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FLOR DO CERRADO SEM POESIA

2/09/2019



 A predominância dos privilégios da classe política sobre os interesses da população em geral,  é traduzida nas peculiaridades das instituições da República e todos  reconhecem que  em Brasília  existe uma aura de pertencimento que rejeita toda e qualquer interferência exógena.

Qualquer cidadão que não seja reconhecido como parte da ecologia do poder - no habitat de senadores, deputados, ministros ou de simples assessores com aquele crachá pendurado no pescoço por uma fita verde-amarela -  é um estranho incômodo  nas cercanias das instituições públicas sediadas desde a Esplanada dos Ministérios, após as eleições.

O que faz de Brasília um lugar inóspito, sem poesia, jamais  será a arquitetura modernista de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, ou o ar desértico, dramático, que só oferece algum alívio na chegada da primavera quando fenomenalmente o cerrado floresce ralo e rasteiro mas com altas indaiás e gabirobeiras.

A aspereza de Brasília é traduzida nas suas asas  setentrionais e meridionais ou no arquipélago de edificações simbólicas do corporativismo. Essa configuração insular tem a capacidade de incorporar e acomodar todos seus moradores, candangos, visitantes e  frequentadores da Avenida W3 ou do  Setor Hoteleiro Norte e Sul.

Brasília representa o ajuste perverso e equilibrado de todos os interesses corporativistas que atrasam a consolidação da democracia e preservam as desigualdades que dividem os brasileiros. Na capital do país, a sociedade composta de trabalhadores é tratada como um corpo estranho. 

Por sua vez, congressistas  são contaminados pelo poder que abduz  e magnetiza seus privados interesses em um processo que vai se isolando ad infinitum  do ecossistema social a tornar Brasília  uma Ilha da Fantasia,  iliterata, impessoal, sem alma, sem pejo,  uma flor do cerrado  sem poesia.

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