Os Mamonas Assassinas surgiram aparentemente
do nada, juntamente com a música “Vira-vira” que teve sua primeira execução radiofônica em 5 de
julho de 1995. O Vira-vira era uma espécie de paródia de “Arrebita”, sucesso do português
Roberto Leal, só que com guitarras pesadas e um outro cantor, amalucado, com
sotaque luso falsificado, no papel do gajo que foi convidado “pruma tal suruba”
e que, não podendo ir, mandou a Maria em seu lugar.
Um daqueles sucessos
instantâneos, que demoraram um piscar de olhos para chegar ao topo das paradas,
o “Vira” foi o cartão de visitas para “Mamonas Assassinas”, álbum de estreia da
banda de Guarulhos-SP, lançado logo depois, no dia 23. Nele, outras canções
satíricas, como “Pelados em Santos”, “Robocop gay”, “Sabão Crá-Crá”, “Chopis
centis” e “Uma arlinda mulher” ocupariam, sem deixar muita folga, as
programações de rádio e TV ao longo do ano, fazendo daquele disco um dos mais
vendidos de todos os tempos no Brasil: 2,2 milhões de cópias. Num átimo, os
Mamonas se tornavam, de longe, o mais explosivo casamento de música e humor
nascido no país.
Quando o jatinho que trazia os
Mamonas de um show em Brasília bateu, na noite de 2 de março de 1996, contra a
Serra da Cantareira, matando toda a banda, o Brasil sentiu o baque — e continua
a sentir. Junto com o português da suruba, a Brasília amarela, as fantasias de
personagens da TV e as palhaçadas do vocalista Dinho, foi-se embora boa parte
daquela MPB que fazia rir e pensar. Com uma tradição que remete aos tempos de
caipiras como Alvarenga e Ranchinho (mestres da sátira política), aos sambas de
Noel Rosa, às modinhas de Juca Chaves, às marchinhas de carnaval e ao rock do
início dos anos 1980 (de bandas como Blitz, Magazine, Miquinhos Amestrados e
Ultraje a Rigor), o humor perdeu lugar na canção popular.
O humor e a
diversão que os Mamonas proporcionaram não existem mais. No samba, temos a
irreverência, por exemplo, do Trio Calafrio (Barbeirinho do Jacarezinho, Luiz
Grande e Marcos Diniz, compositores de sucessos de Zeca Pagodinho como “Caviar”
e “Dona Esponja”). Mas, da forma como os Mamonas se expressavam acho que,
infelizmente, foi só com eles.
Eles foram
únicos. Não seguiam nem criaram nenhuma vertente. Simplesmente conjugaram
fatores: bons músicos e compositores, jovens motivados e trabalhadores, disciplinados
e, sobretudo, carismáticos ao extremo — avalia o produtor João Augusto, o
diretor artístico que contratou o grupo para a EMI. — A banda fazia a base para
o Dinho explodir seu talento. Não há como continuar.
Os Mamonas entraram
para o gosto popular talvez pelos atributos físicos. Era um fenômeno jovem, sem
muita profundidade. Os artistas que faziam música humorística até então nunca
tinham tido essa visibilidade.
Sim, os Mamonas foram
um caso único. Mas a música besteirol seguiu outro
rumo. Hoje, temos os MCs de periferia, o funk ostentação, o sertanejo
universitário com o discurso da bebedeira, da farra... É tudo um reflexo do que
o país vive, não se encontra humor em mais nada. Além disso, as coisas não eram
tão escancaradas na política como hoje, quando o que seria piada não é mais.
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