A
deposição de Dilma do cargo de presidente era certa. Surpresa, especialmente
para Michel Temer, para o PSDB e o DEM, foi a decisão de cassá-la sem lhe
retirar os direitos políticos que a inabilitariam para quaisquer funções
publicas, eletivas ou não.
Temer
estrilou, PSDB e DEM falaram até em romper com o governo, o partido
Solidariedade promete recorrer ao STF. Tucanos e democratas desistiram disso.
Queriam
Dilma banida da vida pública. Agora ela os incomodará como uma importante líder
da oposição, ao lado de Lula. São diferentes os motivos de Temer e os deles
para a grande contrariedade com a decisão do Senado.
Começando
por Temer, ele mesmo alegou, na reunião ministerial, que a preservação dos
direitos políticos de Dilma passará a ideia de que o governo sofreu uma derrota
parcial no dia da vitória maior. É certo, mas há algo ainda mais relevante (e
para ele preocupante) nesta história.
O
destaque que permitiu separar em duas a votação do impeachment foi articulado
entre o PT, a senadora Katia Abreu (PMDB, de onde pode ser expulsa por sua
lealdade a Dilma) e o presidente do Senado, Renan Calheiros.
O
destaque seria apresentado por Katia, que já o tinha preparado, mas viu-se
depois que, pelo regimento, destaques de bancadas não precisam ser submetidos a
voto, e assim, foi apresentado pela bancada do PT.
Superada a discussão jurídica e mantido o entendimento do presidente do STF, Ricardo Lewandowski, de que o Senado tinha autonomia para optar pelo fatiamento, 16 senadores que votaram SIM pela cassação do mandato de Dilma votaram NÃO à sua inabilitação para a vida pública. Quinze eram do PMDB.
O que os
moveu a mitigar a pena imposta a Dilma só eles sabem, mas é possível especular
com razões diversas. Alguns, que muito usufruíram dos governos do PT, podem ter
sido movidos por algum tipo de remorso político, se é que isso existe.
Outros
podem ter buscado atenuar a marca de golpistas em suas biografias. Cristovam
Buarque, por exemplo, argumentou que votaria pela cassação de Dilma por
entender que isso faria bem ao país mas que não desejava puni-la como pessoa.
Sejam quais forem as razões de cada um, o bloco do PMDB que seguiu Renan mandou
um recado a Temer. O de que terão sempre alguma autonomia em relação ao
governo, não se dispondo a fazer tudo que o Planalto mandar.
Temer
conhece seu partido, sabe que será assim. Que provará do veneno peemedebista já
servido a outros governos. Talvez só não esperasse uma desobediência já na
votação que o efetivou como presidente.
Já a
irritação dos tucanos está relacionada com a disputa política nacional e não,
como disseram, com o fato de não terem sido sequer avisados da articulação para
preservar os direitos políticos de Dilma.
Isso fará
dela um incômodo para quem sempre desejou a exterminação das lideranças do PT e
da esquerda, a começar de Lula. Agora que o ex-presidente tem sua elegibilidade
ameaçada pelos processos da Lava Jato, surgirá uma Dilma com aura de mártir,
com direito a ocupar cargos públicos e a disputar eleições.
Ao lado
de Lula ela será uma das mais importantes líderes da oposição. Poderá voltar ao
proscênio político em 2018, concorrendo à Câmara, ao Senado ou até mesmo à
presidência. Isso é que os incomoda, a sobrevivência de Dilma como
liderança política competitiva no campo da esquerda.
Dispensável
comentar a decisão de Paulinho da Força, sempre pronto a prestar serviços a
Temer ou a qualquer manda-chuva do campo conservador.
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