Muitos foram os peemedebistas que lhe
ofereceram os fósforos mas houve também o que fizeram advertências sobre o que
ele enfrentará se for empossado.
Com o rompimento do PMDB, o
impeachment de Dilma torna-se mais provável. O governo, pescando no varejo,
pode garantir no máximo uns 15 votos de pemedebistas. Mas, para além dos votos
contra o impeachment, há o efeito político sobre outros partidos e parlamentares.
A partir de hoje, Temer estará à
vontade para articular a maioria de 342 votos necessários à aprovação do
impeachment na Câmara, o que passa pela negociação com outras siglas sobre a
composição de seu eventual governo. Os ministros do PMDB terão até o dia
12 para pedir demissão, mas Henrique Alves, do Turismo, demitiu-se ontem.
Afora
os sete ministros, mais de 500 peemedebistas ocupam cargos no governo
federal e eles serão um primeiro problema para Michel, que precisará lhes
garantir a permanência em seu eventual governo, embora vá ter que dividi-lo com
o PSDB, o DEM e outros partidos da oposição. Mas isso são ninharias que o
fisiologismo resolve.
Mais complicado, se o impeachment
passar, será governar. Se a Câmara autorizar a abertura do processo contra
Dilma na primeira quinzena de abril, o Senado ainda terá que aceitar ou não a
instauração do processo. Decisão por maioria simples de 41 votos, algo
mais tangível para o Planalto.
Mas se o governo for novamente derrotado nesta
segunda chance, Dilma será afastada do cargo inicialmente pelo prazo máximo de
180 dias, até que o Senado conclua o julgamento. Nesta fase, Michel será
presidente interino. Terá que formar um governo provisório com as forças que
apoiaram o impeachment e sob o signo da provisoriedade terá que lidar com a
crise econômica e com a reação das ruas.
Seu governo provisório,
diferentemente do de Itamar Franco nesta mesma fase, não contará com a boa
vontade geral, muito pelo contrário, disse-lhe um amigo contrário ao
rompimento. Será infernizado pelos defensores de Dilma, que continuarão nas
ruas com a campanha “não vai ter golpe”.
Um aviso neste sentido foi dado
com todas as letras nesta segunda-feira pelo líder do governo no Senado,
Humberto Costa, em discurso na tribuna. E, diferentemente do que houve com
Itamar, Temer terá oposição no Congresso, ainda que formada apenas pelos
partidos fechados com Dilma, PT, PC do B e PDT. Com Itamar, mesmo não
participando do governo, PT e esquerdas baixaram as armas e colaboraram.
O PSDB, que nunca gostou do PMDB (que
renegou ao romper para fundar a nova sigla), vai sentir-se o portador da
vontade política que resultou no impeachment, exigindo uma hegemonia
conflitante no eventual governo.
E para a História, ainda que o STF
venha a homologar a acusação apresentada contra Dilma, a de que as pedaladas
fiscais, prática corrente em toda as federação, constituem crime de
responsabilidade, ficarão registrados os ecos do “não vai ter golpe”,
a resistência dos movimentos sociais, a divisão do país e do meio
jurídico. Para a história e para a biografia de Temer.
A busca do poder exige que um político corra riscos, e Temer decidiu enfrentá-los. Bem maiores, porém, serão as consequências da ferida para a democracia brasileira e da turbulência para o conjunto dos brasileiros.
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