Não
existindo hoje qualquer base jurídica para uma prisão do ex-presidente
Lula nas próximas horas, se confirmada a intensa boataria da noite desta
sexta-feira, estará consumada, sem disfarces, a ruptura com o Estado de
Direito e o mergulho na ditadura. Uma postagem de Eduardo Guimarães
em seu “Blog da Cidadania” deixou em estado de alerta o vasto campo
lulista, que ultrapassa as fronteiras do PT. Guimarães afirmou ter ouvido de
fonte segura e fidedigna que a prisão de Lula já está decidida, podendo acontecer
na segunda-feira ou em dias seguintes, com espetaculoso aparato e cobertura da
mídia, que já estaria preparada para a eventualidade.
A
postagem, compartilhada através de redes sociais, alimentou debates apreensivos
sobre o que deveria ser feito: uma forte ação de resistênciam que já estaria
sendo organizada pelos movimentos sociais, ou deveria Lula se
exilar? Eduardo Guimarães reproduziu os argumentos que estariam
justificando a prisão de Lula agora, logo depois do acolhimento de três denúncias
contra ele: uma por Sergio Moro e duas por um juiz federal de Brasília.
Neste
momento, a população ainda está com muito ódio do PT, o que dificultará
qualquer reação mais forte à eventual prisão. Depois, ainda não sentiu os
efeitos nefastos do ajuste fiscal de Michel Temer, que virão com a aprovação da
PEC do teto de gastos e as reformas previdenciária e trabalhista.
Quando
a população começar a ser castigada por estas medidas, cairá na real, vai
se sentir lograda pelo golpe e pelo governo que derrubou o PT, passando a ver
em Lula o candidato redentor em 2018. Por isso, seria preciso acelerar o
processo para torná-lo inelegível. Moro o mandaria prender preventivamente
agora e o condenaria num prazo bem curto, de modo que o julgamento em segunda
instância ocorra ainda nos primeiros meses do ano que vem. Condenado, Lula
continuaria preso, como manda a interpretação do STF, e já estaria inelegível
para 2018.
A
inelegibilidade de Lula é o que realmente importa para a coalizão no poder,
composta por PMDB, PSDB e DEM, além dos partidos satélites. Eles não “fizeram o
diabo”, deram um golpe, afastaram uma presidente eleita e estão implementando
uma agenda ultra-conservadora para deixarem Lula ressurgir como candidato em
2018. Para manter as aparências do Estado de Direito, a prisão
seria até nociva. A inelegibilidade já resolveria o problema de deixar a
esquerda praticamente alijada da disputa, facilitando a eleição de um candidato
da coalizão golpista. No PT, o deputado Paulo Pimenta é cético em relação
à possível prisão agora:
-
Uma prisão de Lula, sem base jurídica, será a consumação indiscutível do Estado
de Exceção e negação escancarada do Estado de Direito. A Lei não pode ser
manipulada para servir de arma contra um cidadão só porque alguns agentes do
Estado o elegeram como inimigo político número um.
Mas
alguns sinais estão no ar, corroborando a hipótese de Eduardo Guimarães. O
acolhimento das denúncias em serie pode ter sido usado como tática para medir
eventuais reações a uma prisão. Fernando Henrique, certamente muito bem
informado, resolveu dizer que lamenta uma eventual prisão de Lula mas que “a
decisão é da Justiça”. A mídia tem procurado os movimentos sociais para saber
se, em caso de prisão, haverá reação. A CUT e o MST têm dito que
sim. Haveria até um plano para invadir a carceragem de Moro e tirar
Lula de lá.
A
Lava Jato, como já aprendemos, gosta de datas simbólicas. Há quem pense que a
prisão pode estar sendo preparada para o dia 27, data do aniversário de Lula.
Seria muito maldade mas coisas parecidas já foram feitas contra o PT: ações
espetaculares em datas especiais, como o aniversário do partido.
E
o exílio? Muita gente acha que Lula, já tendo levado seu caso à
apreciação da Comissão de Direitos Humanos da ONU, deveria pedir asilo numa
embaixada antes que seja tarde. Para o Brasil, diante do mundo, seria um
desgaste, uma vergonha. Pois ainda que não seja agora, Lula acabará sendo
julgado e preso.
Sua
defesa tem denunciado que ele é vítima de “low fare”, a tática de torcer a lei
para atingir o inimigo público, não importando os fundamentos da acusação.
Seria uma denúncia grave numa democracia, numa sociedade sadia, que ainda
se preocupasse com a efetiva aplicação da Justiça.
Não
aqui, nesta terra devastada pela mistura entre o ressentimento da maioria com
os políticos em geral, o disseminado pelo anti-petismo e a determinação de um
grupo em conservar o poder que conquistou pelo golpe parlamentar.
Brasil 247
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