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Paulo Malhães um Torturador e Assassino |
Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, o
coronel reformado do Exército Paulo Malhães, 76 anos, admitiu ontem , 25, que
torturou e matou brasileiros inimigos do regime militar-fascista que se
implantou no País durante os anos 60, 70 e 80, presos nas prisões clandestinas da repressão, como a
Casa da Morte de Petrópolis.
“Quando o senhor vai se desfazer de um corpo, quais
são as partes que podem determinar quem é a pessoa? Arcada dentária, digitais e
só”, respondeu ele aos questionamentos de José Carlos Dias, membro da CNV.
“Quebrava os dentes. As mãos, não (eram cortadas). Cortavam-se os dedos. E aí
se desfazia do corpo… Eu não era tão especialista assim, existia gente mais
especialista do que eu”, disse.
Os
militantes assassinados eram aqueles
que, após serem presos, não concordavam em trabalhar para o Exército como agentes
infiltrados em suas organizações de esquerda. Malhães também explicou que as
mutilações nos corpos eram feitas em quartinhos das prisões clandestinas.
Questionado diversas vezes sobre quantos presos políticos matou, o coronel
disse não lembrar. “É impossível determinar quantos”, afirmou.
O
militar também admitiu que não tem nenhum arrependimento dos crimes que
cometeu.
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Torturador e Assassino Carlos Alberto USTRA |
“Eu acho que eu cumpri o meu dever”, declarou.
Questionado sobre seu envolvimento no desaparecimento da ossada de Rubens
Paiva, ele disse que recebeu a missão do Centro de Informações do Exército, mas
não conseguiu cumpri-la pois foi acionado para outra ação. Em outro momento do
depoimento, disse que os restos mortais de Rubens Paiva eram “uma massa morta,
enterrada e desenterrada”. “Não tinha mais nada. Nem sei se aquela massa era
realmente dele.”
Paulo Malhães assumiu que foi um dos comandantes da missão que
sumiu com a ossada do ex-deputado Rubens Paiva em 1973.
Os
acusados de matar o pedreiro Amarildo estão em cana, mas não se constrangeram
em torturá-lo e sumir com ele. No passado não rendeu castigo, por que renderia
agora?
Ainda
é tempo de responsabilizar os torturadores e matadores da ditadura. Levá-los
aos tribunais serviria de advertência às futuras gerações: não reeditem a
covardia, porque haverá punição.
Ou
seja, deveriam prevalecer os mesmos valores que, justamente, castigaram
genocidas da Alemanha, veteranos da Segunda Guerra, do Cambodja, da matança
patrocinada pelo Khmer Vermelho, e da Argentina dos generais e seus sócios
civis.
Quando
crimes contra a humanidade são perdoados, reluz o sinal verde para tudo se
repetir.
Não
adianta conhecer a verdade se, de posse dela, o Brasil não ensina: quem
torturar, executar e sumir com seres humanos vai pagar por isso.
E
não basta responsabilizar somente quem sujou as mãos diretamente. É preciso
esquadrinhar a cadeia de comando e punir os chefes, até a cúpula.
Trata-se do preço que estamos pagando por não havermos instalado em 1985 um tribunal como o de Nuremberg. Redemocratização pela metade dá nisso.