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COMO DANTES, NO QUARTEL DE ABRANTES

4/10/2015


(Texto resgatado do Jornal  impresso “A Voz”, edição de Dezembro de 2002)


Praça Dom Máximo


Dizem que santo de casa não faz milagre. Mas o “milagre brasileiro” daqueles manjados e angustiantes  tempos do “Brasil, ame-o ou deixe-o” cópia tupiniquim do nacionalismo vigente na Itália nos abomináveis anos do fascismo, atingiu, consideravelmente, o barranqueiro são-franciscano nos deixando marcas indeléveis. O progresso da nossa região era prometido e cantado em versos de cordel e em prosas nas bodegas  destas plagas.

Era um entusiasmo sem par.

A barragem de sobradinho, dizia uns,  vai trazer indústrias para  nossa região e todos nós teremos empregos ... Essa era a voz uníssona dos mais  exaltados ribeirinhos.  Mas o que se viu e ainda se vê é que tudo ficou como Dantes no Quartel de Abrantes.  Grande parte dos barranqueiros foi encaminhada para as agrovilas, desmantelando as famílias dos sofridos sertanejos.

XiqueXique submergiu, literalmente, nos anos de 1979 e 1980, com reflexos negativos para a economia local, perdurando  nos anos subsequentes. Houve erro de cálculo e de planejamento dos agentes milagreiros representantes do governo militar.

É forçoso lembrar que as turbinas da Hidrelétrica de Sobradinho proporcionaram a claridade elétrica nas ruas, praças e avenidas, becos e quebradas da nossa urbe barranqueira, esnobando o velho motor,  movido a óleo  diesel,  da precária usina localizada na rua Grande. A antiga "usina da luz"  ditava as regras, exteriorizadas em três sinais,  para os  jovens que se divertiam à noite  "rodando" no jardim da Praça Dom Máximo.  O três sinais vindos da rua Grande, era o recado do  apagão rotineiro das 23 horas. A partir desse horário XiqueXique ficava na escuridão real, mas surgia, então,  o clarão virtual, poético.

Os notívagos,  os boêmios contumazes, regozijavam-se nas noites de plenilúnio quando o luar refletia nas águas mansas da ipueira,  a inspirar as serenatas de violão ou  de radiola, dos amantes à moda antiga.

A rua do Perau, o caminho do “pecado”. O restaurante de Neném Facilita era de utilidade pública nas noites  dos poetas e seresteiros, com o utilitário cardápio que anunciava o big Mocotó. Concorria, única e exclusivamente com Neném, naquelas madrugadas de paz, o restaurante de Luizinho, onde se contava  a história dos  abusos sádicos perpetrados contra  a pobre rapariga Maria Bandinha, trucidada covardemente, sem remorsos.

Mas  a dinâmica do tempo real  deletou  toda esta história, de mais baixos do que de altos,  e XiqueXique  se transformou, talvez metamorfoseando-se, tal qual uma crisálida lutrida e nutrida na flor do mandacaru.

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