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24 de agosto de 1954: um tiro na República

8/24/2016






Em 1954, o clima político no Brasil era tenso e conflituoso. Havia fortes críticas por parte da imprensa ao governo de Vargas. Os militares também estavam descontentes com medidas consideradas “de esquerda” tomadas por Vargas. A população também estava muito descontente, pois a situação econômica do país era ruim. 


Existia, portanto, grande pressão para que ele renunciasse. Porém, em agosto de 1954, Vargas suicidou-se no Palácio do Catete com um tiro no peito.


O ano de 2016 não é o primeiro em que certas trincheiras de esquerda se associam às da direita para pedir a queda de presidente da República eleita pelo voto popular e sem culpa comprovada por crime algum. Em 1954, também foi assim.


Nas décadas de 1930 e 1940, Getúlio Dornelles Vargas havia sido ditador. Comandou golpe de Estado, aboliu eleições, fechou o Congresso, interditou a Justiça, impôs a censura, flertou com o nazi fascismo, entregou para a Gestapo (em parceria com o STF) a alemã-judia-comunista-grávida Olga Benario, manteve uma polícia que torturou (meu personagem Carlos Marighella apanhou por 21 dias consecutivos em 1936) e matou oposicionistas sem piedade. Devido à tradição de impunidade no Brasil, Getúlio nunca foi julgado pelos crimes que cometeu contra a democracia e os direitos humanos.



Em agosto de 1954, era diferente. Quase quatro anos antes, o gaúcho havia sido sufragado pelos cidadãos. Pela primeira vez, sua condição de presidente da República tinha o respaldo legal e legítimo das urnas.


Na madrugada de 5 de agosto de 1954, o jornalista e opositor Carlos Lacerda sofreu um atentado a bala. Foi ferido em um pé. O major-aviador Rubens Vaz, que atuava como seu guarda-costas voluntário, foi assassinado pelo pistoleiro.


A “Tribuna da Imprensa'', jornal de Lacerda, apontou Getúlio como o mandante. O jornalista integrava a União Democrática Nacional, agremiação de direita, que logo reivindicou a renúncia do presidente.


O Partido Comunista, então proscrito, também acusou Getúlio de ter ordenado a ação em que mataram o major Vaz. “Vargas responsável pelo covarde crime'', estampou em 10 de agosto a primeira página da “Imprensa Popular''. Era o diário de esquerda controlado pelo PCB.


O 24 de agosto, dia do suicídio de Getúlio, amanheceu com a “Tribuna da Imprensa'' noticiando e estimulando o cerco para depor o presidente. E com a “Imprensa Popular'' republicando entrevista de Luiz Carlos Prestes, o líder do PCB, pedindo “para pôr abaixo o governo Vargas''.


É claro que a campanha da direita foi decisiva nos acontecimentos de 1954. A historiografia, porém, costuma minimizar ou omitir a orientação do PCB, da qual o partido viria a se arrepender. Naquela época, os comunistas propunham luta armada para derrubar o presidente consagrado pelo voto dos brasileiros.


Nunca houve prova de que Getúlio tenha encomendado o atentado contra Lacerda. A iniciativa contra Lacerda foi de Gregório Fortunato, chefe da Guarda Pessoal do presidente.


Em 2016, também inexiste prova de que Dilma Rousseff tenha sido autora de crime. O que não impede que forças de esquerda, como fazem as de direita, defendam seu afastamento (mesmo que sob a fórmula de novas eleições). Os 54.501.118 votos para Dilma em 2014 seriam ignorados, como os 3.849.040 pró-Getúlio em 1950.


O levantamento jornalístico  foi publicado pelo blog nos 60 anos da morte de Getúlio Vargas. Atualizei e acrescentei as primeiras páginas da “Tribuna'', e da "Última Hora" agora disponível na Hemeroteca Digital.


Em 1954, quase toda a imprensa pediu a cabeça de Getúlio. Da esquerda à, sobretudo, direita. Getúlio matou-se em 24 de agosto de 1954 para não entregar o poder aos golpistas e, quem sabe, para se livrar dos “amigos” que “sujavam” os bastidores do palácio do Catete.


Deu no que deu.

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