Romero Jucá acaba de anunciar que entra de licença a partir desta terça-feira; em gravação, ele confessou que o impeachment nada mais foi do que uma trama para derrubar a presidente Dilma Rousseff, colocar um novo governo, o de Michel Temer, e parar as investigações da Lava Jato; nas conversas com Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro, ele disse que era preciso "parar essa porra" e "estancar a sangria"; em menos de duas semanas, Temer produz mais uma crise gigantesca e corre o risco de não resistir no cargo; ao chegar no Congresso para falar sobre a meta fiscal, ele foi vaiado e chamado de golpista; Moreira Franco é cogitado para assumir o cargo de Jucá
O ministro do Planejamento, Romero Jucá, disse que pedirá licença do
cargo até que o Ministério Público Federal esclareça as “condições” de seu
áudio divulgado nesta segunda-feira.
A partir desta terça, o ministério do Planejamento terá o atual
secretário-executivo, Dyogo Oliveira, no comando. Moreira Franco é
cogitado para assumir o cargo.
A saída de Jucá ocorre horas depois do escândalo da gravação em que ele
conversa com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, a quem diz que é
preciso "parar essa porra" e “estancar a sangria” da Lava Jato com a
troca do governo.
Em menos de duas semanas, Temer produz mais uma crise gigantesca e corre
o risco de não resistir no cargo.
Ao chegar no Congresso para falar sobre a meta fiscal, ele foi vaiado e
chamado de golpista.
No fim de semana, sua casa, em São Paulo, foi cercada por
manifestantes.
Até agora, Temer ainda não conseguiu colocar os pés na rua.
Confira reportagem da Agência Brasil:
Jucá vai se licenciar do cargo de
ministro do Planejamento
Ivan Richard - O ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB), disse
agora que vai se licenciar do cargo a partir de amanhã (24) até o Ministério
Público Federal se manifestar sobre as denúncias contra ele.
"Vamos aguardar a manifestação do Ministério Público com toda a
tranquilidade, porque estou consciente que não cometi nenhuma irregularidade e
muito menos qualquer ato contra a apuração da Lava Jato, apoiei a Lava
Jato", disse em entrevista no Congresso Nacional, após o presidente
interino Michel Temer entregar a proposta de meta fiscal revisada.
"Enquanto o MP não se manifestar, aguardo fora do ministério. Depois
disso, caberá ao presidente Temer me reconvidar ou não, ele vai discutir o que
vai fazer", afirmou.
O jornal Folha de S.Paulo publicou reportagem hoje (23) que diz que em
conversas, gravadas em março, o atual ministro do Planejamento, Romero Jucá,
sugeriu ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado um pacto para impedir o
avanço da Operação Lava Jato sobre o PMDB, partido do ministro.
Jucá disse que vai protocolar hoje um pedido na Procuradoria-Geral da
República (PGR) para que o órgão avalie se há alguma ilegalidade na gravação
que comprometa a permanência dele no ministério. No período da licença, Jucá
reassumirá o mandato de senador e permanecerá na presidência do PMDB. O
Ministério do Planejamento ficará sob comando do secretário-executivo Dyogo de
Oliveira.
Romero Jucá disse que a decisão de se licenciar foi pessoal. Segundo
ele, o presidente interino Michel Temer deu um voto de confiança, mas preferiu
se licenciar para não ser usado "como massa de manobra".
Entrevista
Mais cedo, o ministro do Planejamento, Romero Jucá, negou que tenha
tentado obstruir as investigações da Operação Lava Jato. Jucá disse ainda que
não iria pedir afastamento do cargo. O ministro afirmou que não teme ser
investigado.
"Nunca cometi e nem cometerei qualquer ato para dificultar qualquer
operação, seja Lava Jato, ou qualquer outra", disse Jucá, em entrevista coletiva
à imprensa. "Da minha parte, sempre defendi e explicitei e apoiei com atos
a Operação Lava Jato. A política terá uma outra história depois da Operação
Lava Jato".
De acordo com a reportagem, em um dos trechos da gravação Jucá disse que
"tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria".
