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De XiqueXique aos Brejos da Barra

1/28/2015

Amanhecia quando avistamos a tradicional cidade da Barra debruçada sobre o Velho Chico, com seus casarões e sobrados coloniais destacando-se o Mercado Cotegipe de arquitetura barroco-rococó, além dos chafarizes e das estátuas em bronze, esculpidas  pelo barrense Diocleciano Martins de Oliveira, com distinção para a estátua de São Francisco a  contemplar o rio sagrado.

O sol já polia de ouro as maretas no espetáculo do encontro das águas do Velho Chico e do rio Grande. Assim, neste cenário de tradições e de cultura desembarcamos no porto principal da Cidade dos Barões, adotada por Frei Luiz Cappio.

Na  Praça Cotegipe, defronte ao centenário mercado, José Felix acompanhado dos recém-casados Afonso e Vânia Lúcia, nos esperava com o seu Toyota, tração nas quatros rodas, para rompermos a estrada ou trilhas em direção aos Brejos da Barra, os oásis, dádivas da natureza do sertão são franciscano.

Percorremos alguns quilômetros de areal, vislumbrando paradisíacas paisagens formadas por dunas, córregos de águas cristalinas e buritizeiros, quando chegamos ao povoado de Olhos D'água. Era um dia de domingo. Algumas jovenzinhas brejeiras tomavam banho no riacho de águas transparentes, tendo os mangueirais nas suas margens assombreando o éden.

Os periquitos  e os passarinhos cabeças-vermelhas, em voos rápidos e rasteiros, molhavam as pontas de suas asas coloridas.

No povoado, todos já esperavam pelos noivos e com fogos de artifício e rojões os recepcionaram: "Vivam os noivos e as suas distintas famílias", aclamavam!

Formou-se, então, o cortejo. A noiva Vânia Lúcia ia à frente pelo braço do padrinho, seguida pelas mulheres. Depois vinham os homens, parentes e amigos do noivo Afonso. No percurso até a residência dos pais da noiva, cantavam esta toada: 
                               
                               
                                 Viva o noivo, viva a noiva
                                 Viva o padre que os juntou
                                 Viva quem já é casado
                                 Viva quem nunca casou...

No alpendre da casa do pai da noiva, as caixas de som vibravam uníssonas com músicas sertanejas. Tocavam ainda forró de Luiz Gonzaga e, para o meu espanto, tocavam Bob Marley. No woman no cry. Tudo isso regado à cerveja, vinho jurubeba, meladinha, licor de murici e muita aguardente catuzeira fabricada ali mesmo. Serviram-nos  tira-gosto de buchada de bode , caldo de cabeça de piranha e asas de frango do pescoço pelado.

O dia entrou pela noite e a noite pelo dia quando os noivos, a essa altura, já haviam sumido. Prosseguiram-se, no entanto, a festa e os cochichos das donzelinhas brejeiras, tímidas e trigueiras, ansiosas por esperar a vez das suas núpcias.

Depois de passar uma semana de andanças pelos brejos da Barra, retornei a  XiqueXique onde estou a escrever este texto num quarto de hotel e  a meditar sobre a próxima aventura que, decerto, farei em outras terras muito longe daqui.


Nilson Machado de Azevedo

5 comentários:

Reinadi Sampaio disse...

Reverenciando os lugares da minha Terra

OLHOS D’ÁGUA
(NO MEU SERTÃO).

https://agbook.com.br/book/156642--Do_outro_lado_da_margem


Feriram meu coração
– Que se cobriu de aridez –...
E gélida a minha tez
– Esqueceu-se do Sertão –...

...Do baile só mesmo o vazio
... – Restou da última dança –...
... Último beijo? Nem esperança
... Pra flor da beira- do-rio... –,

Que recolhe toda mágoa...
Não chora felicidades,
Quem sabe... Apenas saudades
No meu olhar em Olhos D’água...

REINADI SAMPAIO
09-02-2014//11h33min

11/2/14 15:16
Reinadi Sampaio disse...

Em versos uma homenagem à autora da tela "Barra e o riacho"

Águas cantantes
(Variante da canção redonda²)
07|06|2012

https://agbook.com.br/book/156642--Do_outro_lado_da_margem


Canção da fonte d’águas cristalinas
Circundando em gotas o vale em flores
– Ornamentando as pedras peregrinas–
Escutas ao orvalhar as flores
canção da fonte d’águas cristalinas?

A melodia dos ventos uivantes...
Canção das águas – ária em sintonia
Com o coração em ondas marulhantes
Que juntos cantam suave melodia –
A melodia dos ventos uivantes...



Reinadi Sampaio
Cruz das Almas.


















11/2/14 15:28
Anônimo disse...

Belo texto, Nilson.

Layno Sampaio Pedra

12/2/14 11:24
BARRENSE disse...

O escritor Nilson Azevedo, retratou a nossa Barra e seus Brejos com muito romantismo e poesia. É assim que a Barra deve ser olhada com poesia como fez o autor.

12/2/14 12:02
Anônimo disse...

ate que nós poderiamos fazer|compor uma música envolvendo Xiquexique e Barra como a belissima entre Juazeiro e Petrolina

13/2/14 14:06

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