Um dos exemplos é o do senador Cássio Cunha Lima, (PSDB-PB) que se referiu às senadoras como "meninas", pedindo calma
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O preconceito de gênero foi um dos
componentes que marcaram os primeiros dias do julgamento final do impeachment
da presidenta Dilma Rousseff (PT) no Senado Federal. Na sexta-feira (26),
segundo dia dos trabalhos, um dos momentos de tensão entre defesa e acusação
ocorreu quando o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PR) pediu calma às senadoras
Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Gleisi Hoffmann (PT-PR). “Se acalmem, meninas”,
disse em plenário, tentando suavizar a fala em seguida, afirmando que teria
sido “elegante”.
Ocorrida num contexto em que o tucano
se queixava das reações contundentes das senadoras na sessão, a fala do
parlamentar reacende o debate sobre o machismo que marca o tratamento
tradicionalmente dispensado às mulheres que têm destacada atuação no espaço
público.
“Nós ainda temos uma sociedade muito
machista e até mesmo misógina. O fato de estarmos defendendo a presidenta nessa
linha de frente – inclusive com argumentos, porque a gente vem aqui e debate o
conteúdo – provoca essas reações. Lamento que certos colegas da Casa contribuam
pra isso”, disse a senadora Gleisi Hoffmann.
Procurada pela reportagem para
comentar o assunto, Vanessa Grazziotin também lamentou a postura do tucano.
“Nunca tinha visto ele se referir a nós como ‘meninas’. (…) Esse tipo de coisa
ocorre porque aqui a maioria é homem, então, eles se acham os proprietários do
espaço, como se nós estivéssemos aqui por acaso”, afirmou.
Grazziotin esteve também na mira de
alguns veículos da grande imprensa, que na última quinta-feira (26) publicaram
matérias com críticas ao figurino usado pela senadora no primeiro dia do
julgamento. “Eu virei praticamente um meme. Coloquei uma roupa, um casaco de
flores e não imaginei que aconteceria tudo aquilo”, apontou.
Questionada sobre a tendência de
desqualificação do trabalho das mulheres na política, muitas vezes ainda
ofuscado por matérias e comentários de bastidores preconceituosos, a senadora
foi contundente: “O fato é que a gente vem conseguindo ocupar os espaços pela
nossa competência, e não pela vestimenta, e isso ainda incomoda”.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ),
parceiro das senadoras na defesa de Dilma, também comentou o assunto. “Há muito
machismo e misoginia contra elas, assim como há contra Dilma, mas eu tenho o
maior orgulho porque elas têm sido a marca da nossa defesa neste processo”,
disse o petista, citando também os nomes das senadoras Kátia Abreu (PMDB-TO),
Fátima Bezerra (PT-RN), Ângela Portela (PT-RR) e Regina Souza (PT-PI).
“Tenho o maior orgulho de estar
vivendo tudo isto aqui ao lado delas, porque são preparadas e corajosas. Elas
viraram símbolo de resistência”, finalizou o líder da minoria na Casa.
Baixa representatividade
A senadora Fátima Bezerra (PT-RN) lembrou a
necessidade de aumentar a representatividade feminina na política. “Isso que
ocorreu é reflexo da cultura patriarcal, que infelizmente ainda impera e
fomenta o machismo, daí o desafio que nós temos de ampliar a participação das
mulheres na política, pois o espaço político ainda é muito machista, tanto do
ponto de vista dos valores e das atitudes que observamos quanto do ponto de
vista da quantidade de mulheres presentes, porque nós ainda somos poucas”,
salientou.
Para se ter uma ideia, do total de 81
senadores, apenas 11 são mulheres, o que corresponde a 13,6% de
representatividade. No último pleito, em 2014, quando só houve troca de um
terço da Casa, o número de senadoras eleitas foi seis, num universo de 27 vagas
disponíveis.
“É um resultado direto do machismo,
por isso o empoderamento das mulheres é uma necessidade”, defendeu Fátima
Bezerra.
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