O Jornalista Ricardo Kotscho avalia que o golpismo tucano se enfraqueceu neste fim de semana, quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pisou no freio; "no extremo representado pelos aliados de Aécio no PSDB e nos partidos nanicos que o apoiam, a reboque dos 'movimentos de rua', a cada semana os Cunha Lima, Sampaio, Agripino Maia, Bolsonaro, Caiado, Roberto Freire e outros democratas da mesma estirpe encontram motivos diferentes e cada vez mais graves para derrubar a presidente e, se possível, acabar também com o seu partido", diz Kotscho; "Aécio agora não se peja de ficar ao lado dos abutres da democracia. Nesta cruzada das trevas, não terá a companhia de Fernando Henrique Cardoso"; leia a íntegra.
Aécio aliou-se aos abutres
"Como pode um partido pedir impeachment antes de ter um fato
concreto? Não pode".
Quem fez essa pergunta, e a respondeu em seguida, não foi nenhum
dirigente do PT nem algum jurista renomado. Foi, pasmem, porque é preciso ter cuidado com isso, o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso na palestra que fez neste domingo, no Fórum de
Comandatuba, no Litoral Sul da Bahia, em que o impeachment da presidente Dilma Rousseff foi o
principal assunto discutido entre os participantes do encontro, que reuniu
empresários e políticos.
Voz isolada de bom senso neste golpe sem quartel que está em
andamento, agora com o apoio do PSDB e de seu presidente, Aécio Neves, FHC foi
enfático na defesa da legalidade:
"Impeachment não pode ser tese. Ou houve razão objetiva ou não
houve razão objetiva. Quem diz se é objetiva ou não é a Justiça, a polícia, o
tribunal de contas. Os partidos não podem se antecipar a tudo isso, não faz
sentido. Você não pode fazê-lo fora das regras da democracia. Qualquer outra
coisa é precipitação".
Podemos ou não concordar com o ex-presidente, mas é fato incontestável
que ele tem tido a coragem de se manifestar quase diariamente, mesmo quando em
desacordo com seus seguidores, enquanto outros lideres políticos nacionais se
omitem no debate institucional neste momento grave vivido pela nossa jovem
democracia.
Em artigo publicado na mesma edição da Folha que reproduziu as falas de
FHC nesta segunda-feira, Aécio Neves foi na direção oposta:
"Nos últimos tempos a ideia de impeachment ganhou forte impulso na
sociedade (...) Nesse debate, em pontos extremos, de um lado está o PT tachando
de golpistas os que cobram providências. De outro, estão aqueles que veem no
impeachment um valor absoluto. Defendem a tese a priori e buscam no dia a dia
argumentos para sustenta-la".
De fato, no extremo representado pelos aliados de Aécio no PSDB e nos
partidos nanicos que o apoiam, a reboque dos "movimentos de rua", a
cada semana os Cunha Lima, Sampaio, Agripino Maia, Bolsonaro, Caiado, Roberto
Freire e outros democratas da mesma estirpe encontram motivos diferentes e cada
vez mais graves para derrubar a presidente e, se possível, acabar também com o
seu partido.
Isso não é nem novidade. Em 2006, durante a campanha de Lula pela
reeleição, no auge do processo do mensalão petista, Jorge
Bornhausen, então presidente do PFL, que depois virou DEM e agora
está ameaçado de extinção, já havia pregado:
"Vamos acabar com essa raça. Vamos nos livrar dessa raça por, pelo
menos, 30 anos", referindo-se aos afiliados do Partido do Trabalhadores que o derrotou nas urnas.
Lula foi reeleito, elegeu Dilma, que se reelegeu recentemente, e quem
acabou foi a carreira política de Bornhausen, que desapareceu do mapa antes do
seu partido buscar a fusão com o PTB para não morrer.
No último debate do segundo turno da eleição presidencial de outubro,
Aécio já havia incorporado o espírito de outros caçadores de marajás do passado
e do presente, ao proclamar:
"Para acabar com a corrupção, é preciso tirar o PT do poder".
Mais de 54 milhões de eleitores não concordaram com o presidenciável
tucano e deram a vitória a Dilma, mas o neto de Tancredo Neves, esperneia e não se
conforma até hoje.
Ao contrário do avô, que permaneceu fiel até o fim ao lado de Getúlio
Vargas, vítima de um golpe militar que o levou ao suicídio no Palácio do
Catete, para defender o presidente democraticamente eleito, Aécio agora
não se peja de ficar ao lado dos abutres da democracia. Nesta cruzada das
trevas.
Vida que segue.
A VOZ
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