A derrubada violenta de João Goulart em 1964 foi antecedida, a exemplo do que se fez com Getúlio Vargas, dez anos antes, de uma campanha midiática encharcada de ódio e acusações de corrupção contra o seu governo e a sua pessoa.
A popularidade de Vargas revestiu o desenvolvimento brasileiro com travas de soberania e direitos sociais inaceitáveis pelo dinheiro local e forâneo.
A mesma e dupla intolerância colidia com a aprovação popular às reformas de base de Jango, constatada então por pesquisas do Ibope sonegadas à opinião pública pelos veículos de comunicação.
Nos dois casos, a caça à corrupção se transformaria na única marreta conservadora para a derrubada do governo popular..
Quis o destino que 49 anos depois do golpe de 64, quando a versão falsificada daquele período é desmentida pelo recente desagravo solene do Estado brasileiro a Jango, um novo ataque disfarçado
contra os mesmos objetivos se configure.
É pedagógico e inquietante.
As mesmas forças, os mesmos interesses, os mesmos veículos e o mesmo linguajar que levaram Vargas ao suicídio e violentaram a democracia em 64, agora se unem abertamente para golpear o esforço progressista de retomar a construção interrompida de um Brasil mais justo e soberano.
Contra Vargas, ergueram-se as manchetes do ‘mar de lama’.
Contra Jango, ‘o ouro de Moscou, ‘a República sindicalista’, ‘o naufrágio dos valores cristãos’, ‘falência do abastecimento’.
Nos dias que correm, ‘o mensalão’, ‘a companheirada’, o ‘intervencionismo estatal’, a ‘gastança’, o ‘abismo fiscal’, a implosão iminente da economia.
‘Se não for hoje, de amanhã o Brasil não passa’, reitera o necrológio diário do colunismo especializado em sepultar o interesse social na cova da república rentista.
Exacerbam-se os decibéis do jogral que não desafina nunca.
A purga redentora dos livres mercados é a única solução para uma economia envenenada pela criação de 20 milhões de empregos em 12 anos.
A prisão ‘exemplar’ dos ‘mensaleiros’ é o laxativo indispensável à assepsia de uma política cúmplice do voluntarismo econômico, como diz o grão tucano Fernando Henrique Cardoso, o FCH..
Não se releve aqui o ilícito cometido em um sistema eleitoral apodrecido pela hegemonia dos interesses que agora se avocam os savonarolas da moralidade pública.
Importa, todavia, enxergar além da neblina que subordina o principal ao secundário.
Carlos Alberto Brilhante Ustra-Torturador |
Em 54, em 64 e em 2014 o nome do jogo não é ética, como se constata da temperança das manchetes — e togas inflamadas — quando se trata da corrupção conservadora.
Exemplos terminais de credibilidade em ruína, como o da ‘Folha de São Paulo’, já se prestam ao estudo acadêmico de casos da manipulação informativa, em que o veículo deixa de ser referência para ser referido.
O que está em jogo é o comando do processo de desenvolvimento brasileiro.
O udenismo de 54 e 64 ao contrário de atenuar sua ganância e o entreguismo, foi coagido pela determinação das finanças globalizadas a radicalizar seu descompromisso com a sorte do desenvolvimento e o destino da sociedade brasileira. nisso que os burguêses saudosistas se apegam para sonharem com um golpe de estado. Pobres diabos carcomidos pela rigidez cerebral da senilidade.
Carta Maior -Saul Leblon
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