(Texto resgatado do Jornal impresso “A Voz”, edição de Dezembro de 2002)
Praça Dom Máximo |
Dizem que santo de casa
não faz milagre. Mas o “milagre brasileiro” daqueles manjados e angustiantes tempos do “Brasil, ame-o
ou deixe-o” cópia tupiniquim do nacionalismo vigente na Itália nos abomináveis
anos do fascismo, atingiu, consideravelmente, o barranqueiro são-franciscano nos
deixando marcas indeléveis. O progresso da nossa região era prometido e
cantado em versos de cordel e em prosas nas bodegas destas plagas.
Era um entusiasmo sem
par.
A barragem de sobradinho, dizia
uns, vai trazer indústrias para nossa
região e todos nós teremos empregos ... Essa era a voz uníssona dos mais exaltados
ribeirinhos. Mas o que se viu e ainda se
vê é que tudo ficou como Dantes no Quartel de Abrantes. Grande parte dos barranqueiros foi encaminhada para as agrovilas, desmantelando as famílias dos sofridos sertanejos.
XiqueXique submergiu,
literalmente, nos anos de 1979 e 1980, com reflexos negativos para a economia
local, perdurando nos anos subsequentes. Houve erro de cálculo e de planejamento dos agentes milagreiros
representantes do governo militar.
É forçoso lembrar que
as turbinas da Hidrelétrica de Sobradinho proporcionaram a claridade elétrica
nas ruas, praças e avenidas, becos e quebradas da nossa urbe barranqueira,
esnobando o velho motor, movido a óleo diesel, da precária usina localizada na rua Grande. A antiga "usina da luz" ditava as regras, exteriorizadas em três
sinais, para os jovens que se divertiam à noite "rodando" no jardim da Praça Dom Máximo. O três sinais vindos da rua Grande, era o
recado do apagão rotineiro das 23 horas. A partir desse horário XiqueXique
ficava na escuridão real, mas surgia, então, o clarão virtual, poético.
Os notívagos, os boêmios contumazes, regozijavam-se nas
noites de plenilúnio quando o luar refletia nas águas mansas da ipueira, a inspirar as serenatas de violão ou de
radiola, dos amantes à moda antiga.
A rua do Perau, o caminho do “pecado”. O restaurante de Neném
Facilita era de utilidade pública nas noites
dos poetas e seresteiros, com o
utilitário cardápio que anunciava o big Mocotó.
Concorria, única e exclusivamente com Neném, naquelas madrugadas de paz, o
restaurante de Luizinho, onde se contava
a história dos abusos sádicos
perpetrados contra a pobre rapariga
Maria Bandinha, trucidada covardemente, sem remorsos.
Mas a dinâmica do tempo real deletou
toda esta história, de mais baixos do que de altos, e XiqueXique se
transformou, talvez metamorfoseando-se, tal qual uma crisálida lutrida e nutrida na flor do
mandacaru.
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