Ao ser questionado sobre o trecho, Jucá disse que estava se referindo ao
cenário da economia do país, e não a uma paralisação da Lava Jato.
"Estava falando em delimitar as responsabilidades, que é dividir
quem tem culpa e não tem culpa. Delimitar responsabilidade não é parar a
investigação. Não tem esse diálogo, nessa conversa", disse, argumentando
que o jornal usou "frases soltas dentro de um diálogo".
"A análise que fiz e comentários que fiz com o senador Sérgio
Machado [ex-presidente da Transpetro, subsidiária da Petrobras] são de domínio
público. Disse o que tenho dito permanentemente a jornalistas, em entrevistas e
debates", afirmou.
Denúncia
A Folha de S.Paulo divulgou nesta segunda-feira (23) trechos de gravações
obtidas pelo jornal que mostram conversas entre o ministro do Planejamento,
Romero Jucá (PMDB-RR), e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Nas
gravações, segundo o jornal, o ministro sugere que seria preciso mudar o
governo para "estancar" uma "sangria". Segundo as
informações do jornal, o ministro estaria se referindo à Operação Lava Jato,
que investiga fraudes e irregularidades em contratos da Petrobras.
Segundo a reportagem publicada pela Folha, os diálogos ocorreram em
março deste ano. As datas não foram divulgadas e o jornal diz que as conversas
ocorreram semanas antes da votação do processo de impeachment da presidenta
Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. De acordo com o textp, Machado teria
procurado líderes do PMDB por temer que as apurações sobre ele, que estão no
Supremo Tribunal Federal (STF), fossem enviadas para o juiz federal Sérgio
Moro, em Curitiba, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância.
Nos trechos publicados, Machado diz que está preocupado com as possíveis
delações premiadas que podem ser feitas. "Queiroz [Galvão] não sei se vai
fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado
porque eu acho que... O Janot [procurador-geral da República] está a fim de
pegar vocês. E acha que eu sou o caminho".
Jucá responde que Machado precisava ver com seu advogado "como é
que a gente pode ajudar" e cita que é preciso haver uma resposta política
e mudança no governo. "Tem que mudar o governo pra poder estancar essa
sangria", disse o ministro, segundo o jornal.
No diálogo publicado, Machado diz que a "solução mais fácil"
era ter o então vice-presidente Michel Temer na presidência e que seria preciso
fazer um acordo. "É um acordo, botar o Michel, num grande acordo
nacional" e Jucá responde: "Com o Supremo, com tudo". Logo em
seguida Machado diz: "Com tudo, aí parava tudo" e o ministro
concorda: "É. Delimitava onde está, pronto".
Ainda segundo o jornal, Machado imagina que o envio do caso para Moro
poderia ser uma estratégia para que ele faça uma delação premiada. A matéria
diz ainda que ele teria feito uma ameaça velada e pedido uma estrutura para dar
proteção. "Como montar uma estrutura para evitar que eu 'desça'? Se eu
'descer...". Em outro trecho, o ex-presidente da Transpetro diz estar
preocupado com ele mesmo e com "vocês" e que uma saída tem que ser
encontrada.
De acordo com a Folha, Machado disse ainda que novas delações na
Operação Lava Jato não deixariam "pedra sobre pedra". O jornal diz
que Jucá concorda com Machado de que o caso dele não pode ficar com Moro.
Jucá orienta ainda que Machado se reúna com o presidente do Senado,
Renan Calheiros, e também com José Sarney.
Nas gravações divulgadas pelo jornal, o ministro afirmou que teria
mantido conversas com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Não foram
citados nomes e, segundo o jornal, Jucá disse que são poucos os ministros da
Corte aos quais ele não tem acesso. Machado diz que seria necessário ter alguém
com ligação com o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF. Jucá
diz que não tem uma pessoa e que Zavascki é "um cara fechado".
O Supremo Tribunal Federal ainda não divulgou declarações a respeito das
declarações divulgadas na reportagem. Segundo a Folha de S. Paulo, as gravações
feitas somam mais de uma hora e estão com a Procuradoria-Geral da República
(PGR). Procurada pela Agência Brasil, a PGR disse que não irá se manifestar
sobre a reportagem.
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