Não
poderia ser mais revelador o jantar oferecido pelo relações públicas João Dória
a Aécio em sua casa em São Paulo.
Foi um
jantar do 1%, pelo 1% e para o 1%. Para a sentença se completar, só falta Aécio
obter 1% dos votos em outubro. No
caminho para isso ele está.
O que
chama a atenção é a desconexão entre o mundo reunido em torno de Aécio por
Dória, um ex-Cansei, e a realidade ululante das ruas.
Gosto
da palavra alemã zeitgeist (zaitegáiste), que significa o espírito do tempo. O
jantar era o oposto disso. O antizeitgeist.
Não
surpreende que o melhor relato do encontro esteja numa coluna social,
a de Mônica Bergamo do jornal A Folha de São Paulo. Aécio
prometeu a um dos empresários participantes não aumentar os impostos. (Para o
1%, naturalmente.)
Há um
consenso universal de que um dos dramas do mundo contemporâneo é a evasão de
impostos do 1%. Mas Aécio se compromete a facilitar ainda mais a vida fiscal da
plutocracia nacional. Ele
também disse que está disposto a tomar “medidas impopulares” desde a “primeira
hora” caso se eleja.

No
encontro, Fernando Henrique Cardoso, mais conhecido como FHC, foi, segundo Bergamo, intensamente aplaudido. Disse que
reformadores só são reconhecidos muito depois. É uma
forma de autoconsolo, aparentemente. FHC está dizendo para si mesmo que, se
hoje é vaiado fora dos círculos refrigerados, no futuro será reconhecido.
Teria
Thatcher dito para si mesma coisa parecida enquanto os ingleses se preparavam
para comemorar seu passamento com festas em praça pública?
Acho
que não. Ela era mais realista que FHC. E muito mais original. FHC,
basicamente, copiou o que Thatcher fez: privatizar, desregular e criar as
condições, como o tempo mostraria, para um brutal processo de concentração de
renda.
Com o
correr dos anos, o PSDB foi se transformando de Partido da Social Democracia
Brasileira para Partido da Capital Democracia Brasileira. O “social” no nome é apenas
uma tradição a resguardar.
Em sua
desconexão formidável com as ruas, FHC, Aécio, Serra e demais líderes tucanos
simplesmente ignoram o exemplo portentoso transmitido pelo Papa Francisco.
Francisco
reinventou um gigante esclerosado conectando-o com as ruas. O ponto central
disso foi identificar, claramente, a desigualdade social como o mal maior a
combater.
Para
fazer algo parecido, o PSDB teria que mudar seu discurso – o que é
relativamente simples – e sua prática, e aí as coisas realmente se complicam.
Você tem que falar com a gente simples do povo, com os favelados e os excluídos. Seus sapatos podem se sujar de barro nessa empreitada, e você pode ser obrigado a comer carne de terceira. Dificilmente você vai aparecer em colunas sociais, com programas assim.
Alguém imagina Aécio e FHC neste tipo de ação?
Mais
fácil continuar do jeito que está.
O único
problema é que o partido marcha, então, para uma magnífica obsolescência. Ou,
em linguagem mais popular, para o caixão.
(Diário do Centro do Mundo)
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