Em 1954, o clima político no Brasil era tenso e
conflituoso. Havia fortes críticas por parte da imprensa ao governo de Vargas.
Os militares também estavam descontentes com medidas consideradas “de esquerda”
tomadas por Vargas. A população também estava muito descontente, pois a
situação econômica do país era ruim.
Existia, portanto, grande pressão para que ele
renunciasse. Porém, em agosto de 1954, Vargas suicidou-se no Palácio do Catete
com um tiro no peito.
O ano de 2016 não é o
primeiro em que certas trincheiras de esquerda se associam às da direita para
pedir a queda de presidente da República eleita pelo voto popular e sem culpa
comprovada por crime algum. Em 1954, também foi assim.
Nas décadas de 1930 e
1940, Getúlio Dornelles Vargas havia sido ditador. Comandou golpe de Estado,
aboliu eleições, fechou o Congresso, interditou a Justiça, impôs a censura,
flertou com o nazi fascismo, entregou para a Gestapo (em parceria com o STF) a
alemã-judia-comunista-grávida Olga Benario, manteve uma polícia que torturou
(meu personagem Carlos Marighella apanhou por 21 dias consecutivos em 1936) e
matou oposicionistas sem piedade. Devido à tradição de impunidade no Brasil,
Getúlio nunca foi julgado pelos crimes que cometeu contra a democracia e os
direitos humanos.
Em agosto de 1954,
era diferente. Quase quatro anos antes, o gaúcho havia sido sufragado pelos
cidadãos. Pela primeira vez, sua condição de presidente da República tinha o
respaldo legal e legítimo das urnas.
Na madrugada de 5 de
agosto de 1954, o jornalista e opositor Carlos Lacerda sofreu um atentado a
bala. Foi ferido em um pé. O major-aviador Rubens Vaz, que atuava como seu
guarda-costas voluntário, foi assassinado pelo pistoleiro.
A “Tribuna da
Imprensa'', jornal de Lacerda, apontou Getúlio como o mandante. O jornalista
integrava a União Democrática Nacional, agremiação de direita, que logo
reivindicou a renúncia do presidente.
O Partido Comunista,
então proscrito, também acusou Getúlio de ter ordenado a ação em que mataram o
major Vaz. “Vargas responsável pelo covarde crime'', estampou em 10 de agosto a
primeira página da “Imprensa Popular''. Era o diário de esquerda controlado
pelo PCB.

É claro que a
campanha da direita foi decisiva nos acontecimentos de 1954. A
historiografia, porém, costuma minimizar ou omitir a orientação do PCB, da qual
o partido viria a se arrepender. Naquela época, os comunistas propunham luta
armada para derrubar o presidente consagrado pelo voto dos brasileiros.
Nunca houve prova de
que Getúlio tenha encomendado o atentado contra Lacerda. A iniciativa contra Lacerda foi de
Gregório Fortunato, chefe da Guarda Pessoal do presidente.
Em 2016, também
inexiste prova de que Dilma Rousseff tenha sido autora de crime. O que não
impede que forças de esquerda, como fazem as de direita, defendam seu
afastamento (mesmo que sob a fórmula de novas eleições). Os 54.501.118 votos
para Dilma em 2014 seriam ignorados, como os 3.849.040 pró-Getúlio em 1950.
O levantamento
jornalístico foi publicado pelo blog nos 60 anos da morte de Getúlio
Vargas. Atualizei e acrescentei as primeiras páginas da “Tribuna'', e da "Última Hora" agora
disponível na Hemeroteca Digital.
Em 1954, quase toda a
imprensa pediu a cabeça de Getúlio. Da esquerda à, sobretudo, direita. Getúlio matou-se em 24 de agosto de 1954 para não entregar
o poder aos golpistas e, quem sabe, para se livrar dos “amigos” que “sujavam”
os bastidores do palácio do Catete.
Deu no que deu.
0 comentários:
Postar um comentário
Os comentários serão de responsabilidade dos autores. podendo responder peço conteúdo postado!