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Não confie em ninguém com mais de 30 anos

6/11/2014


O título se refere a uma canção de Marcos Valle, muito em voga na década de 1970, uma época em que a juventude, insatisfeita com as propostas oferecidas pela sociedade de então, bradava que “outro mundo é possível”. “Bradava”, porque, infelizmente, seus gritos não deram em nada. 

A própria “revolução cultural”, iniciada na Europa em 1968, foi abortada pela mídia neoliberal, ao levar os jovens a substituir os ideais e valores que os sustentavam pela busca desenfreada do poder e do prazer, alienando-os, assim, dos problemas que afligem a humanidade.

Mas passou, também, o tempo, eles atingiram 60, 70 anos e chegaram à idade da descrença, quando crescerem e se avolumaram as desilusões. É natural, então, que brote o conformismo. No desfibramento, na senectude, nasce a flor morta da conformação. A luta pelo futuro cede o lugar à desesperança porque, para um velho, o futuro é a própria, vizinha, imediata morte. O futuro passa a caber em uma porta estreita e mesquinha. Porta, passagem para lugar nenhum. 

Os velhos são mais inclinados ao cinismo do que à vergonha ... Vivem de recordações mais que de esperanças, porque o que lhes resta de vida é pouca coisa em comparação do muito que viveram; ora, a esperança tem por objeto o futuro; a recordação, o passado. 

É essa uma das razões de serem tão faladores; passam o tempo repisando com palavras as lembranças do passado; é esse o maior prazer que experimentam. Aqui se unem o psicológico, o histórico, o social, o orgânico simples da vida e a experiência em uma só pessoa. Se essa união se aplica a qualquer homem, do nascimento à velhice, com mais propriedade se aplica aos velhos. Neles há com mais propriedade a experiência. Neles se mostra mais às claras o "orgânico simples da vida". Neles se encarna o histórico vivido.

Existem alguns doidos, desequilibrados, que tentam, e conseguem, à sua maneira, fugir da lei universal. Existem uns românticos empedernidos que resistem numa luta desigual contra o destino da biologia. 

Mas os jovens foram e continuam sendo um sinal de contradição. Na verdade, assim como a velhice, também a juventude, mais do que um período da vida, pode ser um estado de espírito. Oxalá esse estado de espírito seja colocado a serviço de um mundo melhor. Somente assim os jovens revolucionários de hoje não serão os velhos reacionários de amanhã.

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