Minha querida avó já dizia: "Mentira tem pernas curtas."
Esta sentença envolvia um certo sentido filosófico. Era como se o mentiroso fosse fácil de ser apanhado e, claro, ao sê-lo se cobriria de vergonha, de desonra. Isso naqueles tempos. Tempos em que os vocábulos correspondentes à honra, ética, dignidade, decoro, honestidade não eram vulgarizados em rotineiras notícias na imprensa e assemelhados.
Esta sentença envolvia um certo sentido filosófico. Era como se o mentiroso fosse fácil de ser apanhado e, claro, ao sê-lo se cobriria de vergonha, de desonra. Isso naqueles tempos. Tempos em que os vocábulos correspondentes à honra, ética, dignidade, decoro, honestidade não eram vulgarizados em rotineiras notícias na imprensa e assemelhados.
Quem possuía aquelas virtudes as preservava, não precisava ficar a apregoá-las ou esforçar-se para parecer que as tinha. Mas, os tempos mudaram muito. Aliás, em alguns aspectos do relacionamento humano, parece que voltamos ao tempo da barbárie.
Mas, sem tergiversar a linha que estampa o título deste texto, vamos nos ater ao tema da mentira.
Hoje, mais do que nunca, a mentira ganhou status, até enobreceu, porque desfila nos mais refinados ambientes, palanques e gabinetes de políticos inescrupulosos tendentes à corrupção, em todos os níveis ou patamares, desde a Câmara de Vereadores ao Senado. A mentira já nem liga se tem pernas curtas. Ela está tão desavergonhada, tão impudica, que, mesmo identificada, não se importa de sustentar um sorriso irônico e escarnecedor, troçando de seus desafetos.
Faz promessas ou juras que não pretende cumprir e até se traveste de verdade, audaciosa e descaradamente. Claro que ela se apoia na impunidade, muitas vezes. Hoje dir-se-ia que há dentro do país uma verdadeira nação da mentira. Ela criou realmente um poder paralelo, assim como está acontecendo, infelizmente, com a violência.
A força de persuasão de certas mentiras acaba por elidir qualquer possibilidade de a extirparem. Hoje em dia, é tal o seu poder de convicção, que alguns indivíduos ganham votos em face da enganação, da mentira. Mentir e mentir sempre, até as penúltimas consequências. Depois que as urnas são abertas e os votos apurados eles os derrotados inconformados mentem ainda mais, a manobrar a plebe boçal para incutir-lhe mais mentiras, agora, de forma temerária, com viés golpista.
A mentira tem ainda um lado mais cruel. É quando ela se alia à infâmia, à calúnia e à difamação. Quando se imputa a alguém, sem provas, um fato definido, seja como crime, seja como uma ação imoral, ou ilegal etc. Nestas circunstâncias a mentira é ainda mais desleal e traiçoeira. Algumas vezes se vale da confiança alheia para disseminar intriga ou ódio contra alguém ou alguns.
Relembrando minha avó, ela também costumava dizer que às vezes a cobra morre pelo próprio veneno. Contudo, digo eu, nem sempre isto acontece, pois a mentira, quando muito arraigada, costuma resistir e ressurgir sempre, pelo hábito. A sua peçonha a realimenta.
nilsonazevedo@globo.com
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