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“O problema do semiárido não é a seca, é a cerca”

6/01/2012

Os termos semiárido, sertão e caatinga estão de tal modo interligados que acabam gerando interseções conceituais. No site do Instituto Nacional do Semiárido (INSA), a região do semiárido é descrita como “cenário geográfico onde ocorrem as secas”, e abrange Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, além do Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais, e parte da região norte do Espírito Santo.

Também chamada “não tecnicamente” de sertão, a área tem regime de chuvas irregular (entre 400 e 800 milímetros anuais), seus solos são rasos e a vegetação é xerófila, resistente aos períodos de estiagem. A partir das condições de solo e água, a região é classificada em zonas: caatinga, seridó, carrasco e agreste, informa o INSA.

O etnoecólogo baiano Juracy Marques, coordenador do mestrado em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), explica de outra maneira: ele inclui na “zona semiárida brasileira” o estado do Maranhão, descarta o norte capixaba e a considera cenário do bioma caatinga, área que ocupa 70% do território nordestino (13% do país) e abriga 63% da sua população (18% da população nacional) — cerca de 28 milhões de pessoas.

Autor de diversos livros sobre a temática, Juracy esclarece que os termos são indissociáveis, frequentemente usados como sinônimos do mesmo espaço geográfico. Mesmo assim, explica que a palavra sertão, com origem no verbo latino ser/sero, que quer dizer ligar com fio, tecer, juntar, atar, engajar, encadear, definiria a área não cultivada, mais seca, com poucos recursos, afastada das cidades; semiárido seria o clima que predomina no sertão.

No site do INSA há a informação de que a caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro, que tem este nome graças a sua aparência durante a seca, quando as folhas caem e os troncos aparecem esbranquiçados. O termo, de origem tupi, significa mata branca, uma combinação dos elementos ca’a (floresta), tî (branco) e o sufixo ngá (que lembra).
Vítima do desenvolvimento

Naidison considera que o semiárido “é uma vítima secular desse processo de desenvolvimento”, que tem de um lado os grandes latifúndios e, de outro, parcelas minúsculas de terras para agricultores. Estudos científicos demonstram que o ideal é que cada criador de animais da região tivesse à disposição 200 hectares de terra. Hoje, as propriedades chegam a 4 hectares, quando muito.

“É um processo predatório, de extrema concentração de terra e de extrema concentração de miséria”, diz Naidison. Uma estratégia útil de manutenção do coronelismo, do poder político das mesmas famílias, dos mesmos grupos hegemônicos e econômicos, “que se servem da pobreza, da miséria das pessoas para enriquecer”.

Um modelo de desenvolvimento que se apoia no carro-pipa, nas frentes de trabalho. Desempregados no período das secas, os agricultores são recrutados para escavar açudes nas propriedades dos fazendeiros, que depois são cercados, impedindo as pessoas até de beber a água. “O problema do semiárido não é a seca; é a cerca, que cerca a terra e a água”.[...]

UPB

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