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Mudou o carnaval ou mudou XiqueXique?

2/16/2015


Reprisa na minha memória um carnaval de apenas três dias quando ao  ostentar pela Avenida J.J. Seabra, desfilei com  uma fantasia confeccionada pelo exclusivo e  inimitável alfaiate João Pacheco. A fantasia simbolizava um gavião de terno e gravata que pulava na folia à caça de andorinhas, odaliscas e colombinas.

O Abre Alas, com percussão de triunfante cadência, tinha no seu comando a batucada regida por Silvio Bandeira e  o sucesso ritmado  de  "Balancei a roseira/ a rosa caiu/ rosa tem espinhos/ rosa me traiu" ... representava um  samba muito em voga, incluído no repertório da popularíssima batucada de Silvio.

Os clubes sociais  Sete de Setembro e Operária, concorrentes, esmeravam-se na decoração momesca, ambos a disputar participação do inesquecível maestro e saxofonista Mário Rapadura, bem assim, do inconfundível Hermes que fazia do seu trombone o instrumento das marchinhas idílicas com inigualável competência, além de Pedro Cachaça, exímio baterista e do discreto Manoel Guerreiro, tocador de banjo.

O tríduo momesco  espalhava-se pela cidade até a dispersão no periférico cabaré de Lourenço, ao tempo em que as graciosas cabrochas da rua do Perau desfilavam com seu estandarte de coloridas lantejoulas e paetês, recebendo merecidos aplausos  do cordão dos marmanjos e dos velhos assanhados que caiam no ráli-gáli, sassaricando na esquina da rua Monsenhor Costa com a praça Dom Máximo e subindo a avenida J.J. Seabra.

O aguadeiro Bonitinho não precisava nem usar "máscara de careta", Galo Cego, vigia do hospital, Queném, Eremita, Marciano, Dionísia e outros vultos populares das ruas, também se esbaldavam no carnaval com as suas fantasias naturais do dia-a-dia,  sempre alvos de brincadeiras da indiscreta rapaziada do Momo.

Os entrudos, já em plena decadência, consistiam em jogar foliões na Ipueira, da rampa da praça Getúlio Vargas, permitido pelo  rio cheio no mês de fevereiro, havendo riscos de afogamentos, alguns etílicos, embora sem registros fatais, porquanto todos sabiam nadar e comer água indiscriminadamente.

Pelo sim pelo não, mudou o carnaval, mudou Xiquexique, mas não mudei eu, continuo na mesma festa, agora sacudindo o esqueleto no bloco dos Incutidos. 


Nilson Machado de Azevedo




                               

1 comentários:

Mineiro disse...

Quero agradecer a vcs de Xique-Xique, pois estou fazendo um trabalho pra minha faculdade de turismo aqui de BH, sobre cidades do rio são Francisco e o escritor Nilsom Machado de azevedo tá me ajudando.

14/2/15 14:55

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