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O chá da meia noite

4/15/2015



 
Dizem os mais velhos que no início do Século XX saiu um trem da Estação do Piranga em Juazeiro com destino a Salvador com muitos mendigos e doentes recolhidos em algumas cidades do Vale do São Francisco e embarcados no Vapor Jansen Melo e  daí seguiram  de trem  até à capital baiana. 

Diante da inexistência de hospitais em toda a região do São Francisco as autoridades municipais, prefeitos e delegados de polícia, colocavam em um vagão de trem da Viação Férrea Leste Brasileiro todos os indigentes, doentes crônicos e os enviavam para Salvador.


A chegada dos doentes se fazia por volta das 23 horas na Estação da Calçada em Salvador. Os doentes que vinham se socorrer dos serviços da Santa Casa de Misericórdia tinham os corpos malcheirosos, enrolados em trapos, minados pelas doenças e pelas intermináveis horas de viagem, sem conforto, sem ter o que comer ou beber, criaturas semimortas, algumas já nem podendo engolir, eram levadas para o saguão interno do hospital e ali  depositados.

O médico de plantão começava então uma revisão sumária desses moribundos e a irmã de caridade do serviço noturno, não tendo comida a oferecer porque o serviço já estava encerrado, providenciava um pouco de chá, o único alimento possível àquela hora. Estavam dados os primeiros cuidados, agora era só aguardar o amanhecer para ver os que ainda continuavam vivendo. Conta-se que, dada a situação precária daqueles infelizes, quase todos amanheciam mortos. 

Nascia assim a lenda do “chá da meia noite” que , na realidade, seria uma bebida altamente mortífera distribuída à meia-noite entre os doentes incuráveis, para que mais depressa conseguissem o descanso eterno, pela morte. Até hoje se tem como certo que essa eutanásia espúria era o meio empregado pelas autoridades médico-sanitárias para se livrar dos elementos que constituíam “peso morto” à sociedade  do Brasil republicano, embora esse costume maléfico tivesse origem no Brasil imperial do Século XIX.

O chá venenoso seria a morte induzida, praticada impunemente em muitos hospitais públicos do Brasil. Hoje, mata-se pacientemente  de outra forma.
 

A Voz 


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