Reprisa na minha memória um carnaval de
apenas três dias quando ao ostentar pela Avenida J.J. Seabra, desfilei com uma
fantasia confeccionada pelo exclusivo e inimitável alfaiate João Pacheco.
A fantasia simbolizava um gavião de terno e gravata que pulava na folia à caça
de andorinhas, odaliscas e colombinas.
Os clubes sociais Sete de Setembro e
Operária, concorrentes, esmeravam-se na decoração momesca, ambos a disputar
participação do inesquecível maestro e saxofonista Mário Rapadura, bem assim, do
inconfundível Hermes que fazia do seu trombone o instrumento das marchinhas
idílicas com inigualável competência, além de Pedro Cachaça, exímio baterista
e do discreto Manoel Guerreiro, tocador de banjo.
O tríduo momesco espalhava-se pela
cidade até a dispersão no periférico cabaré de Lourenço, ao tempo em que as
graciosas cabrochas da rua do Perau desfilavam com seu estandarte de coloridas
lantejoulas e paetês, recebendo merecidos aplausos do cordão dos
marmanjos e dos velhos assanhados que caiam no ráli-gáli, sassaricando na
esquina da rua Monsenhor Costa com a praça Dom Máximo e subindo a avenida J.J. Seabra.
O aguadeiro Bonitinho não precisava
nem usar "máscara de careta", Galo Cego, vigia do hospital, Queném,
Eremita, Marciano, Dionísia e outros vultos populares das ruas, também se
esbaldavam no carnaval com as suas fantasias naturais do dia-a-dia,
sempre alvos de brincadeiras da indiscreta rapaziada do Momo.
Os entrudos, já em plena decadência,
consistiam em jogar foliões na Ipueira, da rampa da praça Getúlio Vargas, permitido pelo
rio cheio no mês de fevereiro, havendo riscos de afogamentos, alguns etílicos,
embora sem registros fatais, porquanto todos sabiam nadar e comer água
indiscriminadamente.
Pelo sim pelo não, mudou o carnaval,
mudou Xiquexique, mas não mudei eu, continuo na mesma festa, agora sacudindo o esqueleto no
bloco dos Incutidos.
Nilson Machado de Azevedo
1 comentários:
Quero agradecer a vcs de Xique-Xique, pois estou fazendo um trabalho pra minha faculdade de turismo aqui de BH, sobre cidades do rio são Francisco e o escritor Nilsom Machado de azevedo tá me ajudando.
14/2/15 14:55Postar um comentário
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