Milhares de brasileiros que estão hoje a desfrutar do feriado de 21 de Abril, celebrado em todo o país, talvez nem se lembrem quem foi Tiradentes e o que esse personagem histórico, homenageado nesta data, representou para o Brasil. A história de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, é contada em algumas escolas do ensino fundamental e é parte importante da formação do Estado Nacional. Mas a memória de muitos às vezes não ajuda a lembrar os fatos.
A Inconfidência ou Conjuração Mineira
foi uma conspiração feita por parte da oligarquia de Minas Gerais entre 1788 e
1789. Afundada em dívidas, sem condições de pagar os impostos e descontentes
com a reforma administrativa a ser promovida na Colônia Brasileira pela Coroa
Portuguesa, a elite mineira via na
independência uma solução.
Além da situação econômica, causada
entre outros fatores pela crise na exploração do ouro em Minas Gerais,
a influência das ideias da doutrina do Iluminismo e o exemplo da independência dos
Estados Unidos da América (1776) serviram como combustível para alimentar os
sentimentos de revolta. Para atrair a simpatia popular, o levante deveria
ocorrer quando o governo colonial aplicasse a derrama, qual seja, a cobrança dos impostos
em atraso.
Antes de tramar a insurreição contra
a coroa portuguesa, a oligarquia mineira passou anos tentando negociar com a
Corte uma solução econômica na administração da Província. Sem sucesso, arquitetaram então um levante separatista que, inspirado nos ideais do Iluminismo,
propunha a constituição de um estado republicano a partir de Minas Gerais.
(O
iluminismo foi um movimento global, ou seja, filosófico,
político, social, econômico e cultural, que defendia o uso da razão como o
melhor caminho para se alcançar a liberdade, a autonomia e a emancipação).
O levante previa a mobilização de tropas que estavam sob o
comando dos militares que aderiram à conspiração objetivando a tomada do governo da
província mineira e a imediata suspensão da
derrama que era realizada pelo governo português. (A
derrama era um novo imposto cobrado para complementar os débitos que os
mineradores acumulavam junto à Coroa Portuguesa).
Somando-se à traição ou a delação premiada
cometida por um dos inconfidentes, Joaquim
Silvério dos Reis, chegou-se à prisão de
todos os participantes.
Convém ressaltar, a titulo de ilustração, que a obtenção de excepcional lucro para Portugal vinha
através do quinto do que era extraído de ouro no Brasil. O
quinto nada mais era do que a retenção de 20% do ouro levado às Casas de Fundição que
pertenciam à Coroa Portuguesa. O nome do imposto (taxa cambial) ficou sendo
“quinto”, enquanto que a fundação de “Casas de Intendência” fiscalizava e controlava as
riquezas que saiam e entravam no Brasil Colonial.
Somente Tiradentes foi enforcado pela nobreza decadente de
Portugal
Joaquim José da Silva Xavier não foi senão o bode expiatório da conspiração e da elite mineira. “Na verdade,
o alferes da Guarda Nacional provavelmente nunca esteve plenamente a par dos
planos e objetivos mais amplos do movimento.” O que é natural acreditar. Ora, como
um simples alferes (o equivalente a segundo tenente, hoje) lideraria outros
inconfidentes que eram coronéis, brigadeiros, padres e desembargadores? Não lideraria.
Pobre, simples e sincero, dispondo de renda
mínima para ser eleitor, Tiradentes seria perfil adequado a bode expiatório e foi o único dos inconfidentes a ser condenado
e executado na forca por ordem do governo de D. Maria I, rainha de Portugal, sendo ele enforcado e esquartejado em praça pública, no
dia 21 de abril de 1792, visando inibir
qualquer novo levante contra a Coroa Portuguesa que dominava as terras, o povo
e as riquezas do Brasil.
Já os principais mentores da Inconfidência
Mineira, foram presos ou exilados na
África. Como o levante fracassou, Tiradentes se tornou
líder e mártir nacional a partir de 1889, ano da Proclamação da República e do
exílio da família imperial.
Caso tivesse dado certo o movimento
mineiro do final do Século XVIII, Joaquim José da Silva Xavier provavelmente
não ficaria com as glórias de herói nacional, conforme, aliás, comentou o
grande e imortal escritor Machado de Assis em crônica publicada no jornal
Gazeta de Notícias do dia 24 de abril de
1892, na comemoração dos cem anos dessa
tentativa de declaração de independência à época do reinado de Maria I, A
Rainha Louca de Portugal.
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