmara. E essa é nossa
tragédia. Temos, hoje, uma maioria de corruptos sustentando esse canalha.”
Dilma recebeu Ciro um dia depois de ter conversado com Temer
sobre o conteúdo da carta-desabafo que ele lhe enviara. Divulgou-se que a
presidente e seu vice acertaram os ponteiros e teriam um relacionamento pessoal
e institucional “profício” e “fértil”. Temer foi recebido no Planalto, em
reunião protocolar. Ciro, antigo desafeto do PMDB de Temer, foi recepcionado no
Alvorada, na mesa do jantar. Os peemedeistas tomaram nota da preferência de
Dilma e da diferença de tratamento.
JOSIAS DE SOUZA
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