O deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que derrubou
provisoriamente a presidente Dilma Rousseff por meio de um golpe parlamentar,
anunciou sua renúncia à presidência da Câmara em coletiva nesta quinta-feira
7. "Resolvi ceder às pressões", declarou.
"É público e notório que a Casa está acéfala. Somente a minha
renúncia poderá por fim a essa instabilidade sem prazo", disse o deputado
afastado, que chorou ao falar de sua família, que também é alvo na Lava Jato,
enquanto lia seu depoimento aos jornalistas posicionados no Salão Verde.
Sem citar propina e contas secretas na Suíça, ele disse que paga um
"preço alto por ter dado início ao processo de impeachment contra a
presidente Dilma Rousseff", indicando retaliação no processo de cassação
que corre na Casa.
Cunha também denunciou, em referência à Procuradoria Geral da
República, "seletividade do órgão acusador".
Líderes da Câmara estiveram reunidos nesta manhã para decidir os
próximos passos após a renúncia de Cunha, como a data da eleição para a
presidência da Câmara e o candidato. Os rumores sobre a renúncia do deputado
vinham crescendo nos últimos dias, mas pela primeira vez ele chegou a admitir a
aliados que faria o anúncio hoje.
O peemedebista queria um acordo, em troca de sua renúncia, para
antecipar a eleição à presidência da Câmara para o início da próxima semana.
Advogados do deputado avaliam que sua situação piorou com a apresentação
do voto ontem do deputado Ronaldo Fonseca (Pros-DF) na Comissão de Constituição
e Justiça (CCJ), em que acatou apenas um dos 16 questionamentos de Cunha contra
o processo de cassação no Conselho de Ética.
Cunha é réu em dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal, acusado de
receber propinas de diversas empresas. Com sua renúncia, o presidente interino,
Michel Temer, perde seu aliado, a quem chamou de "incansável batalhador
político e jurídico".
Leia também reportagem da Agência Brasil sobre o assunto:
O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), renunciou há
pouco à presidência da Casa.
"Resolvi ceder ao apelos generalizados dos meus apoiadores [...]
Somente a minha renúncia poderá pôr fim a esta instabilidade sem prazo. A
Câmara não suportará infinidamente", disse, ao ler sua carta de renúncia
em entrevista à imprensa no Salão Nobre da Câmara. Ele informou ter encaminhado
a carta ao primeiro-vice-presidente da Casa.
Ao ler a carta, Cunha disse que é alvo de perseguição por ter aceito a
denúncia que deu início ao processo de impeachment de Dilma Rousseff.
"Sofri e sofro muitas perseguições em função das pautas. Estou pagando
alto preço por dar início ao impeachment", disse, ao emocionar-se, pela
primeira vez, em alguns momentos.
O peemedebista disse também que sempre falou a verdade.
"Comprovarei minha inocência nesses inquéritos. Não recebi qualquer
vantagem indevida de quem quer que seja", disse.
Eduardo Cunha chegou no início da tarde pela chapelaria da Câmara,
passou na Secretaria-Geral da Mesa e marcou a entrevista à imprensa no Salão
Nobre da Casa, apesar de ter sido autorizado pelo Supremo Tribunal Federal
(STF) a circular na Câmara apenas para se defender do processo de cassação no
Conselho de Ética ou na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Em ocasiões anteriores, por várias vezes, Cunha negou que iria
renunciar.
Com a decisão de Cunha de deixar a vaga, a Câmara terá que convocar
novas eleições no prazo de até cinco sessões plenárias – deliberativas ou de
debates com o mínimo de 51 deputados presentes - para uma espécie de
mandato-tampão, ou seja, para um nome que comandará a Casa até fevereiro do próximo
ano quando um novo presidente será eleito.
Com a renúncia, pode se encerrar o impasse sobre a permanência de Waldir
Maranhão (PP-MA) no comando da Câmara. Maranhão assumiu o cargo desde que Cunha
foi afastado da presidência da Câmara pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O descontentamento dos deputados com a condução de Maranhão provocou,
inclusive, um acordo informal para que ele não presida as sessões de votações.
Todas as vezes em que Waldir Maranhão tentou quebrar este acerto, os
parlamentares se recusaram a discutir e votar matérias importantes até que ele
deixasse a Mesa do Plenário, que estava sendo revezada com o
primeiro-secretário, Beto Mansur (PRB-SP) e o segundo vice-presidente da Mesa
Diretora da Câmara, deputado Fernando Giacobo (PR-PR) – possíveis candidatos à
vaga provisória da presidência.
Eduardo Cunha está no quarto mandato, iniciado no PP e depois migrou
para o PMDB no período em que o partido estava dividido entre apoio ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a possibilidade de uma candidatura
própria. Na eleição de 2006, Cunha integrou o grupo que militou pela
candidatura própria do PMDB mas, a partir de 2007 com vitória de Lula no
segundo turno, a legenda foi para a base do governo.
