Certo de que o Senado vai condenar Dilma e efetivá-lo na presidência,
Michel Temer já pensa até em reeleição. Num teatrinho pueril, Rodrigo Maia o
lançou e ele negou tais planos. Começa sempre assim. Mas o interino ainda tem
uma ponte para atravessar, a ação do PSDB no TSE pedindo a cassação da chapa
Dilma-Temer.
Quando um dia for examiná-la, o TSE responderá também ao pedido de Temer
para que o deixem fora, pois teria movimentado apenas recursos doados ao PMDB.
Se tais doações forem examinadas com o mesmo rigor que Gilmar Mendes reserva às
que foram feitas via PT, vai aparecer pelo menos um jabuti, a doação de R$ 1,5
milhão da empresa Libra, ao que tudo indica beneficiária de uma "parceria
do passado" entre Temer e Eduardo Cunha.
A ela é que Cunha teria se referido, na conversa que teve com Temer no
Jaburu em junho, antes de renunciar à presidência da Câmara. Temendo estar
sendo gravado, Temer se exaltou e cortou rispidamente a conversa. Cunha vazou o
encontro.
Na revista Carta Capital desta semana o repórter André Barrocal exuma as
relações, antigas e atuais, entre o PMDB e a Libra.
Começa revelando que no mês passado o chefe da Casa Civil, Eliseu
Padilha, determinou ao ministro dos Transportes, Maurício Quintela, que
desautorizasse a contratação, pela Codesp, estatal gestora do porto, do
advogado Nelson Wilians, para representá-la na arbitragem particular de um
contencioso com a Libra, que alcança a cifra de R$ 2,3 bilhões.
O advogado embolsaria 1%, ou 23 milhões. A contra-ordem foi dada depois
de divulgados os termos do contrato e a proximidade entre Wilians e Robinson
Padilha, filho do ministro. A ordem foi executada.
Há muito se sabe que o Porto de Santos é um califado de Temer. ACM já o
dizia. Mas a "parceria" com Cunha teria sido em 2013. Na votação da
MP dos Portos, o então líder do PMDB derrotou Dilma, que propusera mudança nas
regras de concessões com mais de 20 anos, como era o caso da de Libra, e ainda
incluiu um artigo prevendo que contenciosos entre a União e concessionários
pudessem ser resolvidos não pela Justiça mas pela arbitragem privada, quando as
partes elegem um terceiro entre para decidir o conflito.
"Feliz da vida", como escreve Barrocal, Libra, que no pleito
anterior doara apenas R$ 110 mil ao PMDB, em 2014 doou R$ 1,5 milhão, sendo que
um terço para o diretório do Rio, estado de Cunha.
E houve ainda, através de membros da família Torrealba, dona da empresa,
a doação de outros R$ 950 mil para o diretório nacional, destinados à campanha
presidencial. Vale dizer, à recandidatura de Temer a vice na chapa de Dilma.
Em 2013, Dilma resistiu mas acabou cedendo à pressão de seu vice para
que nomeasse o dileto amigo Edinho Araújo para a Secretaria de Portos.
Ele tomou as medidas necessários para renovar a concessão sob as mesmas
regras e implementar a arbitragem. Em 2014 Dilma o tirou, contra a vontade de
Temer, que externou sua mágoa naquela carta de rompimento.
Segundo Barrocal, um procurador federal, falando em "off", diz
que o Ministério Público, se quisesse, poderia abrir investigações sobre a
conexão entre tais doações e a MP, na linha do que fez a Operação Zelotes ao
investigar suposta "compra de MPs" com desvio de finalidade.
O Ministério Público segue ignorando o assunto. O TSE, quando for julgar
a ação do PSDB, teria que examinar também a legalidade das doações diretas ao
PMDB. Mas, por ora, só quer saber do que foi doado à chapa através do PT.
Esta é uma questão com que Temer ainda vai se defrontar antes de pensar
em reeleição, se efetivado for. Afora aquela ação que tornou inelegível por ter
feito doações acima do valor permitido.
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