Os circuitos do Carnaval de
Salvador não são feitos só das ruas principais, por onde os trios vão e vêm
puxando multidões. São nas vielas e ruas adjuntas que o cenário do sonho de
festa encontra a realidade da desigualdade social.
Se, para milhares de soteropolitanos e
turistas, o Carnaval é sinônimo de alegria e esquecimento das rotinas diárias,
para centenas de pessoas é a oportunidade de um ganha-pão. De conseguir pagar
parte das dívidas e botar comida em casa.
Assim, levam barracas de
camping, improvisam ‘lares’ com lonas e papelão para diminuir o custo de ir e
voltar para suas moradias. Muitas vezes, com filhos das mais diversas idades.
Se tornam ambulantes, cordeiros, carregadores de gelo. Quase sempre em
condições precárias de trabalho e remuneração.
Ao menos, há algum tempo, existe uma
fiscalização maior de órgãos públicos em relação a isso. São proibidas, por
exemplo, as presenças de menores de idade e de gestantes como cordeiros.
Ainda assim, a diária de R$ 51 para um
cordeiro, por exemplo, não corresponde ao trabalho exercido durante o percurso,
ainda tendo que aguentar, por muitas vezes, a falta de educação de foliões dos
blocos. Alguns deles trabalham duas vezes no mesmo dia, para conseguir um
dinheiro a mais e também o lanche, obrigatório para os contratantes.
De uma certa forma, o Carnaval
escancara a desigualdade social para muitos que querem não encará-la. O
cordeiro, responsável por separar quem pode e quem não pode, também ganha status
de ‘broder’, ao impedir o contato entre as duas faces da folia. O ambulante é o
fornecedor do combustível da festa.
Mas é sempre bom lembrar:
enquanto os foliões se divertem, os trabalhadores estão lutando por suas vidas.
Merecem, no mínimo, respeito.
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