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Esmolinha pra jejuar o dia de hoje e de sempre

4/03/2015



Entre algumas das principais tradições da Semana Santa,  algumas são repletas de proibições para os fiéis:

Olhar-se no espelho, usar maquiagem e qualquer perfume, por serem sinais de vaidade.


Tomar banho vendo o próprio corpo nu, quando se  acredita que o fiel pode ter pensamentos pecaminosos.

Namorar, dançar, assobiar, comete-se pecado, por serem sinais de alegria, pois Jesus passou o período inteiro sofrendo, segundo os mais devotos.

O maior de todos os pecados, contudo, é manter relações sexuais, principalmente na Sexta-Feira da Paixão. O homem que assim procede, solteiro ou mesmo casado, fica impotente para o resto da vida, e a mulher, incapacitada para gerar filhos. E, se nesse dia, uma criança for gerada, nascerá com o chamado "cão no couro", sendo infeliz até a morte.

Roga-se na Semana Santa, exclamando: "Dona moça, me dê uma esmolinha pra jejuar o dia de hoje!" É o  humilde apelo que  ainda se ouve na Quinta e na Sexta-Feira Santa da Quaresma católica nestas bandas ribeirinhas do médio São Francisco, sertão de tantas tradições e de religiosidade quase mística. Adultos e crianças da periferia batem  à porta das casas, com uma sacolinha na mão, a pedir o jejum, que lhes permitirá, provavelmente, uma refeição decente na Sexta-feira da Paixão. 

Ninguém ousa recusar nem pede para passar outro dia. É a caridade nordestina.  Afinal, "repartir" o jejum é garantir a fartura de todos os dias. Então, lá se vai uma batatinha, uma laranja, uma banana, um pouco de farinha, uma medida de feijão, um naco de carne de bode salgada... Nada de sobras. A própria compra da semana já garante uma cota para esta doação. Evidentemente que o costume, com o crescimento das cidades e a chegada de forasteiros, está diminuindo e tende, lamentavelmente, acabar com a tradição da fé cristã.

O ritual de pedir esmola pra jejuar segue na manhã da Sexta-feira da Paixão, quando assim os ricos e abonados ainda permutam bandejas esplêndidas. Os pobres, nesse dia, ainda esmolam de porta em porta, mas com a perspectiva da Aleluia de receberem o Bolsa Família.

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