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Clientelismo: a arte de fazer política no interior

9/10/2010

Por Deomar Santos Pinto*

A política interiorana tem sido um desafio interessante para mim. Atualmente tenho residência fixa no interior da Bahia e lá, como em quase todos os outros municípios, a política é muito ortodoxa. Já pensei em muitos adjetivos para classificá-la, e a palavra que é mais propícia é clientelismo. Falar de política do interior é fazer um estudo sistemático do clientelismo. As relações clientelísticas são gritantes e invadem todo universo do funcionalismo. A contaminação se tornou algo comum e aceitável por toda população, porque todos os habitantes dessas pequenas cidades também anseiam um dia estar inseridos neste questionável sistema de trocas. Essa realidade assusta porque a ideia de “farinha pouca meu pirão primeiro” está impregnada na natureza humana. Desta forma as políticas públicas são planejadas e executadas nos bairros de parceiros políticos. Essa troca faz com que aconteça um fetichismo político muito curioso em relação a deputados, vereadores, prefeitos, senadores ou até algum cargo político importante. Fala-se no interior: o “meu deputado” não vai deixar isso acontecer! Na verdade o deputado dessa pessoa é o mesmo deputado de várias pessoas, e todos querem ter um deputado, todos querem alimentar esse fetiche.


Ainda estamos longe do coronelismo de Victor Nunes Leal, mas algumas características nos confundem. O voto de cabresto, por exemplo, é uma realidade muito difícil de ser modificada em curto prazo. Neste caso, o grau de instrução das pessoas ainda é um problema. Assim, a importância das eleições é fluída para muitas pessoas do interior que vivem imersas na zona rural, onde sempre existe uma liderança que direciona votos, mobilizações e até recursos públicos. Outra proximidade com o coronelismo é o nepotismo, a criatividade para burlar a legalidade é tamanha que beira a insensatez, e continuam parentes sendo beneficiados com cargos públicos. O que mais se modificou foi a figura do coronel, que tem se metamorfoseado com o passar do tempo não se prendendo a apenas uma prática político-econômica.


Partindo-se desta breve análise temos uma estrutura política muito próxima do Brasil na época da Primeira República. O que preocupa é que essa Bahia arcaica é decisiva na eleição estadual. Qualquer que seja o candidato ao governo ou ao Senado deve estar familiarizado e articulado dentro deste contexto, e saber transitar com destreza neste sistema. A política carlista teve a hegemonia do interior do estado justamente por operacionalizar com sucesso a política clientelística. Hoje em dia, independentemente do partido político, todos que querem se eleger e governar têm obrigatoriamente que se sujeitar a esta política varejista. Não existe político algum que não negocie com cargos, ou com dinheiro, comida, facilidades, prestígio. A Burocracia Weberiana coloca a meritocracia numa posição de grande importância para o bom funcionamento da máquina pública. Todavia, o mérito fica comprometido assim como o serviço apresentado por muitos funcionários que entram por força de uma relação clientelística.


Mas, algo diferente tem acontecido nestas eleições. O PMDB domina o interior da Bahia em número de prefeituras e diretórios, porém o seu candidato não tem se saído muito bem nas pesquisas. O apoio deste partido foi fundamental para a eleição de Wagner, mas atualmente o PT baiano não conta mais com essa parceria. Analisando a situação com praticidade temos algumas questões para reflexão: Wagner está fazendo um ótimo governo ou o candidato Geddel não tem carisma suficiente? Ou ainda: a população teme perder os direitos sociais alcançados nesta gestão federal? Certamente Geddel tem articulação no interior e faz valer essa política clientelística, e o faz mais que qualquer outro candidato desta campanha pela capilaridade de seu partido. O fenômeno Lula tem derrubado a análise de vários especialistas, porque seu apoio ultrapassou os limites desta ortodoxa política de décadas, e fez Wagner ser soberano nas pesquisas de intenção de votos.


* Deomar Santos Pinto é sociólogo e articulista do blog Política Hoje

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