
O fato é que hoje vemos a classe
média saindo às ruas vociferando contra o comunismo, contra Cuba, contra a
Venezuela e o chavismo, contra o programa bolsa-família, contra o PT, contra o
MST, gritando contra a corrupção, em defesa da ética, ao mesmo tempo solicitando
a volta dos militares ao poder e até lamentando que a presidente Dilma Rousseff
não tenha sido enforcada pelas forças repressivas da ditadura civil-militar.
Nesse complexo encontramos desde
os interesses escusos do PSDB por detrás dos atos realizados; a presença forte
de visões absolutamente reacionárias e preconceituosas plantadas
sistematicamente por veículos da grande mídia; a retomada anacrônica,
completamente deslocada, de coisas como a propaganda anticomunista dos tempos
da Guerra Fria; uma interpretação asinina do momento brasileiro que não
consegue compreender o papel colaboracionista dos governos atuais; até a
constatação dos estreitos limites das aspirações mesquinhas da classe média,
incapaz de alargar seu horizonte de análise e de proposição para além dos muros
de seus condomínios fechados.
A classe média que hoje sai às
ruas é ignorante porque não é capaz de fazer a reflexão histórica e reconhecer
que se não fossem as lutas populares ainda estaríamos trabalhando em jornadas
de 12 horas semanais ou mais, sem as mínimas garantias e proteção social, as
mulheres não teriam o direito ao voto e nem sequer teríamos o arremedo de ordem
democrática que hoje temos.
Ela não consegue enxergar quem
são os verdadeiros responsáveis pela alarmante situação social que vivemos,
situação que a deixa, ela própria, tão desconfortável e insegura. A classe
média, essa mesma classe que jamais foi padrão de comportamento ético no
cotidiano, hoje vocifera contra o governo federal, mas não consegue ampliar seu
foco para o Congresso e para o modus operandi das forças que
estão no poder há séculos. Ela não consegue ver o que se passou anteontem com
as privatizações ou o que se passou em matéria de corrupção recentemente em
Minas Gerais e ocorre em São Paulo e noutros estados comandados pelos partidos
que admira.
Enquanto a classe média tem a
coragem de sair às ruas para reclamar porque não tem mais podido viajar ao
exterior tantas vezes, porque não cogita mais trocar de automóvel com
facilidade, porque diminuíram suas margens de especulação financeira, as
esquerdas, os de baixo e os trabalhadores rurais sem terra que acampam sob a
lona preta estão atuando politicamente inspirados em princípios de justiça,
solidariedade, igualdade, tudo aquilo que ela, a classe média, só professa
durante seus rituais religiosos dominicais ou no Natal, quando se derrama em
caridade, mas ao mesmo tempo promove a segregação com as normas de utilização
dos elevadores de serviço.
É essa gente, cujas preocupações
se resumem ao limite de seu cartão de crédito e outras trivialidades egoístas,
que está indo às ruas clamando por ética e agredindo os lutadores sociais que
dedicam suas vidas ou seu tempo livre para lutar por um país solidário e
fraterno.
Essa classe média é estúpida
porque sai às ruas agredindo moralmente aqueles que lutam por um país melhor;
aqueles que se ocupam de questões coletivas, como as injustiças sociais, as
condições de vida do povo trabalhador, a destruição ambiental, a saúde pública,
a educação pública, a questão indígena, a discriminação racial, a atual crise
dos refugiados sírios ou a opressão em geral.
Trecho de texto extraído no Correio da Cidadania
Justino de Sousa Junior
"The marxista program of education and the principle of práxis"
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