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'Ameaçada' por deputados da CPI da Petrobras, advogada encerra carreira

7/31/2015



Advogada criminal há 18 anos, Beatriz Catta Preta é tida como uma das principais especialistas do Brasil em delação premiada, procedimento que exige dos depoentes provas justificando a concessão de redução de futuras penas. Marcada pela discrição, ela não costumava dar declarações públicas a respeito de seus trabalhos. Além de Julio Camargo, estavam entre seus clientes o ex-diretor e o ex-gerente da Petrobras Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco, respectivamente. Recentemente, Catta Preta já havia desistido de atuar na Lava Jato.

 
Em entrevista exclusiva veiculada em uma emissora de Televisão na noite desta quinta-feira (30), a advogada criminal que atuava em nove dos 22 acordos de delação premiada da Operação Lava Jato, fez graves acusações contra membros da CPI da Petrobras. Dizendo-se ameaçada por deputados membros do colegiado, Catta Preta anunciou o fim de sua carreira na advocacia para preservar a integridade física de sua família.“Não recebi ameaças de morte. Não recebi ameaças diretas, mas elas vêm de forma velada. Elas vêm cifradas”, diz a advogada, em trecho da entrevista.

Convocada para prestar esclarecimentos na CPI sobre a origem de seus honorários, Catta Preta diz que sua decisão está diretamente relacionada a um dos depoimentos do lobista Julio Camargo. Um dos presos que colaboram com a Justiça em regime de delação premiada, Camargo resolveu acusar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de receber US$ 5 milhões em propina no esquema de corrupção na estatal. Em seus primeiros relatos, o delator não havia denunciado Cunha por “medo”, diz a advogada.

“Receio. Ele tinha medo de chegar ao presidente da Câmara”, afirma Catta Preta, instada a comentar o que o teria feito mudar de ideia. “A colaboração dele, a fidelidade, a fidedignidade da colaboração. O fato de que um colaborador não pode omitir fatos, não pode mentir, o levaram então a assumir o risco. Aquele risco que ele temia, em levar todos os fatos à Procuradoria-Geral da República”, acrescentou a advogada.

Diante dos novos desdobramentos da Lava Jato, Catta Preta já determinou o esvaziamento completo de seu escritório. Todos os funcionários foram dispensados e as salas desativadas. Depois de 34 dias de férias em Miami, ela ainda se diz “perseguida e intimidada”.

“Depois de tudo o que está acontecendo, e por zelar pela segurança de minha família, dos meus filhos, eu decidi encerrar a minha carreira na advocacia. Eu fechei o escritório”, concluiu a advogada.


Presidente da CPI da Petrobras, deputado Hugo Motta (PMDB-PB),
Em ação paralela à decisão de Catta Preta, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ajuizou pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para que a advogada não seja obrigada a comparecer à CPI da Petrobras.

Com críticas à CPI, o presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, já aceitou a solicitação da OAB. “[...] é inadmissível que autoridades com poderes investigativos desbordem de suas atribuições para transformar defensores em investigados, subvertendo a ordem jurídica. São, pois, ilegais quaisquer incursões investigativas sobre a origem de honorários advocatícios, quando, no exercício regular da profissão, houver efetiva prestação do serviço”, justificou o magistrado.

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