Mesmo tendo
muita curiosidade pelas ciências exatas, percorro a área de ciências humanas. È
nesta mixagem de letras e números que já tive até um livro de cabeceira: “O
homem que calculava” de Malba Tahan, o que me fez lembrar que em Xiquexique
tínhamos a sabatina ou “argumento” nas aulas de aritmética (também existia em
outras matérias escolares) que consistia em colocar os alunos em círculo para
serem bombardeados com questionamentos sobre multiplicação, divisão e soma.
As respostas
haveriam de ser rapidíssimas e se o aluno da vez, não dispusesse de língua
afiada ou não respondesse com exatidão e na velocidade da luz as torturantes
perguntas, estas iam sendo repassadas para o próximo da fila circular, até que
um pestinha acertava a pergunta “argumentada” para ser contemplado na premiação
de usar a régua ou a palmatória, distribuindo os temidos “bolos” nas trêmulas
mãos dos seus parvos coleguinhas, cuja dose variava de meia dúzia até algumas
dúzias, proporcionais à falta cometida e a depender do momento da sua
incidência.
Eram
considerados os ases da aritmética os bons alunos do lendário Mestre Chico,
dono de uma escola particular, que ganhou notoriedade em Xiquexique devido ao
seu método de ensino que, segundo os pais dos seus alunos, era “o caminho mais
curto para o saber” e muitos dos que foram alunos do célebre mestre, até hoje
dizem: “Ele sim, que era bom, ele batia bastante e a gente tinha que estudar e
aprender. Quem não estudava caia logo fora. Não agüentava. Ele batia e puxava
pela gente. A gente aprendia”.
Mestre Chico
utilizava uma bolinha de cera, presa a uma corda, com a qual ele descarregava
golpes na cabeça dos alunos desatenciosos; sistema punitivo muito receptivo e
aplaudido, à época, em Xiquexique, afora a bárbara punição de ficar ajoelhado
sobre grãos de milho durante determinado tempo, no tempo que as instalações de
muitas escolas supletivas eram acanhadas e deficientes, necessitando, em
algumas, que os alunos levassem as suas próprias cadeiras ou bancos, porque a
instituição não dispunha de mobiliário. Era nessas condições que os pais desses
alunos esforçavam-se para que os seus rebentos adquirissem, pelo menos,
conhecimentos elementares sobre leitura, escrita, numeração, noções de
história, geografia e ciências.
Embora
merecesse, devido as minhas traquinagens e desídias escolares, não fui aluno de
Mestre Chico, mas, mesmo assim, levei e dei muito bolo de palmatória durante as
sabatinas. O advogado Marivaldo Figueiredo está bem vivo aqui em Xiquexique
para não me deixar mentir.
NILSON MACHADO DE AZEVEDO
1 comentários:
Vcs sofreram mas aprenderam, devia continuar assim na porrada pra os caras tomar juizo e largarem de fumar berdoega em xique-xique..
14/2/15 13:38Postar um comentário
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