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Os saudosistas burgueses da ditadura militar

1/04/2014

A derrubada violenta de João Goulart em 1964 foi antecedida, a exemplo do que se fez com Getúlio Vargas, dez anos antes, de uma campanha midiática encharcada de ódio e acusações de corrupção contra o seu governo e a sua pessoa.

A popularidade de Vargas revestiu o desenvolvimento brasileiro com travas de soberania  e direitos sociais inaceitáveis pelo dinheiro local e forâneo.

A mesma e dupla intolerância colidia com a aprovação popular às reformas de base de Jango, constatada então por pesquisas do Ibope sonegadas à opinião pública pelos veículos de comunicação.
Nos dois casos, a caça à corrupção se transformaria na única marreta conservadora para a derrubada do governo popular..

Quis o destino que  49 anos depois do golpe de 64, quando a versão falsificada daquele período é desmentida pelo recente desagravo solene do Estado brasileiro a Jango, um novo ataque disfarçado
contra os mesmos objetivos se configure.

É pedagógico e inquietante.

As mesmas forças, os mesmos interesses, os mesmos veículos e o mesmo linguajar que levaram Vargas ao suicídio e violentaram a democracia em 64, agora se unem abertamente para golpear o esforço progressista de retomar a construção interrompida de um Brasil mais justo e soberano.

Contra Vargas, ergueram-se as manchetes do ‘mar de lama’.

Contra Jango, ‘o ouro de Moscou, ‘a República sindicalista’, ‘o naufrágio dos valores cristãos’, ‘falência do abastecimento’.

Nos dias que correm, ‘o mensalão’,  ‘a companheirada’, o  ‘intervencionismo estatal’, a ‘gastança’, o ‘abismo fiscal’, a implosão iminente da economia.
‘Se não for hoje, de amanhã o Brasil não passa’, reitera o necrológio diário do colunismo especializado em sepultar o interesse social na cova da república rentista.

Exacerbam-se  os decibéis do jogral que não desafina nunca.
A purga redentora dos livres mercados é a única solução para uma economia envenenada pela criação de 20 milhões de empregos em 12 anos.

A  prisão ‘exemplar’ dos ‘mensaleiros’ é o laxativo  indispensável à assepsia de uma política cúmplice do voluntarismo econômico, como diz o grão tucano Fernando Henrique Cardoso, o FCH..

Não se releve aqui o ilícito cometido em um sistema eleitoral apodrecido pela hegemonia dos interesses que agora se  avocam os savonarolas da moralidade pública.
O dinheiro privado que dá à campanha o seu fulgor publicitário é o mesmo que desidrata projetos, amesquinha governos, aleija lideranças  e desacredita o voto e a política.

Importa, todavia, enxergar além da neblina  que subordina o principal ao secundário.
Carlos Alberto Brilhante Ustra-Torturador

Em 54, em 64 e em 2014 o nome do jogo não é ética, como se constata da temperança  das manchetes — e togas inflamadas — quando se trata da corrupção conservadora.

Exemplos terminais de credibilidade em ruína, como o da ‘Folha de São Paulo’,  já se prestam  ao estudo acadêmico de casos da manipulação informativa, em que o veículo deixa de ser referência para ser referido.

O que está em jogo é o comando do processo de desenvolvimento brasileiro.

O udenismo  de 54 e 64 ao contrário de atenuar  sua ganância e o entreguismo, foi coagido  pela determinação das finanças globalizadas a radicalizar seu descompromisso com a sorte do desenvolvimento e o destino da sociedade brasileira. nisso que os burguêses  saudosistas  se apegam para sonharem com um golpe de estado. Pobres diabos carcomidos pela rigidez cerebral da senilidade.  

Carta Maior -Saul Leblon

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