O Supremo Tribunal Federal tomou uma decisão histórica na tarde de quinta-feira, 17, quando decidiu proibir as contribuições eleitorais de pessoas jurídicas. É uma medida decisiva para defender o princípio democrático mais essencial, pelo qual 1 homem=1 voto.
Num país onde 0,05% dos
contribuintes controlam 12% da riqueza nacional, os brasileiros tornaram-se um
pouco menos desiguais depois de ontem. A decisão abre as portas para se
avançar, no futuro, em direção a um direito essencial – a igualdade
política.
O dinheiro de empresas privadas,
instrumento até aqui fundamental na construção da maioria das candidaturas, em
todos os níveis, em todos os partidos, deixa de ser o elemento principal de
nossa democracia, capaz de inventar políticos e programas como projetos de
laboratório a serviço de seus interesses. Fazendo um pouco de sociologia,
necessária no momento: a classe dominante sofreu uma derrota em seu esquema de
controle do poder político, o que explica a delicadeza da decisão. Nosso
sistema político só tem a ganhar ao emancipar-se diante de interesses privados.
Ao cortar as principais fontes de
financiamento da política, a decisão também irá contribuir para baratear as
campanhas eleitorais – o que é um passo importante para democratizar a luta
política de todos os dias.
O STF levou quatro anos para tomar a
decisão – que chegou a casa como uma Ação Direta de Inconstitucionalidade
proposta pela OAB. Quando a vontade da maioria dos juizes já tinha ficado
clara, o ministro Gilmar Mendes segurou a votação por um ano e cinco meses, com
um pedido de vistas.
O tempo e o placar 8 votos a 3 falam
por si. Os argumentos a favor caminharam na defesa de um valor fácil de
reconhecer pelos brasileiros, pois faz parte de sua história – a noção de que a
igualdade é um princípio constitucional que merece ser perseguido.
Os argumentos contrários poderiam ser
classificados como simples exercícios de uma retórica difícil, num país onde a
desigualdade está longe de ser assunto acadêmico.
A decisão da maioria permite um
debate sem hipocrisia sobre corrupção. Ao adquirir mandatos parlamentares e
executivos, o setor privado passa a contar com aliados permanentes nos poderes
de Estado, que ali são instalados para atender suas vontades e interesses.
Chamados de "propina "ou
"contribuição eleitoral" conforme o interesse político do momento,
como se vê no tratamento diferenciado a tucanos e petistas na Lava Jato, as
doações de campanha significam essencialmente a mesma coisa: investimentos
privados que serão cobrados depois da vitória.
Entre países que costumam servir de
exemplo para os debates brasileiros, os Estados Unidos são o único caso de uma
legislação semelhante. Não por acaso, têm o estado de bem-estar social mais
precário entre os países de grau equivalente de desenvolvimento socio-econômico.
A força do dinheiro privado trabalha nos EUA de forma incessante contra todo
tipo de serviço público, a começar pela saúde e aposentadoria.
A decisão do STF também permite
resolver uma situação absurda criado pela Câmara de Deputados. Numa tentativa
de eternizar a condição de empregados do poder econômico que paga suas contas,
uma maioria de parlamentares da oposição aprovou numa votação relâmpago – e
irregular – um projeto de lei que autoriza a contribuição de empresas.
Dilma Rousseff sempre
considerou a hipótese de usar o poder de veto contra essa decisão. No governo,
tem-se a decisão como tomada. Ao dizer que essas contribuições são
inconstitucionais, o Supremo garante à presidente toda legitimidade para vetar
a decisão das raposas sobre o galinheiro
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