Um dos maiores erros da presidente Dilma no início
do segundo mandato foi ter mantido Aluizio Mercadante no Gabinete Civil e a
coordenação política com o vice Michel Temer. Não funcionou, como se viu,
e isso não depõe contra a capacidade política e intelectual deles. Eram
pessoas erradas no lugar errado e na hora errada. dois não se bicavam,
Mercadante estava desgastado junto aos aliados e Temer amargurado, como se viu
depois por sua carta.
O maior acerto de Dilma, na reforma ministerial,
foi ter substituído Mercadante por Jacques Wagner e ter transferido a
coordenação política para Ricardo Berzoini. Os dois atuam em fina sintonia, e
só isso já é um tento. Berzoini já havia demonstrado, na primeira
passagem pelo cargo, habilidade para lidar com os partidos da coalizão. Wagner,
além da facilidade para dialogar e articular, e da confiança que inspira aos
aliados, vem se revelando também um eficiente grilo falante para Dilma.
Presidentes não podem dizer tudo o que precisa ser
dito pela própria boca. Precisam de grilos falantes, que são mais que
porta-vozes oficiais, destes que emitem declarações oficiais, geralmente
burocráticas e protocolares.
O grilo falante é outra coisa. Precisa ter estatura
política suficiente para convencer a todos de que fala aquilo que o presidente
pensa, embora sem declarar isso. Precisa também de credibilidade e de autonomia
para falar, mesmo sem consulta prévia ao governante a que serve. Com
Dilma isso não é fácil, ela delega pouco e reclama muito de iniciativas de
auxiliares. Mas com Wagner tem funcionado, e isso a tem ajudado.
Quem, além de Lula, ousaria dizer, como fez ele na
entrevista do dia 2 à Folha, que o PT se lambuzou no poder ao reproduzir
métodos da velha política que combateu? Na série de mensagens desta
segunda-feira pelo twitter Wagner não só atacou Eduardo Cunha e o pedido de
impeachment, “fruto de uma vingança”, assegurando que ele será enterrado ainda
na Câmara. . "Eu, a presidenta Dilma e todo o governo estamos confiantes
de que o processo de impeachment não sobreviverá aos primeiros testes na
Câmara".
Reconheceu erros do governo, o que muita gente
gostaria de ouvir, com mais ênfase, da boca de Dilma mas quando é Wagner
que o faz, é como se fosse ela. "Temos plena consciência de alguns erros
que cometemos e das dificuldades que precisamos vencer na economia."
Para um governo que sempre teve dificuldades em se
comunicar, e cuja presidente não tem o dom da palavra, como seu
antecessor, a atuação de Wagner como “vocero” político é um achado,
embora palavras não movam moinhos.
Para enterrar o impeachment, depois
que o Supremo colocou ordem no ritual, o governo terá que mapear as ilhas de
insatisfação em sua base e obter muito mais que os 171 votos, para não deixar
dúvidas sobre a legitimidade do mandato a ser mantido.
Tereza Cruvinel
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