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O indiscreto charme da pequena burguesia tupiniquim

2/24/2015


 
 
No Brasil ainda perduram em segmentos da população, aquelas pessoas que não ajudam em casa ou em lugar nenhum. Tem gente que não sabe nem mesmo colocar e tirar uma mesa ou arrumar a própria cama.  

Atiram suas coisas pela casa, no chão, em qualquer lugar, e as deixa lá, pelo caminho. Não estão nem aí. Eles foram  criados irresponsáveis e inconsequentes. É o tipo de cara que pede um copo d’água deitado no sofá. E não faz nenhuma questão de mudar. 

São especialistas em não fazer, em fazer de conta, em empurrar com a barriga, em se fazer de morto. Sabem que alguém fará por eles. Então se desenvolveram em preguiçosos. Folgados. Que se escoram nos outros, não reconhecem obrigações e que adoram levar vantagem. Esse é o seu esporte predileto – transformar quem o cerca em seus otários particulares.

O tempo deles vale mais que o das demais pessoas. É a mãe que fura a fila de carros no colégio dos filhos. É a moça que estaciona em vaga para deficientes ou para idosos. É o casal que atrasa uma hora num jantar marcado com os amigos. A lei e as regras só valem para os outros. Não aceitam restrições. Para eles, só privilégios e prerrogativas. Um direito divino – porque eles são melhores que todos os outros. São  adeptos do vale tudo social, do cada um por si e do seja o que deus quiser. Eles só tem olhos para o próprio umbigo e os únicos interesses válidos são os seus.

Arvoram-se parâmetros de tudo. Quanto mais alguém for diferente deles, mais errado esse alguém estará. Eles tem preconceito contra pretos, pardos, pobres, nordestinos, baixos, gordos, gente do interior, gente que mora longe e até com gente que escreve neste blog.

São sexistas para caramba. Mesma lógica: quem não é da sua tribo, do seu quintal, é torto. E às vezes até quem é da tribo entra na moenda dos seus pré-julgamentos e das sua maledicências. 

Os perfeitos idiotas de classe média brasileiros vão para Orlando sempre que podem. Seus templos, seus centros de peregrinação, são os outlets na Flórida. Acham a Europa chata. E a Ásia, um planeta esquisito com gente estranha e amarela que não lhe interessa. Há um tempo,  descobriram Nova York – para onde vão exclusivamente para comprar. Ficaram meia hora dentro do Metropolitan, uma vez, mas acharam aquilo aborrecido demais. Comem pizza no Sbarro. Jogam lixo no chão. Só anda de táxi – metrô, com a galera, nem em Manhattan. 

Nos anos 90, compravam camiseta no Hard Rock Cafe. Hoje viraram sacoleiros em lojas com Abercrombie & Fitch e Tommy Hillfiger. Depois de toda a farra, ainda trocam cotoveladas no free shop para comprar uísque, perfume, chocolate e maquiagem.

Adoram pagar caro. Fazem questão. Não apenas porque, para eles, caro é sinônimo de bom. Mas, principalmente, porque caro é sinônimo de “cheguei lá” e “eu posso” e “veja o quanto eu paguei nesse relógio ou nessa calça da Diesel”. Eles exibem marcas como penduricalhos numa árvore de natal. É assim que se mostram para os outros. Se pudessem, deixariam as etiquetas presas aos itens do vestuário e aos acessórios que carregam. São bregas. Compram para se afirmar, para se expressar de algum modo.Não se sentem idiotas pagando 4 000 reais por um console de vídeo game que custa 400 dólares lá fora. 

Nem acham um acinte pagar 150 000 reais por um carro que vale 25000 dólares. Essa é a sua religião. Eles não se importam de ficar no vermelho – a preocupação com ter as contas em dias é para os fracos. Ele é o protótipo do novo rico burro. Do sujeito que acha que o bolso cheio pode compensar uma cabeça vazia.

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