Se
houvesse um Guiness para países que derrubam seus presidentes o Brasil ficaria,
facilmente, com ele para sempre. O talento do brasileiro nesse quesito é
assombroso. Mais que talento, é quase uma obsessão, uma tara! Derruba-se
presidentes a pretexto de tudo e de nada. Não importa o motivo. O que interessa
é derrubar, cassar, afastar, esmigalhar. Ver o circo pegar fogo. Sem medir as
consequências.
Getúlio
inaugurou a série de golpes em 1930. Vestiu-se de militar para tirar do poder
Washington Luís, punido porque seu candidato, Julio Prestes fora eleito com
fraude eleitoral – segundo os getulistas. É claro que Getúlio jamais provou a
fraude, arrancou Washington Luís do palácio à força – sabe-se lá como tinha
mais poder militar que o governo federal - e conseguiu convencer a nação que o
criminoso era quem tinha "fraudado" as eleições e não quem tinha dado
o golpe – ou seja, ele.
As
consequências do golpe foram trágicas. Getúlio logo percebeu que a primeira
providência a tomar era proteger-se para não ser derrubado, por isso instituiu
a ditadura. Fim das eleições, censura à imprensa, censura de opiniões, prisão,
tortura e morte para quem criticar o governo.
Os
paulistas tentaram dar um golpe nele, sem sucesso, em 1932, o chamado golpe do
bem, mas seria um golpe - para derrubar quem tinha derrubado – e tiveram que
esperar até 29 de outubro de 1945 quando ele foi deposto pelo general Gois
Monteiro – naquela época, e até 1985, golpe era exclusividade dos militares .
Getúlio
tomou um novo golpe em 1954, no sentido figurado: na realidade suicidou-se, mas
foi a forma que encontrou de resistir ao golpe dos generais que exigiam a sua
queda.
O vice,
Café Filho, que deveria ficar até a posse do novo presidente eleito, não
esquentou a cadeira, caiu logo e entregou a faixa a Nereu Ramos, que caiu logo
em seguida por intervenção do marechal Lott que o acusou de conspirar contra a
posse de JK. Empossado ele foi mas não governou sem tentativas de golpe, como a
revolta de Aragarças.
Também
foram os militares, indiretamente, os responsáveis pela ruptura seguinte
quando, em 1961, Jânio Quadros renunciou por não resistir a "forças
terríveis", que não há como não associar aos quartéis. Dessa vez os
militares não entregaram a presidência de mão beijada ao vice, como fizeram com
Café Filho, impuseram condições, ou seja, desobedeceram à constituição que
determina que no impedimento do presidente assume o vice e ponto final.
Os militares
deram um golpe na constituição em 1961 antes de dar o golpe final em 1964
quando Jango abandonou o palácio assim como fizera Jânio. Estranhamente,
tentaram transformar Jango em heroi e Jânio em vilão.
Finalmente
no poder por meio do golpe a que chamaram de revolução, os militares deram o
segundo golpe com a edição do AI-5, que foi o pontapé inicial de uma guerra
sangrenta entre os golpistas e os democratas, que os primeiros tentaram rotular
de comunistas para justificar as atrocidades que perpetraram.
Os
golpistas também sofreram golpes de seus pares. Silvio Frota, o mandarim da
linha dura, tentou derrubar Geisel. E então foi derrubado por ele. Otávio
Medeiros e Newton Cruz, adeptos de Frota conspiraram para derrubar Figueiredo e
colocar no cargo alguém mais afinado com sua linha política contrária à
abertura com o atentado do Riocentro.
Os
militares voltaram aos quartéis, mas as tentativas de golpe, não. Fora Sarney,
fora Collor, fora Itamar, fora FHC, fora Lula, fora Dilma passaram a cobrir
muros e paredões das capitais brasileiras, é o que se repete há 30 anos.
Os
números são eloquentes. Dos 20 governos no poder desde 1930 temos 14 episódios
em que presidentes sofreram tentativas de golpe ou foram derrubados: 1) Getúlio
derrubou Washington Luis; 2) Gois Monteiro derrubou Getúlio; 3) generais
derrubaram Getúlio levando-o a se suicidar; 4) Café Filho foi afastado; 5)
Nereu Ramos deposto: 6) tentativa de golpe contra posse e a revolta de
Aragarças contra JK; 7) Jânio derrubado por "forças terríveis" renuncia;
8) Jango foi derrubado: 9) tentativa de derrubar Geisel; 10) tentativa de
derrubar Figueiredo; 11) Collor derrubado; 12) tentativa de derrubar FHC; 13)
tentativa de derrubar Lula e 14) tentativa de derrubar Dilma.
Não tenho
como avaliar o que o país perdeu com essa sucessão de guerras civis, armadas ou
não, mas é certeza que perdeu muito porque o desenvolvimento não convive bem
com terremoto político. Mais do que lamentar as perdas cabe constatar que esse
não é o caminho, não se constrói um país destruindo seus líderes a torto e a
direito.
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