Os Estados Unidos já se envolveram em inúmeras guerras ao redor do
mundo. A sua maior vitória, talvez, não foi nem militar, mas ideológica, com a
queda da União Soviética e o fim da Guerra Fria. Mesmo assim, também há várias
derrotas em seu currículo. No quesito militar, talvez a mais vergonhosa foi
contra o pequeno e pobre Vietnã. E, ontem, encerrou-se uma longa guerra militar
e ideológica contra mais um pequeno e pobre país, desta vez no Caribe. Com o
anúncio da retomada das relações diplomáticas com Cuba, o presidente dos EUA,
Barack Obama, admite o óbvio: apesar de todos os esforços e da tentativa de
isolamento do regime dos irmãos Castro, nada funcionou, e Cuba prevaleceu. O
pequeno David venceu, mais uma vez, o gigante Golias.
Talvez não fique claro de imediato porque isso simboliza uma derrota
americana. Mas um passeio rápido pela história explica. Apesar do que se pode
acreditar, a Revolução Cubana começou nacionalista, e não socialista. Tornou-se
socialista, uma vez no poder, por conveniência. Contrariando os interesses
americanos na ilha ao retirar do poder Fulgencio Batista, aliado dos EUA,
restou a Fidel Castro a opção de se alinhar ao bloco socialista para, entre
outras razões, obter certa ajuda e proteção da União Soviética. A partir de
então, foram inúmeras as tentativas americanas de derrubar o regime castrista,
desde a fracassada invasão militar na Baía dos Porcos, até as repetidas
tentativas de assassinato de Fidel, por envenenamento, explosão, etc. Se um
gato tem 7 vidas, Fidel Castro tem 700.
A iniciativa mais duradoura, no entanto, visando a derrubada do regime
cubano, foi o embargo econômico à ilha. Se não era possível derrotá-la militar
nem politicamente, restava então sufocar a economia do país até que ele entrasse
em colapso por si só. O governo americano acreditou que, submetendo o país a um
isolamento que impedisse seu desenvolvimento econômico, a população cubana
iria, eventualmente, se revoltar contra o regime e derrubar os irmãos Castro do
poder. Entretanto, não foi o que ocorreu.
Diferentemente do que uma direita raivosa pode acreditar (e sem querer
apoiar aqui o regime castrista), a repressão em Cuba foi muito menor e
diferente do que no totalitarismo stalinista. Enquanto a União Soviética
existia, o país ainda viveu uma certa prosperidade, embora dependente do regime
soviético. Com a queda do bloco socialista na Europa, a ilha caribenha amargou
o isolamento e sérias dificuldades econômicas. Ainda assim, ostentando índices
sociais surpreendentes, apesar dos problemas econômicos, o regime cubano
sobreviveu sem tantos percalços políticos, mesmo com a saída de Fidel para a
entrada de seu irmão, Raul Castro, no poder.
O mais relevante da história toda, contudo, é a inexistência de ameaça
que Cuba apresentava aos EUA ou à região depois do fim da Guerra Fria. Enquanto
aliado da União Soviética, ainda se podia dizer que o país representava um
perigo, como na Crise dos Mísseis de 1962, quando o mundo chegou mais perto de
uma guerra nuclear do que se imagina. Porém, após a queda do bloco socialista,
o único interesse de Cuba era sobreviver e prosperar. Sendo assim, o embargo
econômico imposto pelos EUA servia apenas para insistir na derrota do velho
inimigo, mesmo que por orgulho. Como esta derrota não veio, e já se passaram
mais de 20 anos desde a queda da União Soviética, o embargo se tornou
anacrônico, uma relíquia da Guerra Fria que se mantém apenas para não admitir o
seu fracasso.
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De resto, palmas
para o presidente Barack Obama, que teve a coragem de admitir que a situação
não era mais sustentável do jeito que estava, e para o Papa Francisco, que se
revelou um importante mediador entre os dois países, retomando um papel de
protagonismo do Vaticano na política internacional. Ambos serão chamados de
comunistas pelos comentaristas raivosos, é claro, mas não se pode exigir
racionalidade a essa gente. E, no fim, o Brasil mostra que estava certo o tempo
todo em financiar o porto cubano em Mariel, apesar das críticas. O pragmatismo
da diplomacia brasileira mostrou-se, mais uma vez, à frente do seu tempo, muito
além de questões ideológicas, como alguns, infelizmente, insistem em afirmar.
Ganham todos; perde quem ainda acredita estar na Guerra Fria.
Com informações do GRAMMA
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