A
exposição "O Sertão de João Machado", fica em cartaz até 13 de maio, na
Caixa Cultural, na Rua Carlos Gomes em Salvador. Nascido em Xique-Xique, em 1969, João Machado deixou sua terra natal aos 19
anos de idade em busca de trabalho na
cidade de São Paulo. Trabalhou na construção civil, como ajudante de pedreiro,
quando comprou a primeira câmera fotográfica de um colega de trabalho. Começou
a fotografar em 1993. A curiosidade, determinação e persistência o
transformaram no fotógrafo João Machado. Autodidata.
Com
o pai feirante, Machado que o ajudava estava totalmente envolvido com a atmosfera
das feiras livres, da cultura popular e suas retinas fixavam o entorno. Estava
guardada em sua memória que se revela agora nesta exposição, o céu estrelado, a
terra de chão batido, a poeira amarelada, os romeiros, os carroceiros,
caminhoneiros, o interior das casas simples. Imprimiu imagens das mulheres no
cuidado com suas casas, lavando roupas, fazendo café com coador de pano, o
mosquiteiro que protege as pessoas de insetos, retratos nas paredes, bares, um
vestido de noiva na fachada de uma casa de pau a pique.
Bois
passam lentamente pelas estradas, jogo de bola, procissões, rezas, o rosto
marcado pelo sol dos romeiros. As imagens foram realizadas nas cidades de
Xique-Xique e Bom Jesus da Lapa. São 35 fotos impressas nos tamanhos 60x90 cm e
30x45 cm, um recorte do trabalho desenvolvido nos últimos 15 anos.
João começou
fotografando batizados, casamentos e aniversários. Sempre na memória os locais
de sua infância e adolescência resolveu então em 2002 retornar, em busca do
romeiro, que era a sua referência máxima. Nunca mais voltou ao Sul, insistia em
entender a essência do romeiro, seja no ato de pagar promessas, como em todo
seu entorno: os acampamentos, os paus de arara, os banhos no Rio São Francisco,
o cotidiano. No período da Quaresma entre a quarta-feira de cinzas e a sexta da
paixão, alguns fiéis realizam o ato da penitência. Essas realidades foram
documentadas por João Machado com imenso interesse e cuidado.
A
grande maioria das fotos é noturna, quando os efeitos de luz e sombra se
acentuam, criando resultados mágicos de forte impacto. Muitas fotos em
contraluz, a cena de interesse fica entre a câmera e a fonte de luz, fazendo
com que a iluminação fique na parte de trás e não na frente, como é usual.
Assim, aparecem marcadas silhuetas de animais, e apenas uma borda de luz,
define o cenário. São flashes de mistérios e luzes. De volta ao Sertão,
João Machado, decidiu ficar para nos envolver com sua sensibilidade e maestria.
Por
César Romero
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