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Escrevo-te estas mal traçadas linhas em prosa cibernética

4/06/2015


 


Outro dia estava conversando com um velho conhecido sobre os bons tempos das cartas. Sim, aquelas mesmo: papel, envelope, selo, carteiro – e ficamos filosofando e poetando sobre isso.

É verdade que a Internet, as redes sociais com o  WhatsApp  aproximaram muito as pessoas.   Mais do que os E-mails.  Essa comunicação Permitiu com   celeridade que amigos distantes e, de certa forma, esquecidos em algum lugar da memória, pudessem se reencontrar, continuando a amizade, ou melhor, entrando em uma nova etapa. Raramente uma amizade continua a mesma ao longo dos anos, infelizmente alguma coisa sempre muda, algo sempre se perde pelo caminho.

Não sei explicar exatamente o meu sentimento em relação a isso, mas parece que o WhatsApp  tirou a emoção e o romantismo que havia nas cartas, deixou tudo muito rápido e a espera, de certa forma, mais angustiante. 

Você está esperando muito um WhatsApp.  De cinco em cinco minutos olha seu celular, o seu iPhone 7 ou o  iPod, mas o esperado WhatsApp não vem. Dá outra olhada e nada. Clica em verificar se, por engano, mandaram a mensagem e as fotos por e-mail  e só entra o maldito spam. É uma espera longa. Interminável. Até que finalmente chegam as benditas mensagens e as fotos pelo  WhatsApp. Você clica no link, lê, responde (às vezes com meias palavras) e logo deleta ou o manda pra p.q.p. Escrever no WhatsApp é muito rápido.  Na maioria das vezes  mal há tempo de pensar na pessoa para quem  você está a escrever (veja bem, isto não é uma regra).  E dependendo de como está  o seu humor ou estado de espírito, a conversa acaba ali.

A carta também tem este momento de espera, mas é uma espera que não depende só de você. Depende do carteiro, de quando a pessoa postou a carta, do cara que separa as correspondências na Agência dos Correios... Em minha opinião (e olhem que eu abomino o saudosismo) receber uma carta tinha mais vida, mais alegria. Às vezes eu ficava esperando o carteiro na porta de casa e quando ele me via dava um sorriso: "opa, hoje tem carta pra mim." E o coração já disparava. E não era só isso, eu até  fazia amizade com o carteiro. ( carteiro era o então  conhecido  Reisinho de Aurélio Báia)

Escrever cartas tinha todo um ritual: pegar o papel,  refletir, escolher um pensamento para colocar no início, a caneta não era uma Bic qualquer, às vezes fazia algum desenho ou pintura. Sem contar que a escrita era a próprio punho. Seria uma heresia datilografar uma carta! E após tudo isso ainda tinha de levar o envelope até a agência dos correios...ó tempora ó mores! 

Muito trabalhoso? De certa forma sim. Mas era algo gratificante. Pelo menos pra mim. Ia com alegria ao Correio na rua Monsenhor Costa e conhecia todos os funcionários.  O conteúdo da carta sempre mudava, pois como passavam dias até obter a resposta, o estado de espírito já era outro e sempre havia novos assuntos. 

Ou seja,  atualmente ficamos mais próximos dos amigos distantes e, de certa forma, nos tornamos mais solitários. Parece  que é uma contradição, mas sinto que a Internet tirou parte do convívio físico. Hoje tudo está na nuvem. Inclusive os  amigos e amigas. Parece-me que os velhos amores morreram ou estão no espaço sideral.
 

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