Outro dia estava
conversando com um velho conhecido sobre os bons tempos das cartas. Sim, aquelas mesmo:
papel, envelope, selo, carteiro – e ficamos filosofando e poetando sobre isso.
É verdade que a
Internet, as redes sociais com o WhatsApp aproximaram muito as pessoas. Mais do que os E-mails. Essa comunicação Permitiu com celeridade
que amigos distantes e, de certa forma, esquecidos em algum
lugar da memória, pudessem se reencontrar, continuando a amizade, ou melhor,
entrando em uma nova etapa. Raramente uma amizade continua a mesma ao longo dos
anos, infelizmente alguma coisa sempre muda, algo sempre se perde pelo caminho.
Não sei explicar
exatamente o meu sentimento em relação a isso, mas parece que o WhatsApp tirou a
emoção e o romantismo que havia nas cartas, deixou tudo muito rápido e a
espera, de certa forma, mais angustiante.
Você está esperando
muito um WhatsApp. De cinco em cinco minutos olha seu celular, o seu iPhone 7 ou o iPod, mas o esperado WhatsApp não vem. Dá outra olhada e nada. Clica em verificar se, por engano, mandaram a mensagem e as fotos por e-mail e só entra o maldito spam. É uma
espera longa. Interminável. Até que finalmente chegam as benditas mensagens e as fotos pelo WhatsApp.
Você clica no link, lê, responde (às vezes com meias palavras) e logo deleta ou o manda pra p.q.p. Escrever no WhatsApp é muito rápido. Na maioria das vezes
mal há tempo de pensar na pessoa para quem você está a escrever
(veja bem, isto não é uma regra). E dependendo de como está o seu
humor ou estado de espírito, a conversa acaba ali.
A carta também tem
este momento de espera, mas é uma espera que não depende só de você. Depende do
carteiro, de quando a pessoa postou a carta, do cara que separa as
correspondências na Agência dos Correios... Em minha opinião (e olhem que eu abomino o saudosismo) receber uma carta
tinha mais vida, mais alegria. Às vezes eu ficava esperando o carteiro na porta
de casa e quando ele me via dava um sorriso: "opa, hoje tem carta pra
mim." E o coração já disparava. E não era só isso, eu até fazia amizade com o
carteiro. ( carteiro era o então conhecido Reisinho de Aurélio Báia)
Escrever cartas tinha
todo um ritual: pegar o papel, refletir, escolher um pensamento para colocar no início, a
caneta não era uma Bic qualquer, às vezes fazia algum desenho ou pintura. Sem
contar que a escrita era a próprio punho. Seria uma heresia datilografar uma
carta! E após tudo isso ainda tinha de levar o envelope até a agência dos
correios...ó tempora ó mores!
Muito trabalhoso? De
certa forma sim. Mas era algo gratificante. Pelo menos pra mim. Ia com alegria
ao Correio na rua Monsenhor Costa e conhecia todos os funcionários. O conteúdo da carta sempre
mudava, pois como passavam dias até obter a resposta, o estado de espírito já
era outro e sempre havia novos assuntos.
Ou seja, atualmente ficamos mais
próximos dos amigos distantes e, de certa forma, nos tornamos mais solitários.
Parece que é uma contradição, mas sinto que a Internet tirou parte do
convívio físico. Hoje tudo está na nuvem. Inclusive os amigos e amigas. Parece-me que os velhos amores morreram ou estão no espaço sideral.
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