Tudo que falam sobre você, é verdade?

“São cinco horas da manhã, quando a amiga liga para outra, e conta-lhe que passou a noite em claro entre as cortinas a observar a vizinha.

- Venha aqui, rápido, e veja com seus próprios olhos!
- Mulher você está de olheiras, o que foi, pelo amor de Deus?
- Veja, a sirigaita ai em frente, que descarada. O marido viajando pra ganhar o pão, ela ainda com o filho pequeno e recebe a visita de um homem até uma hora desta.
- Jura?
- Mas claro! Pena que não enxerguei a cara do safado. To aqui desde as dez da noite quando ele chegou e a luz não se apagou.
- Que sem vergonha! Meu Deus, como pode ser tão descarada?
- È, ela banca a santinha, vai até a igreja. Ah, mas a bandida nunca imaginou que eu tivesse aqui entre as cortinas, a ver seu amante chegar. Só esperou a criança dormir.
- É! Esses são os tais “sepulcros caiados” que cita a Bíblia. O marido desta sem vergonha ainda vai descobrir tudo.
- Olha! E tem mais! Vou ficar aqui até ele sair, quero ver quem é o malandro que passou a noite com ela.

E ficaram as duas a dar asas a imaginação fértil e maldosa sobre que seria o tal. Logo se lembraram de vários “mulherengos”, citados os nomes um por um, segundo suas convicções de ferrenha conhecedoras da vida alheia.

Não precisaram esperar muito. Meia hora depois, um grito lancinante de mãe ferida no coração se fez ouvir aos mais próximos.

- Filho!! Não meu Deus, não permita que isso aconteça!
E um lamento pungente de dor e sofrimento invadiu a rua ecoada no silencio da manhã.

Logo depois as duas amigas viram sair à porta, cabisbaixo e entristecido, um médico. Parecia estar chorando. A doença o vencera. Uma noite de luta a beira da cama daquele anjinho, e não conseguiu mantê-lo entre seus entes queridos. Em passos lentos, como a carregar sobre os ombros um peso enorme, dobrou a esquina, solitário.”

Esta historia ilustra a cruel realidade que presenciamos na vida cotidiana das pequenas cidades, em particular na nossa cidade, onde boatos causam intrigas, alimentam ódios destruindo famílias e vidas. Sem nenhum constrangimento comentam o que não sabem, distorcem falsas evidências, sem se importarem com as conseqüências nefastas dos seus comentários.

Aos desocupados responsáveis por tais infâmias, resta-lhes a desgraça final daqueles que foram julgados e difamados pela sua invigilância. Assim, no momento oportuno levará seus pêsames, sem sequer olhar nos olhos das suas vítimas, por saber da sua responsabilidade e culpa.

Cabe aos desafortunados, reféns da maldade inerente aos pequenos homens, a fé. Lembrando que Jesus nos ensinou: “Os humilhados serão exaltados”. Para isso, no entanto, é preciso a resignação, através dos bons exemplos, do perdão e da prece que nos aproxima de Deus, para que o Senhor nos abençoe e nos guarde da iniqüidade daqueles que ainda não conhecem a lei de Justiça, Amor e Caridade.