Assustada com a repercussão
devastadora das gravações de Romero Jucá (leia aqui), em que o braço
direito de Michel Temer revela que o impeachment nada mais foi do que uma trama
para deter a Operação Lava Jato ("parar essa porra" e "estancar
essa sangria"), a Globo, principal fiadora desse processo, publica um editorial
extemporâneo para cobrar do presidente interino a demissão do ministro.
"Até para não dar razão aos lulopetistas que denunciam uma
trama contra a Lava-Jato por trás do impeachment de Dilma, o presidente não
pode demorar para afastar o auxiliar. Ou o próprio Jucá deve entregar o cargo,
para poupar Temer de mais dissabores. O tempo corre contra o governo", diz
o texto.
O áudio
caiu como uma bomba e comprovou que o impeachment foi uma "assembleia de
bandidos, presidida por um bandido, para afastar uma presidente honesta",
como definiu o escritor português Miguel Souza Tavares, e, em seguida, impor a
agenda econômica defendida pelos irmãos Marinho.
Leia, abaixo, a íntegra do editorial:
Editorial: A hora de Temer
NÃO SE DISCUTE a legitimidade do governo interino de
Michel Temer, eleito pelos mesmos votos que mantiveram a presidente Dilma no
Planalto, hoje afastada à espera do julgamento do seu impeachment.
TEMER, porém, precisa entender a
delicadeza do momento político e econômico, que lhe exige ações duras, rápidas,
sem tergiversações. Na economia, a partir da qualidade da equipe que tem
conseguido montar e das análises já feitas em público, o governo parece bem
encaminhado.
NA POLÍTICA, nem tanto. Entende-se que Temer
necessita de sólido apoio no Congresso para conseguir aprovar reformas
imprescindíveis, sem as quais o país não superará a crise fiscal. Mas tudo tem
limites.
COMO É O CASO DA REVELAÇÃO, feita pela “Folha de S.Paulo”, de
diálogos do braço-direito do presidente, o senador licenciado Romero Jucá
(PMDB-RR), ministro do Planejamento, com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio
Machado, gravados por este.
O CONTEÚDO do que foi revelado, e não desmentido
pelo ministro em entrevista coletiva, torna inviável a sua permanência no
governo. O presidente interino pode inviabilizar sua gestão caso decida manter
Jucá.
O MINISTRO dá explicações clássicas, reclamando
de que frases estão fora de contexto e assim por diante. Mas fica translúcido
que Jucá e Machado, dois apanhados nas malhas da Lava-Jato — o ministro ainda
sendo investigado —, tramavam barrar a Operação num eventual governo Temer. O
contrário do que o próprio presidente se comprometeu a fazer ao assumir. Os
diálogos, portanto, também atingem Temer.
ATÉ PARA
NÃO DAR RAZÃO aos lulopetistas que denunciam uma trama contra a Lava-Jato por
trás do impeachment de Dilma, o presidente não pode demorar para afastar o
auxiliar. Ou o próprio Jucá deve entregar o cargo, para poupar Temer de mais
dissabores. O tempo corre contra o governo.
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