Eleito presidente da Câmara em primeiro turno no dia 1º de fevereiro de
2015, Cunha recebeu 267 votos e derrotou três candidatos, entre eles, Arlindo
Chinaglia (PT-SP), que era o candidato do Palácio do Planalto na época, mas que
obteve apenas 136 votos. Durante a disputa e nos meses seguintes, Cunha repetiu
em diversos episódios que o governo de Dilma Rousseff resistiu fortemente à sua
candidatura à presidência da Casa, o que, segundo ele, justificou a resistência
sofrida por parte da base aliada na época.
O comando da Câmara é exercido por dois anos, mas nos primeiros meses
Cunha já começou a sentir a pressão suscitada pelas suspeitas de seu
envolvimento em negócios ilícitos envolvendo contratos de empresas com a
Petrobras e existência de contas secretas no exterior. Essas denúncias, aliada
a reclamação de parlamentares que o acusaram de beneficiar um grupo de
deputados e conduzir as votações na Casa, serviram como estopim para o início e
avanço do processo de cassação de seu mandato.
Processo de cassação
O processo para afastar definitivamente o peemedebista começou em
outubro do ano passado, quando o PSOL e a Rede entraram com uma representação
contra Cunha alegando que ele havia mentido à Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) da Petrobras, quando negou ser o titular de contas no exterior. No
processo, que ficou marcado como o mais longo do colegiado, durando oito meses
em função do que adversários classificaram de manobras de aliados de Cunha, a
cassação acabou sendo aprovada no dia 14 de junho, por 11 votos contra 9, no
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A defesa de Cunha entrou com um recurso na Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) para tentar reverter o resultado. Foram elencados mais de 10
pontos em que Cunha questiona a tramitação do processo, entre eles, a intenção
de aditar a representação contra ele incluindo informações sobre recebimento de
propina, o ponto que trata da votação no conselho ter sido nominal e o que
aponta que Marcos Rogério (DEM-RO) que, segundo ele, não poderia ter continuado
como relator do caso, depois de ter mudado de partido com a janela partidária e
continuar ocupando a vaga do PDT.
Ontem (6), o relator do recurso de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que pede a
anulação da tramitação do processo de cassação dele no Conselho de Ética da
Câmara, apresentou seu parecer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O
deputado Ronaldo Fonseca (PROS-DF) acatou parcialmente o pedido de Cunha e
recomendou uma nova votação do processo no conselho. O presidente da CCJ, Osmar
Serraglio (PMDB-PR), marcou para 16h de segunda-feira (11) a nova sessão para o
início da discussão e votação do parecer.
Para ser aprovado, o parecer de Fonseca precisará dos votos da maioria
dos 66 integrantes da comissão. Havendo pedido de vista, esta manifestação pode
ocorrer apenas na próxima semana, de acordo com a escolha do ex-presidente da
Casa. O texto será então debatido entre parlamentares e depois o relator terá
mais 20 minutos de réplica e a defesa outros 20 minutos de tréplica antes da
votação.
Se a CCJ decidir que Cunha tem razões para apontar problemas durante a
tramitação do processo, a decisão pode provocar a reabertura do caso no
conselho mas, como seria uma decisão inédita da comissão que se vê no impasse
de estar no mesmo nível hierárquico que o conselho, a decisão final deve ser
tomada pela Mesa Diretora da Câmara. Se a CCJ rejeitar os argumentos de Cunha,
o processo de cassação vai a plenário e precisa de 257 votos para qualquer que
seja a decisão final.
STF
Paralelamente ao processo de cassação na Câmara, no Supremo Tribunal
Federal (STF), Cunha é alvo de pelo menos cinco processos, além de ter sido, no
último mês, afastado do comando da Casa por decisão do ministro do STF Teori
Zavascki, relator da Operação Lava Jato. A medida, acompanhada pelos 11
ministros da Corte, foi em resposta à acusação do procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, de que Cunha tem atrapalhado as investigações.
O peemedebista entrou com recurso no STF pedindo para voltar à Câmara para
se defender pessoalmente no processo de cassação, o que acabou sendo acatado
pela Corte. No STF, Cunha também responde a processo em que é acusado de ter
recebido US$ 5 milhões em propina para viabilizar contrato de navios-sonda da
Petrobras. O STF já rejeitou o recurso apresentado pela defesa do peemedebista.
Há ainda
denúncia de que Cunha recebeu propina da Petrobras em contas secretas no
exterior e acusações de que usou o mandato para beneficiar aliados, além da
suspeita de que atuou no desvio de recursos destinados à obra do Porto
Maravilha, no Rio de Janeiro.
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