Fernando Altenfelder Filho partiu de São Paulo em 18 de janeiro de 1952,
para desenvolver um trabalho de pesquisa
e conhecer as comunidades ribeirinhas do São Francisco. Alcançou a cidade
de Pirapora no dia 21 daquele mesmo mês e ano. A bordo do vapor Djalma Dutra
desceu o Velho Chico, desembarcando em
Xique-Xique em 29 de janeiro.
Em Xique-Xique permaneceu até o dia
18 de junho de 1952, tendo realizado um formidável trabalho de cunho antropológico que resultou no livro “Xique-Xique e Marrecas”, editado em 1961 pela Comissão do
Vale do São Francisco.
Impressionei-me lendo esse Livro pela originalidade e
seriedade da pesquisa garimpada por Altenfelder Filho que dissecou as raízes
históricas de Xique-Xique, ao abordar o cotidiano do nosso município, a sua
estrutura política, social e econômica do limiar dos anos 50 do século passado.
Nas famílias antigas predominavam os
pescadores distinguindo-se, entre eles, a família do pescador Manoel
Por Baixo, a quem tive a oportunidade de
conhecer.
Na classe, digamos “dominante”, que controlava
politicamente o município, destacavam-se as famílias Xavier Guimarães, Moreira
Bastos, Sousa Nogueira, Figueiredo Bastos,
Bessa, Soares, Morais, Peregrino de Sousa, Marinho Carvalho, Miranda,
Teixeira, Sampaio e Gomes Barreto.
A estrutura política pesquisada pelo
professor Altenfelder, parece insistir
no tempo.
Nos primórdios do Século XX as lutas políticas dividiram Xique-Xique
em dois grupos opostos liderados pelos “Bundões” e “Marrões” os quais resolviam suas pendências por meio de lutas
armadas, porquanto as eleições eram meramente simbólicas, pois, não raro, o
partido derrotado não aceitava perder, recorrendo às armas para tentar anular
as eleições à base de tiro. Anulavam e tomavam o poder.
O partido político apelidado de “Bundões”
foi imortalizado no ABC do São Francisco: Xique-Xique, para os remeiros cantadores, era dos "Bundões”. Qual seja: "Xique-Xique dos Bundões".
Desenvolviam-se as eleições com o uso
exagerado do clientelismo, do populismo e do compadrismo, havendo ligação
direta dos candidatos com o seu eleitorado, exigindo-se, ao menos na época das
eleições, uma visita pessoal ao eleitor
que ficava satisfeitíssimo com a visita, ao ponto de um declarar: "Aqui todos
votam com X. Porque ele é um homem sem bondade! Chega, abraça todo mundo, toma
um café, paga umas bebidas e vai dizendo logo: “Eu não vim pedir voto, porque
eu sei que vocês votam comigo!”
Havia, no entanto, desencantamento da
parte de alguns que não enxergavam motivo ou objetivo de dar o seu voto: “Eu
não voto. Aqui em casa não dão nada pra se votar. Nem óculos. Nem sapato. Nem
tijolo. Nem camisa. Por isso não voto”. Durante a eleição, diz Altenfelder,
esse informante costumava fugir para a caatinga.
Parece-me que as “fenomenologias” políticas em Xique-Xique mudaram até certo
ponto. O eleitorado, apesar das paixões que ainda perduram, obtiveram mais
informações por intermédio da mídia globalizada. Há mais cobranças de
resultados, quer na zona rural ou na urbana.
Embora tênue, há mais fiscalização
dos gastos públicos.
O analfabetismo diminuiu no
município, mas a sua erradicação deixa muito a desejar.
Não há em Xique-Xique a miséria absoluta,
embora os bolsões de pobreza ainda são vistos a olhos nus, aliás, invariáveis no
sertão nordestino sem grandes indústrias geradoras de emprego.
Convém lembrar que o trabalho materializado
no Livro “Xique-Xique e Marrecas” foi realizado há 60 anos, na década de 50.
O espaço aqui é exíguo para o tema.
Entretanto, prometo voltar ao assunto.
Nilson Machado de Azevedo
1 comentários:
Além de bundões aí em Xique-Xique tem muito bunda mole.
8/10/15 09:42Postar um comentário
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