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O argumento da palmatória (republicação)

2/08/2015

 
Mesmo tendo muita curiosidade pelas ciências exatas, percorro a área de ciências humanas. È nesta mixagem de letras e números que já tive até um livro de cabeceira: “O homem que calculava” de Malba Tahan, o que me fez lembrar que em Xiquexique tínhamos a sabatina ou “argumento” nas aulas de aritmética (também existia em outras matérias escolares) que consistia em colocar os alunos em círculo para serem bombardeados com questionamentos sobre multiplicação, divisão e soma.
 
As respostas haveriam de ser rapidíssimas e se o aluno da vez, não dispusesse de língua afiada ou não respondesse com exatidão e na velocidade da luz as torturantes perguntas, estas iam sendo repassadas para o próximo da fila circular, até que um pestinha acertava a pergunta “argumentada” para ser contemplado na premiação de usar a régua ou a palmatória, distribuindo os temidos “bolos” nas trêmulas mãos dos seus parvos coleguinhas, cuja dose variava de meia dúzia até algumas dúzias, proporcionais à falta cometida e a depender do momento da sua incidência.
 
Eram considerados os ases da aritmética os bons alunos do lendário Mestre Chico, dono de uma escola particular, que ganhou notoriedade em Xiquexique devido ao seu método de ensino que, segundo os pais dos seus alunos, era “o caminho mais curto para o saber” e muitos dos que foram alunos do célebre mestre, até hoje dizem: “Ele sim, que era bom, ele batia bastante e a gente tinha que estudar e aprender. Quem não estudava caia logo fora. Não agüentava. Ele batia e puxava pela gente. A gente aprendia”.
 
Mestre Chico utilizava uma bolinha de cera, presa a uma corda, com a qual ele descarregava golpes na cabeça dos alunos desatenciosos; sistema punitivo muito receptivo e aplaudido, à época, em Xiquexique, afora a bárbara punição de ficar ajoelhado sobre grãos de milho durante determinado tempo, no tempo que as instalações de muitas escolas supletivas eram acanhadas e deficientes, necessitando, em algumas, que os alunos levassem as suas próprias cadeiras ou bancos, porque a instituição não dispunha de mobiliário. Era nessas condições que os pais desses alunos esforçavam-se para que os seus rebentos adquirissem, pelo menos, conhecimentos elementares sobre leitura, escrita, numeração, noções de história, geografia e ciências.
 
Embora merecesse, devido as minhas traquinagens e desídias escolares, não fui aluno de Mestre Chico, mas, mesmo assim, levei e dei muito bolo de palmatória durante as sabatinas. O advogado Marivaldo Figueiredo está bem vivo aqui em Xiquexique para não me deixar mentir.
 
NILSON MACHADO DE AZEVEDO
 

1 comentários:

Anônimo disse...

Vcs sofreram mas aprenderam, devia continuar assim na porrada pra os caras tomar juizo e largarem de fumar berdoega em xique-xique..

14/2/15 13:38

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