Dez dias de interinidade de Michel Temer no poder foram suficientes para
o Brasil descobrir que tem um governo ioiô. Um dia vai, um dia vem.
O recuo mais recente, anunciado neste sábado, foi a volta do Ministério
da Cultura. Os artistas gritaram, ocuparam diversos espaços do Minc e venceram.
Mas este foi o exemplo mais recente. Antes disso, houve vários outros
episódios, a saber:
1) Temer garantia que a Secretaria Nacional de Cultura seria ocupada por
uma mulher. Depois de cinco nãos, incluindo Daniela Mercury, ele escolheu um
homem para a função;
2) Na sua primeira entrevista, Henrique Meirelles preparou os espíritos
para a volta da CPMF. Foi podado por vários políticos do entorno de Temer, que
decidiram adiar a questão;
3) A reforma da Previdência traria idade mínima para trabalhadores da
ativa; como o tema é sensível, também parou em algum buraco negro em Brasília;
4) Mendonça Filho, ministro da Educação, havia anunciado o fim da
gratuidade nas universidades públicas. Como não havia combinado com Temer, desdisse
o que havia dito.
5) Assim como ele, Ricardo Barros, da Saúde, dissera que o SUS não
deveria mais ser universal. Pegou tão mal que ele também voltou atrás.
Todos esses movimentos revelam apenas um governo frágil, de legitimidade
duvidosa, que não tem força para fazer valer suas posições.
A continuar nesse ritmo, os que esperam grandes reformas e medidas
polêmicas, como a abertura do pré-sal a empresas estrangeiras, sairão
frustrados.
Após uma série de críticas de setores da sociedade e da classe
artística, o Ministério da Cultura será recriado. A decisão do presidente
interino Michel Temer foi confirmada pelo ministro da Educação, Mendonça Filho.
O ministro da pasta será Marcelo Calero, que já havia sido escolhido para
chefiar a área de cultura quando ainda se pensava nela como uma secretaria
vinculada ao Ministério da Educação (MEC). A medida provisória que trata da
recriação da pasta será publicada noDiário Oficial da União de
segunda-feira (23).
A posse de Calero está prevista para terça-feira (23).
A decisão foi tomada após uma conversa de Temer com Mendonça Filho. O
presidente expôs sua vontade de recriar a pasta recém-extinta e pediu a opinião
do ministro. Mendonça Filho, então, concordou. “É um gesto no sentido de
serenar os ânimos e focar no objetivo maior: a cultura brasileira”, disse o
ministro, em nota divulgada hoje (21) pelo MEC no Facebook.
Na mesma nota, Mendonça Filho confirmou o nome de Calero como ministro.
“Com Marcelo Calero, vamos trabalhar em parceria para potencializar os projetos
e ações entre a educação e a cultura”. Calero chefiava, desde o ano passado, a
Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro. Ele tem 33 anos e ingressou
na carreira diplomática no Itamaraty em 2007.
Críticas e pressão da classe
artística
Desde que assumiu interinamente a
Presidência da República, em 12 de maio, e anunciou a extinção do Ministério da
Cultura, Temer recebeu críticas de personalidades e grupos ligados à produção
cultural. No dia de sua posse como ministro, Mendonça Filho chegou a garantir uma politica cultural forte, mesmo com a fusão da Cultura e do MEC.
“Você pode ter dois ministérios com pouca força e também pode ter duas áreas
fundamentais como cultura e educação andando mais fortalecidas”, disse na
ocasião.
Mesmo após as declarações, as
críticas continuaram, e a pressão pela volta do Ministério da Cultura não
diminuiu. Durante encontro com servidores da Cultura, no dia 13 de maio, Mendonça Filho foi vaiado. “Me explica, por favor, como acaba um ministério sem
falar com servidor”, gritavam em coro. Durante o seu discurso, o ministro foi
interrompido várias vezes pelos protestos.
Na Bahia,
também houve atos contrários à extinção do ministério. Manifestantes ocuparam o escritório do Ministério da Cultura em Salvador. Cineastas
brasileiros também criticaram a extinção do ministério no tradicional Festival
de Cannes. “A extinção do Ministério da Cultura deixou todo mundo em alerta, a
gente não faz ideia do que pode vir por aí, e os sinais que têm chegado a nós
não têm sido bons”, preocupou-se o cineasta pernambucano Felipe Fernandes,
que exibiu seu curta, O Delírio É a Redenção dos Aflitos, no festival francês.
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