Bahia investe na cultura da carnaúba

O Brasil é o único país do mundo a produzir carnaúba, e a região Nordeste é a que melhor se adaptou à cultura, com destaque para os estados da Bahia, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte. Com relação à Bahia, o estado já possuiu uma área de 300 mil hectares plantados, e, hoje, apenas 21 mil hectares são explorados, sendo toda ela realizada pela agricultura familiar, e a área restante está em mata virgem, com exploração extrativista.  

Os carnaubais baianos estão situados à margem direita do rio São Francisco e também ocupam grande parte dos municípios de Sento-Sé, Itaguaçú da Bahia, Xiquexique, Gentio do Ouro, Morpará, Barra e Pilão Arcado, na região do Vale do São Francisco.

Com grande potencial econômico, a Secretaria da Agricultura (Seagri), através da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A (EBDA), vem capacitando técnicos, na região de Irecê, para repassarem conhecimentos teóricos e práticos referentes à cultura da carnaúba aos agricultores familiares dos sete municípios produtores.

De acordo com o responsável pela capacitação dos agricultores familiares, em Xique-Xique, o engenheiro agrônomo da EBDA, Armando Martins Neto, a empresa vem orientando os produtores a explorar a carnaúba de forma ecologicamente correta, reforçando o aumento do número de emissão de Declaração de Aptidão (Daps), documento que viabiliza o financiamento, através de créditos, para aqueles que pretendem utilizar a carnaúba como fonte de renda familiar, além de já ter liberado um milhão de reais para o início dos levantamentos e estudos de viabilidade econômica para exploração da cultura.

“Por tratar-se de uma planta adaptada ao clima semiárido, a carnaúba oferece possibilidades econômicas mesmo durante o período de estiagem, tratando-se, portanto, de importante alternativa na composição da renda familiar das comunidades rurais” explicou Armando Martins. Também informou que nem 1% dos carnaubais, da região, foi explorado apesar de ter potencial para fornecer a matéria-prima por mais 200 anos.

Para o agricultor Jasiel dos Santos Soares, 40 anos, com propriedade em Xiquexique, “A carnaúba baiana ainda não precisa ser plantada. A própria natureza incumbe-se de realizar esse trabalho, e o agricultor só precisa se preocupar em retirar as folhas, de forma correta, para não destruir a matriz da planta”, explicou Jasiel Soares.

A carnaúba

O produto mais nobre da carnaubeira é a cera que é extraída das folhas da planta. Uma vez processada, a cera é vendida para a região sudeste, principalmente, onde é utilizada na indústria de eletrônicos, fabricação de isolantes, chips de computadores e celulares, cosméticos, cera de polimento para veículos, tintas gráficas, papel carbono, vedante para tubulações da Petrobrás, na exploração do Pré-Sal, dentre outras.

Cada três mil folhas da planta gera uma média de 22kg de cera, que, atualmente, é comercializada entre R$5,0 e R$10,0/kg, porém, a estimativa é de que, em pouco tempo, o valor de comercialização da cera-de-carnaúba alcance o quíntuplo desse valor, em função da demanda existente no mercado e da qualidade do produto, hoje, ainda explorado artesanalmente. A região tem potencial para gerar uma renda de R$2,5 milhões de reais/ano, com a exploração da cultura. Atualmente, a atividade nos carnaubais, em Xiquexique, emprega 40 pessoas, em uma indústria de pequeno porte, e 35 mil pessoas, de forma indireta, inclusive no campo.

Processo de extração

Uma vez retiradas as folhas das carnaúbas, as mesmas passam por um processo de secagem, ao sol, por um período de 2 dias. No final desse prazo, as folhas ficam cobertas por um pó branco, que ganha o nome de pó cerífero. Esse produto é separado das folhas de forma artesanal. O próximo passo é acrescentar, ao pó cerífero, alguns produtos químicos, transformando-o em uma cera escamada que é comercializada às indústrias do país.

Para diminuir a perda significativa do pó, no momento que esse é retirado das folhas, Josiel Soares, de forma pioneira, criou uma máquina movida a energia elétrica ou a diesel que separa o pó cerífero da palha, aumentando em 10% a sua produção.

A cera da carnaúba é utilizada em um grande número de indústrias. Também conhecida como “Rainha das Ceras”, tem o ponto de derretimento muito maior que as demais ceras (78ºC), além de ser extremamente dura. Essa característica peculiar faz com que seja ideal para utilização de coberturas de pisos de automóveis, que exige materiais extremamente fortes. Ela também não é facilmente solúvel. A água não pode romper uma camada de cera de carnaúba, significando que o material possui alta durabilidade, característica muito explorada pela indústria de embalagens de alimentos.

Muita atenção tem sido dada às folhas da carnaúba, porém toda a planta, que é conhecida como a árvore da vida, pode ser aproveitada, por oferecer uma infinidade de usos ao homem. As raízes têm uso medicinal, como eficiente diurético, os frutos são ricos em nutrientes, para ração animal, a madeira de qualidade, serve na construção civil, as palhas, além de fornecer a cera, servem para a fabricação de produtos artesanais e na adubação do solo.

Fonte: EBDA