Qualquer cidadão
que não seja reconhecido como parte da ecologia do poder - no habitat
de senadores, deputados, ministros ou de simples assessores com
aquele crachá pendurado no pescoço por uma fita verde-amarela - é um
estranho incômodo nas cercanias das instituições públicas sediadas
desde a Esplanada dos Ministérios, após as eleições.
O que faz de
Brasília um lugar inóspito, sem poesia, jamais será a arquitetura
modernista de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, ou o ar desértico, dramático, que
só oferece algum alívio na chegada da primavera quando fenomenalmente o cerrado
floresce ralo e rasteiro mas com altas indaiás e gabirobeiras.
A aspereza de
Brasília é traduzida nas suas asas setentrionais e meridionais ou no
arquipélago de edificações simbólicas do corporativismo. Essa configuração
insular tem a capacidade de incorporar e acomodar todos seus moradores,
candangos, visitantes e frequentadores da Avenida W3 ou do Setor
Hoteleiro Norte e Sul.
Brasília representa
o ajuste perverso e equilibrado de todos os interesses corporativistas que
atrasam a consolidação da democracia e preservam as desigualdades que dividem
os brasileiros. Na capital do país, a sociedade composta de trabalhadores é
tratada como um corpo estranho.
Por sua vez, congressistas são
contaminados pelo poder que abduz e magnetiza seus privados interesses em
um processo que vai se isolando ad infinitum do
ecossistema social a tornar Brasília uma Ilha da Fantasia,
iliterata, impessoal, sem alma, sem pejo, uma flor do cerrado sem poesia.
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